Programa - Comunicação Coordenada - CC3.7 - Violencia na infancia e adolescencia
27 DE NOVEMBRO | QUARTA-FEIRA
09:40 - 11:00
FATORES DE RISCO PARA VITIMIZAÇÃO INFANTIL E POLIVITIMIZAÇÃO EM UMA COORTE POPULACIONAL
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Buffarini R1, Coll CVN1, Degli Esposti M1, Murray J1
1 Centro de Pesquisa em Desenvolvimento Humano e Violência, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Brasil
Objetivo: Estimar a prevalência de vitimização infantil e polyvitimização, e examinar fatores de risco em uma coorte de base populacional.
Métodos: A vitimização infantil desde o nascimento até os 4 anos de idade foi relatada pela mãe, utilizando o Questionário de Vitimização Juvenil, 2ª edição, Versão de Triagem. Foram avaliados cinco tipos de vitimizações (crime convencional, maus-tratos infantis, vitimização por pares/irmãos, vitimização sexual e testemunho/vitimização indireta) e polivitimização. Com base em um modelo socioecológico, doze possíveis fatores de risco foram examinados em quatro níveis: bairro, materno-familiar, parental e criança.
Resultados: O crime convencional e a vitimização por pares/irmãos foram os tipos mais prevalentes de vitimização (~46,0%), seguidos por testemunho/vitimização indireta (27,0%) e maus-tratos infantis (11,3%). A vitimização sexual teve a menor prevalência (1,4%). Uma em cada 10 crianças experimentou seis ou mais tipos de vitimização (polyvitimização). Em geral, os meninos tiveram taxas de vitimização mais altas do que as meninas. Houve poucos fatores de risco relacionados apenas a tipos específicos de vitimização, a maioria dos fatores de risco foi compartilhada entre quase todos os tipos de vitimização e polivitimização (violência no bairro e baixa coesão social, experiências adversas na infância materna, comportamento antissocial parental, violência íntima contra as mães e depressão materna)
Conclusões: Nossos achados revelam um padrão geral de risco em múltiplos níveis socioecológicos para diferentes tipos de vitimização e polivitimização, ao invés de perfis de risco únicos. Programas de prevenção e intervenções de abrangência populacional devem considerar a priorização de múltiplos fatores de risco durante a primeira infância.
PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À VITIMIZAÇÃO POR BULLYING ENTRE ADOLESCENTES BRASILEIROS
Comunicação coordenada (apresentação oral)
Prates, E. J. S.1, Souza, J. B. de1, Silva, I. C. V.1, Mello, F. C. M. de2, Silva, M. A. I.2, Malta, D. C.1
1 UFMG
2 EERP/USP
Objetivos: Analisar a prevalência, os motivos e os fatores associados à sofrer bullying em escolares brasileiros de 13 a 17 anos. Métodos: Estudo transversal e analítico que utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019. O desfecho avaliado foi o relato de ter sofrido bullying. As prevalências foram estimadas, juntamente com intervalos de confiança de 95% (IC95%), e as razões de prevalência brutas e ajustadas (RBaj) foram calculadas, investigando a associação entre o desfecho e as covariáveis. A análise bivariada foi seguida pela multivariada, utilizando regressão de Poisson. No modelo final, incluíram-se apenas as variáveis com p≤0,01. Resultados: Dos 125.123 participantes, 23,1% (IC95%: 22,6-23,7) relataram ter sofrido bullying. Os principais motivos foram a aparência corporal (16,7%; IC95%: 15,9-17,4) e facial (11,4%; IC95%: 10,9-12,2), além de não terem sido identificados outros motivos (61,7%; IC95%: 60,7-62,7). Associaram-se positivamente ao desfecho: sentir-se solitário (RPaj = 1,60 IC95%: 1,51-1,69), triste (RPaj = 1,61 IC95%: 1,50-1,72), acreditar que a vida não vale a pena (RPaj = 1,39 IC95%: 1,33-1,45), não ter amigos (RPaj = 1,21 IC95%: 1,11- 1,31), sofrer violência familiar (RPaj = 1,39 IC95%: 1,33-1,45), faltar às aulas (RPaj = 1,08 IC95%: 1,03-1,14), consumir tabaco (RPaj = 1,05 IC95%: 1,05- 1,15). Conclusões: Um em cada quatro escolares refere ter sofrido bullying em 2019, tendo como motivos mais apontados a aparência corporal e do rosto, associando-se com determinantes individuais e contextuais.
ANÁLISE DA TENDÊNCIA DE MORTALIDADE POR HOMICÍDIOS ENTRE ADOLESCENTES DE BELO HORIZONTE
Comunicação coordenada (apresentação oral)
FERNANDES, L. A. F.1, FERREIRA, A. D.1, SILVA, U. M.1, MARINHO, R. B. D. M.1, SALLES-DIAS, M. A.1, LIMA, F. A. F.1, CAIAFFA, W. T.1, MACHADO, E. L.1
1 Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Objetivo: Descrever e analisar a tendência temporal das taxas de mortalidade por homicídios de adolescentes residentes em Belo Horizonte/MG. Métodos: Estudo ecológico dos homicídios entre adolescentes de 10 a 19 anos, de 2002 a 2020, segundo local de residência (vilas/favelas ou cidade formal). Foram utilizados dados do Projeto BH-Viva que contém dados georreferenciados do Sistema de Informação sobre Mortalidade. Os homicídios foram definidos pelos códigos X85 a Y09 da CID-10. Realizou-se análise descritiva das taxas de mortalidade por local de residência, faixa etária (10 a 14 e 15 a 19 anos) e ano. A associação destas variáveis com as taxas de homicídios foi estimada com modelos de regressão Binomial Negativa log-linear, a um nível de significância de 5%. Resultados: Entre 2002 e 2020, foram registrados 2.073 homicídios de adolescentes. Adolescentes de 15 a 19 anos apresentaram maior risco de morte comparados aos de 10 a 14 anos (RR=14,18; IC95%=11,48–17,51), especialmente em vilas e favelas (RR=3,11; IC95%=2,64–3,67). Houve uma queda mais acentuada dessas taxas ao longo do tempo em vilas e favelas (RR=0,92; IC95%=0,89–0,94) comparado à cidade formal (RR=0,95; IC95%=0,94–0,97). Conclusão: O risco de homicídios é significativamente maior entre adolescentes residentes em áreas de maior vulnerabilidade. As ações voltadas para essas áreas da cidade parecem contribuir para a redução desse risco, mas ainda persistindo as diferenças desiguais, injustas e evitáveis. É essencial avaliar os impactos sociais e de saúde de ações, como do Programa Vila Viva, para nortear intervenções efetivas que reduzam as iniquidades intraurbanas evidenciadas.