Programa - Pôster Eletrônico - PE08 - Decolonialidade em Saúde, Interseccionalidades, Racismos e Branquitude
POLÍTICAS DE EQUIDADE DE GÊNERO E RAÇA NO AMBIENTE HOSPITALAR: IMPACTOS NA SEGURANÇA PSICOLÓGICA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Pôster Eletrônico
1 Hospital do Subúrbio
Apresentação/Introdução
A segurança psicológica é fundamental para ambientes hospitalares saudáveis, favorecendo o bem-estar e desempenho das equipes. Políticas de equidade de gênero e raça influenciam esse cenário, promovendo inclusão e respeito à diversidade. Este estudo analisa os impactos dessas políticas na segurança psicológica de profissionais de saúde.
Objetivos
Analisar como políticas de equidade de gênero e raça no ambiente hospitalar influenciam a segurança psicológica dos profissionais de saúde, identificando desafios e implicações para a gestão do trabalho e promoção de ambientes inclusivos.
Metodologia
Realizou-se revisão crítica de literatura com abordagem interseccional, consultando as bases PubMed, SciELO, LILACS, Scopus e Google Scholar. Os critérios de inclusão abrangeram artigos publicados entre 2020 e 2025, em inglês ou português, disponíveis na íntegra, que abordassem políticas de equidade de gênero e/ou raça no ambiente hospitalar e suas relações com a segurança psicológica dos profissionais. Excluíram-se estudos sem foco direto no contexto hospitalar ou centrados exclusivamente em pacientes. A análise considerou aspectos metodológicos, teóricos e as lacunas apontadas nos estudos selecionados.
Resultados
A revisão indicou que políticas de equidade de gênero e raça contribuem para o aumento da segurança psicológica em ambientes hospitalares, promovendo colaboração, confiança e satisfação entre equipes. Estudos ressaltam que ambientes inclusivos impactam positivamente a saúde mental e a produtividade dos profissionais. No entanto, a implementação dessas políticas enfrenta barreiras, como resistência institucional, ausência de formação adequada para gestores e a persistência de estereótipos. Destaca-se a necessidade de programas educacionais contínuos e de mecanismos eficazes para promover a equidade e a segurança psicológica.
Conclusões/Considerações
Políticas de equidade de gênero e raça são fundamentais para assegurar a segurança psicológica dos profissionais de saúde em hospitais. Ambientes inclusivos fortalecem o bem-estar e contribuem para a qualidade do cuidado. Gestores e instituições devem priorizar a implementação e o fortalecimento dessas políticas, por meio de formações continuadas e estratégias eficazes, garantindo ambientes de trabalho seguros, equitativos e acolhedores.
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DE FAMILIARES DE PESSOAS COM CÂNCER: INTERSEÇÕES ENTRE GÊNERO, RAÇA E DESIGUALDADES SOCIAIS NA EXPERIÊNCIA DO CUIDADO
Pôster Eletrônico
1 UEFS
2 UFRB
Apresentação/Introdução
O cuidado de pessoas com câncer recai majoritariamente sobre mulheres, sobretudo negras e de baixa renda, refletindo a divisão sexual e racial do trabalho do cuidado. Gênero, raça e classe estruturam desigualdades que atravessam o adoecimento, impactam dinâmicas familiares e geram sobrecarga física, emocional e econômica, aprofundando iniquidades em contextos de vulnerabilidade social.
Objetivos
Analisar como gênero, raça e classe configuram o perfil sociodemográfico de familiares de pessoas em tratamento oncológico e moldam suas experiências de cuidado, considerando as interseccionalidades envolvidas.
Metodologia
Estudo transversal, de natureza quantitativa, realizado com 202 familiares de pacientes em tratamento oncológico em uma unidade de alta complexidade em oncologia no interior da Bahia, entre setembro de 2022 e agosto de 2023. A coleta de dados foi realizada por meio de questionário estruturado, abordando variáveis sociodemográficas, econômicas e familiares. A análise contemplou estatística descritiva e foi ancorada nos referenciais teóricos da Saúde Coletiva e dos Estudos de Gênero e Interseccionalidade.
Resultados
A maioria dos familiares eram mulheres (81, 2%), pardas (52,5%) ou pretas (38,1%), com idade média de 40 anos, e filhas dos pacientes (55%). Observou-se elevado nível de escolaridade (51, 5% com ensino superior), mas com predomínio de renda entre 1 a 3 salários mínimos (61, 9%) e insatisfação com essa condição (68, 3%). Mais da metade residia com a pessoa em tratamento (52, 2%). A divisão sexual do trabalho do cuidado foi evidente, refletindo desigualdades de gênero. Além disso, os impactos econômicos, emocionais e sociais recaem desproporcionalmente sobre as mulheres negras, reforçando dinâmicas históricas de opressão interseccional.
Conclusões/Considerações
O perfil dos familiares evidencia que o cuidado em saúde é marcado por gênero, raça e classe, com sobrecarga recaindo sobre mulheres negras e de baixa renda. Nesse sentido,o estudo oferece subsídio aos profissionais a reconhecerem essas desigualdades, qualificando práticas sensíveis às intersecções. Além disso, contribui para políticas públicas em oncologia que promovam suporte psicossocial, econômico e cuidado integral às famílias
ENTRE RAÇA, GÊNERO E CORPO: A (IN)SATISFAÇÃO CORPORAL DE UNIVERSITÁRIOS NEGROS
Pôster Eletrônico
1 Universidade de São Paulo - USP
2 Centro Universitário Adventista de São Paulo - UNASP
Apresentação/Introdução
A imagem corporal é construída socialmente e influenciada por padrões estéticos que operam junto a marcadores sociais como raça e gênero. Este estudo parte da interseccionalidade para compreender como estudantes universitários negros vivenciam sua satisfação corporal em um contexto atravessado pelo racismo.
Objetivos
O objetivo do estudo foi analisar a satisfação corporal de estudantes universitários negros.
Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, de abordagem quantitativa, realizado com 552 estudantes universitários negros da Zona Sul de São Paulo, de ambos os sexos e com 18 anos ou mais. Os participantes estavam regularmente matriculados em cursos de graduação da instituição. A coleta de dados utilizou o Body Shape Questionnaire (BSQ) e a Escala de Silhuetas de Stunkard. Os dados foram analisados estatisticamente e interpretados à luz de um referencial teórico sobre opressão racial, considerando os efeitos do racismo estrutural e simbólico na percepção e satisfação corporal.
Resultados
O estudo com 552 universitários negros revelou que 35,2% apresentaram insatisfação corporal segundo o BSQ, sendo maior entre as mulheres. Pela Escala de Silhuetas, 72,9% desejaram mudar a própria silhueta, sobretudo para reduzi-la. A insatisfação se relacionou a sentimentos de vergonha, medo de engordar e comparação com outros corpos. Houve ainda associação com autocobrança, preocupação excessiva com a forma física e dietas motivadas por insatisfação corporal.
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam que a insatisfação corporal entre universitários negros é significativa e atravessada por marcadores sociais, como gênero e raça. Isso reforça a importância de considerar a interseccionalidade nas discussões sobre imagem corporal e saúde mental no ambiente acadêmico.
A INTERSECÇÃO DE RAÇA, SEXO E ESCOLARIDADE MATERNA E A ASSOCIAÇÃO COM COMPORTAMENTO SEDENTÁRIO E INATIVIDADE FÍSICA: DADOS DA PESQUISA NACIONAL DE SAÚDE DO ESCOLAR, 2019
Pôster Eletrônico
1 UFRN
Apresentação/Introdução
A teoria da interseccionalidade é uma ferramenta analítica para abordar a interação entre múltiplas formas de opressão sobre a inatividade física (IAF) e o comportamento sedentário (CS). Esses que são constructos do movimento corporal preditores de perfil sedentário, que é reconhecidamente prejudicial à saúde e tem relações sociais intrinsicamente envolvidas como sexismo, racismo e classismo.
Objetivos
investigar as intersecções de gênero, raça e escolaridade materna de adolescentes brasileiros e suas associações com a prevalência dos perfis de adolescentes em inatividade física e com alto comportamento sedentário.
Metodologia
Estudo transversal com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE), 2019. Variáveis independentes criadas pela intersecção entre homem (H) ou mulher (M), raça branca (B) ou negra (N) e mãe com (MCES) ou sem (MSES) ensino superior completo, agrupadas em: HB+MSES, HN+MSES, MB+MSES, MN+MSES, HB+MCES, HN+MCES, MB+MCES, MN+MCES. As variáveis dependentes (IAF↑TV ou IAF↑TT) foi composta pelo grupo em IAF (que não atinge 420 minutos semanais de atividade física acumulada) associado ao tempo diário de TV (2h) ou tela (3h), ponto de corte para excesso proposto pela PENSE. Realizaram-se análises com amostragem complexa e cálculo da razão de prevalência (RP) com IC95%, via Stata 14.0.
Resultados
Foram avaliados 76.216 adolescentes, 51,3% mulheres e 63% entre 13 e 15 anos. HN e MN+MSES somam 47,6% da amostra. Com MN+MSES como referência: em relação a IAF↑TV, todas as categorias apresentaram RP<1. HB+MCES tiveram RP=0,57 (IC95% 0,51-0,63), MN+MCES apresentaram RP=0,67(IC95% 0,59-0,76) e as MB com MCES e MSES apresentam RP=0,71 (IC95% 0,64-0,78) e RP=0,71(IC95% 0,66-0,77) — todos com p<0,001. Para IAF↑TT, todas as categorias de mulher apresentaram RP>1 (p<0,05), com destaque para MB+MCES RP=1,17(IC95%1,11-1,23) e MB+MSES RP=1,12(IC95% 1,06-1,20). O HN+MSES e o HN+MCES apresentam respectivamente RP=0,77(IC95%0,72-0,81) e RPRP=0,80(IC95%0,71-0,90).Não houve diferença para HB+MCES.
Conclusões/Considerações
Os resultados evidenciam que em relação IAF associado a TV, as mulheres, a etnia negra e mães com menos escolaridade apresentam maior prevalência sedentarismo. Já a IAF associada ao TT, mostra que mulheres brancas independente da escolaridade materna e negras com maior escolaridade materna apresentam maior sedentarismo e homens negros independente da escolaridade materna apresentam menor sedentarismo.
INTERSECCIONALIDADE RAÇA-CLASSE NA MORTALIDADE POR GRAVIDEZ QUE TERMINA EM ABORTO NO PARÁ (2011-2023)
Pôster Eletrônico
1 UFPA
2 UEPA
Apresentação/Introdução
A mortalidade por aborto no Pará exige análises epidemiológicas que capturem imbricações de desigualdades interseccionais, onde raça e classe se articulam produzindo vulnerabilidades específicas. Nosso estudo, ancorado nesta perspectiva, investiga como a interseccionalidade raça-classe determina a evitabilidade desses óbitos.
Objetivos
Analisar associação interseccional entre raça/cor e escolaridade na evitabilidade de óbitos por aborto no Pará (2011-2023), testando se efeitos combinados diferem de efeitos isolados.
Metodologia
Estudo transversal com abordagem interseccional analisando óbitos por aborto no Pará (2011-2023). De 100 casos, foram incluídos na amostra os 72 casos com informações não ignoradas no Sistema de Informações de Mortalidade. Variável Dependente: evitabilidade do óbito por gravidez que termina em aborto (alta/baixa); variáveis independentes: raça/cor (negra/branca), escolaridade (≤7anos=baixa/≥8anos=média-alta) e ciclo reprodutivo. Análise estatística com teste exato de Fisher (raça, escolaridade e interseção), regressão logística comparando modelo principal vs. interação raça×escolaridade, estratificação por raça. Avaliação de significância (p<0,05) via AIC e teste razão de verossimilhança.
Resultados
Analisando 72 óbitos por aborto no Pará (2011-2023), 77,8% eram mulheres negras e 43,1% possuíam baixa escolaridade (≤7 anos). A abordagem interseccional revelou que brancas com baixa escolaridade tiveram 71,4% de alta evitabilidade versus 16,7% entre negras na mesma condição. Análises isoladas não foram significativas (raça p=0,159; escolaridade p=0,145) e a interação raça-classe mostrou significância (p=0,017). O modelo logístico com interação apresentou melhor ajuste (ΔAIC=2,6; p=0,032), com OR=0,072 (IC95%:0,005-0,796), indicando que entre mulheres negras, baixa escolaridade reduz em 92,8% (1-0,072) a chance de alta evitabilidade (p=0,012), efeito não observado em brancas (p=0,358).
Conclusões/Considerações
A interseccionalidade raça-classe estrutura a evitabilidade dos óbitos visto que mulheres negras com baixa escolaridade têm 92,8% menos chances de prevenção. Os resultados evidenciam como o racismo e a colonialidade operam na saúde reprodutiva amazônica, demandando sistemas de vigilância com indicadores interseccionais, políticas específicas para esta população e abordagens decoloniais na epidemiologia.
TERRITÓRIOS EM DISPUTA, EPISTEMOLOGIAS EM CONFLITO: A SAÚDE KALUNGA ENTRE O DITO E O SILENCIADO
Pôster Eletrônico
1 PUC-GO
Apresentação/Introdução
A produção acadêmica sobre a comunidade quilombola Kalunga cresceu nos últimos anos. A saúde mediada por saberes ancestrais e práticas tradicionais de cuidado é representada através de lentes eurocêntricas reproduzindo colonialidades do saber e do poder, perpetuando hierarquias raciais. Este estudo examina como a produção acadêmica sobre os Kalunga tem aborda questões interseccionais de saúde e branquitude.
Objetivos
Analisar como a produção acadêmica sobre saúde reproduz ou desafia colonialidades, identifica abordagens sobre racismo e branquitude, analisa interseccionalidade, o diálogo entre saberes e o protagonismo Kalunga na produção do conhecimento.
Metodologia
Análise de 147 trabalhos stricto sensu. Utilizamos metodologia mista com apoio de inteligência artificial, seguindo recomendações éticas e metodológicas. Na etapa quantitativa, aplicamos análise bibliométrica para mapear: perfil dos autores, características dos trabalhos e indicadores temáticos. Na etapa qualitativa, realizamos análise de conteúdo para examinar: concepções de saúde, abordagens epistemológicas, análise das relações raciais, perspectivas interseccionais, metodologias e representação Kalunga. O processo incluiu leitura integral, codificação temática e triangulação de dados.
Resultados
Predominância de perspectivas biomédicas e eurocêntricas. Apenas 8% dos trabalhos analisados têm autoria Kalunga, evidenciando assimetrias significativas na produção do conhecimento. Metodologias participativas são minoritárias, prevalecendo abordagens extrativistas que posicionam a comunidade como objeto de estudo. Tabalhos publicados após 2018 apresentam maior criticidade quanto ao racismo estrutural, institucional, saber situado e maior valorização de epistemologias tradicionais. Esta tendência é forte em trabalhos com coautoria Kalunga, com maior sensibilidade aos determinantes sociais da saúde e às especificidades culturais da comunidade.
Conclusões/Considerações
Urgência em promover de metodologias participativas e autorias de pesquisadores Kalunga. Recomenda-se: Políticas institucionais e Pol. Públicas que valorizem saberes não-hegemônicos e práticas tradicionais; Formação em metodologias decoloniais de pesquisa e cuidado em saúde; Favorecer intercâmbio e interação; Financiamento para pesquisas conduzidas por quilombolas; Contratação de trabalhadores da saúde e professores universitários quilombolas.
INTERSECCIONALIDADE DE GÊNERO E RAÇA/COR NA INSEGURANÇA ALIMENTAR: UM ESTUDO BRAZUCA-NATAL
Pôster Eletrônico
1 UFRN
Apresentação/Introdução
Atualmente no Brasil,os lares chefiados por mulheres negras estão entre os mais afetados pela insegurança alimentar, seja no nível leve, moderado ou grave. Entretanto, ainda são escassos os estudos em alimentação e nutrição que considerem o racismo e o sexismo como determinantes sociais fundamentais que condicionam o acesso regular e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficientes
Objetivos
Analisar a insegurança alimentar nos domicílios de uma capital do nordeste a partir de uma perspectiva interseccional, considerando as desigualdades de raça/cor e gênero.
Metodologia
Trata-se de uma análise transversal a partir da pesquisa de base populacional “Brazilian Usual Consumption Assessment – Brazuca Natal”, um estudo desenvolvido no município de Natal no Rio Grande do Norte, com 411 domicílios. Para avaliar a insegurança alimentar, utilizamos a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) e uma abordagem metodológica interseccional, combinando raça/cor e sexo biológico para formar os grupos: mulheres negras, homens negros, mulheres brancas e homens brancos. O grupo de pessoas negras inclui pretos e pardos, conforme a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Resultados
As análises revelaram que os lares chefiados por homens brancos apresentaram a menor prevalência de insegurança alimentar (6.55%), seguido pelos lares das mulheres brancas (21.48%), e dos homens negros (27.98%), já os lares chefiados por mulheres negras apresentaram a maior prevalência de insegurança alimentar (44.05%). A diferença entre a prevalência de Insegurança Alimentar entre os homens brancos e as mulheres negras foi de (37.5%) isso nos mostra como racismo e o sexismo criam desigualdades no acesso a recursos essenciais como a alimentação.
Conclusões/Considerações
A insegurança alimentar é um fenômeno global, e os seus impactos são desproporcionalmente maiores entre grupos historicamente marginalizados. Entre eles, as mulheres negras que têm seus direitos à alimentação adequada violados. Esse cenário nos mostra a importância de direcionar políticas interseccionais que considerem as desigualdades de gênero e raça, visando promover justiça alimentar e garantir o direito humano à alimentação.
O RACISMO INSTITUCIONAL NO MERCADO DE TRABALHO: A PERSPECTIVA DE ADOLESCENTES APRENDIZES EM CIDADE MINEIRA
Pôster Eletrônico
1 UFTM
Apresentação/Introdução
Introdução: O racismo estrutura relações desiguais na sociedade capitalista, e é observado nas instituições sociais, como as empresas. Como aprendizes nas empresas, em parceria com instituições educacionais, adolescentes negros/as experimentam o racismo institucional. A experiência que impacta a saúde mental dos/das mesmos, porém, são escassos estudos sobre essa relação na perspectiva dos/das aprendizes.
Objetivos
Objetivos: Analisar, na perspectiva de adolescentes aprendizes que frequentam uma instituição para formação ao mercado de trabalho em cidade mineira, o racismo e o racismo institucional e como influenciam no processo de Adolescer.
Metodologia
Metodologia: As ações de Extensão permitiram captar o tema do racismo nas empresas. Na modalidade de pesquisa, trata-se de estudo qualitativo realizada junto a uma instituição que atua na formação de adolescentes para ingresso no mercado de trabalho, em cidade no Triângulo Mineiro. Com o questionário sociodemográfico elaborou-se o perfil dos adolescentes. Adotou-se o grupo focal, na modalidade on line, gravado com 20 adolescentes e adotou-se um roteiro temático com 4 blocos temáticos; após a transcrição fez-se a análise de conteúdo na modalidade temática. As categorias foram analisadas à luz da perspectiva decolonial das relações de trabalho. Pesquisa aprovada pelo CEP com protocolo n.º 6.759.878.
Resultados
Resultados: O Grupo foi composto por 60% do sexo feminino; quanto a autodeclaração da cor da pele: 8,3% parda e 66,6% branca; com média de idade de 18,3 anos. E 40% do sexo masculino, sendo: 12,5% preta, 25% parda e 12,5% branca e com média de idade de 18,2. 30% não declararam cor da pele. Identificou-se as empresas: supermercados (2), indústria de fertilizantes (4), lojas de autopeças (1), complexo de diagnóstico em saúde (2), construção civil (9), logística e transporte (1), indústria de refrigerantes (1). Das narrativas emergiram 4 categorias, descritas conforme as Unidades de Registro e, em seguida, analisadas à luz de estudos decoloniais e racismo institucional.
Conclusões/Considerações
O racismo cotidiano produz mal-estar nos adolescentes. O institucional reitera o estrutural e manifesta-se nos cargos de poder ocupados por pessoas brancas com salários mais altos, que contrasta com a invisibilidade dos trabalhadores braçais, mormente negros/as. Expõe uma ambiguidade na relação com o trabalho: sucumbir ao racismo institucional ou seguir na formação profissional em busca de autonomia. O debate segue aberto à Saúde do Trabalhador.
DESIGUALDADES RACIAIS E SOCIOECONÔMICAS NA INCIDÊNCIA E MORTALIDADE POR COVID-19 NO ESTADO DE SÃO PAULO: UM ESTUDO ECOLÓGICO
Pôster Eletrônico
1 UFSCar
Apresentação/Introdução
A pandemia de Covid-19 destacou e aprofundou as desigualdades sociais e raciais no Brasil, afetando com maior gravidade a população negra que, historicamente, enfrenta as piores condições de vida. Contudo, ainda há lacunas na compreensão da relação entre indicadores como Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), renda e escolaridade, e mortalidade por Covid-19 na fase crítica da pandemia.
Objetivos
Analisar a distribuição dos casos e óbitos por Covid-19 na população negra e a relação com indicadores socioeconômicos no estado de São Paulo (SP).
Metodologia
Trata-se de um estudo ecológico conduzido entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2023, no estado de SP, utilizando a divisão do estado em 16 regiões administrativas (RA), adotada pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Os dados sobre casos e óbitos foram obtidos nas plataformas da SEADE e do portal OpenDataSUS, e os dados de IDH, renda e escolaridade foram extraídos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise incluiu estatística descritiva e cálculo do Índice de Moran Global Bivariado para verificar correlação espacial entre desfechos da Covid-19 e variáveis socioeconômicas, e identificar clusters espaciais significativos.
Resultados
Entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2023 foram registrados 1.367.870 casos e 44.049 óbitos por Covid-19 entre pessoas negras no estado de São Paulo. Na RA de Registro foi notificado o maior coeficiente de incidência e na RA de Santos, a maior mortalidade. Notou-se clusters Alto-Alto, ou seja, elevado IDH municipal, escolaridade e renda e alta incidência e mortalidade nas RAs de Campinas, Sorocaba, São Paulo e Santos. Clusters Baixo-Baixo foram observados nas RAs de Franca, Itapeva e Marília, sugerindo que os dados podem não refletir realidade epidemiológica mais favorável, mas sim escassez de testagem e subnotificação entre pretos, reflexo da invisibilização histórica da população negra.
Conclusões/Considerações
A população negra foi desproporcionalmente impactada pela Covid-19, inclusive em áreas com elevados indicadores socioeconômicos, evidenciando que o racismo estrutural exerce papel determinante nos desfechos em saúde e amplia desigualdades, independentemente das condições econômicas locais.
A IMANÊNCIA DA CORPOREIDADE COMO FORÇA, RESISTÊNCIA E NEGAÇÃO NO EXCESSO DE PESO E NA OBESIDADE EM MULHERES PARDAS E NEGRAS POBRES NO BRASIL
Pôster Eletrônico
1 Gerencia Regional de Brasilia da Fundação Oswaldo Cruz
Apresentação/Introdução
A condição humana é corporal, sensorial, afetiva, gestual, com movimentos de expressão na perspectiva existencial da vida iniciada desde o nascimento até a morte. É também experenciada por movimentos intencionais e subjetivos de habitus que representam a cultura na construção social do indivíduo e da coletividade de forma multidimensional em relação ao ambiente (como parte da natureza) e a cultura.
Objetivos
Compreender a fenomenologia do excesso de peso e da obesidade na biografia de mulheres pardas e negras para buscar a compreensão das relações dos processos saúde-doença-cuidado, pela assunção do conceito de corporeidade.
Metodologia
O desenho da pesquisa é realizado por meio da inspiração filosófica e fenomenológica e de autores como Michel Henry, Merlau-Ponty, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Marcel Mauss, Gadamer, pela construção de percursos e trajetórias biográficas que conjugam o tempo cronológico e fenomenológico-hermeutica de experiências vividas. A pesquisa utiliza dois bancos de dados públicos do CadÚnico e do SISVAN do ano base de 2015 , atualizado em 2024 com mulheres obesas(acima de 30,0 kg/m2 do IMC) do Brasil.
Resultados
As participantes desta pesquisa são mulheres pardas e negras beneficiárias de programas de proteção social e exercem atividades formais e informais de aporte de renda como trabalhadoras domésticas.
Os fatores determinantes da obesidade segundo as narrativas da trajetória biográfica não são somente a comida e a atividade física e expressam subjetividades interiorizadas da necessidade de uma corporeidade de força, resistência e negação.
Conclusões/Considerações
As politicas públicas para prevenção, cuidado e assistência as mulheres pardas e negras obesas não atuam como politicas anti-racistas.no Sistema Único de Saúde no Brasil pode contribuir para a superação do racismo institucional que gera situações estigmatizantes de manipulação e identidade deteriorada dos corpos na população negra no Brasil.
DE CIGANO PARA CIGANO: UM CAMINHO PARA DESCOLONIZAR A PESQUISA E O SUS
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz
2 Ministério da Saúde
3 SME-RJ
4 UFBA
5 CPT-GO
6 SMS-Sousa/PB
Apresentação/Introdução
Há um abismo entre a políticas públicas de equidade no país e o modo pelo qual a população romani é atendida no SUS, incluindo sua ausência nas bases do sistema. Apresentamos uma pesquisa que busca descolonizar o processo de pesquisar, ao constituir uma equipe de pesquisadores ciganos que protagonizam todas as ações do projeto, como descolonizar o SUS, ao procurar entender as razões desse cenário.
Objetivos
Apresentar resultados parciais da pesquisa Interseccionalidades e (de)colonialidades na Política Nacional de Integração em Saúde dos Povos Ciganos, das fases de Preparação, Implementação e Desenvolvimento/Trabalho de campo e Resultados preliminares.
Metodologia
A perspectiva epistemológica é a do compartilhamento da produção de conhecimento entre pesquisadores, interlocutores, movimento social, trabalhadores da saúde e coletividades cujos interesses justificam e mobilizam o ato de pesquisar. A metodologia é a da Conversações, que inclui sucessivas aproximações interlocutivas em que todos os participantes podem solicitar inclusões, exclusões ou modificações no processo e conteúdo tratado e atuam do processo analítico e da circulação dos resultados. Os procedimentos são definidos contextualmente. A etapa de Desenvolvimento inclui reconhecimento, mineração e desvelamento coletivo de saberes e corresponde ao trabalho de campo e análise dos resultados.
Resultados
O objetivo de descolonizar o SUS resultará do processo. O de descolonizar a pesquisa consideramos plenamente atingido. Da coordenação aos trabalhos gráficos, a equipe de pesquisadores é formada em sua maioria por pessoas romani, participando ativamente da concepção e preparação do projeto, do trabalho de campo, da produção e análise dos resultados. O trabalho de campo mobilizou 5 grandes comunidades ciganas em 5 estados do país, levantando a realidade de atendimento no SUS vivida pelas pessoas, complementadas por entrevistas com trabalhadores da saúde locais e gestores. Entre os resultados, destaca-se o absoluto desconhecimento, por todos, das políticas de equidade quanto à população cigana.
Conclusões/Considerações
Essa pesquisa integra, por um lado, um movimento mais amplo de ensino pós-graduado e pesquisa em torno da descolonização desses âmbitos (LACES e PPGICS/Fiocruz); por outro, uma ação do movimento cigano (especialmente o Coletivo Ciganagem) quanto à reivindicação de garantia de seus direitos de cidadania. Representa um avanço significativo no protagonismo dos participantes, radicalizando o conceito de “pesquisar com”.
DESINFORMAÇÃO, ESTIGMA E DESMONTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: IMPACTOS DAS FAKE NEWS SOBRE O HIV/AIDS NA ERA BOLSONARO
Pôster Eletrônico
1 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS
2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Apresentação/Introdução
Durante o governo Bolsonaro, o uso estratégico da desinformação produziu graves efeitos na saúde pública. Este ensaio analisa os impactos das fake news sobre a epidemia de HIV/Aids, especialmente nos grupos vulnerabilizados, abordando o estigma interseccional, omissões políticas e retrocessos nas ações de prevenção e cuidado.
Objetivos
Investigar como a produção de desinformação impactou as políticas públicas voltadas ao HIV/Aids, aprofundando estigmas e negligenciando desigualdades estruturais durante o governo Bolsonaro.
Metodologia
Trata-se de estudo de abordagem qualitativa, com base em revisão de literatura e análise documental de fatos e eventos públicos durante a gestão Bolsonaro. Foram examinadas políticas de saúde, discursos oficiais, dados institucionais e materiais de mobilização social. A perspectiva da interseccionalidade foi adotada como eixo analítico central para interpretar como raça, gênero e sexualidade foram apagados ou manipulados nas estratégias estatais, evidenciando retrocessos estruturais nas respostas ao HIV/Aids e à infodemia.
Resultados
O período analisado evidenciou o uso sistemático de fake news pelo governo como ferramenta política. A omissão frente às desigualdades sociais e o esvaziamento das políticas específicas para populações LGBTI+ resultaram no aprofundamento do estigma, da violência institucional e da desproteção social. Identificamos retrocessos na prevenção do HIV/Aids e ausência de respostas eficazes às múltiplas vulnerabilidades. Como contraponto, movimentos sociais e organizações comunitárias produziram estratégias de resistência, informação e cuidado.
Conclusões/Considerações
O combate às fake news e ao estigma exige políticas públicas ancoradas na interseccionalidade, produção de dados qualificados e valorização dos saberes comunitários. A resistência ao projeto de aniquilamento das diferenças, operado por meio da desinformação, deve se basear em justiça epistêmica, letramento e comunicação em saúde e solidariedade ativa.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS, SAÚDE MENTAL E RACISMO AMBIENTAL: AMEAÇAS GLOBAIS INTER(DES)CONECTADAS
Pôster Eletrônico
1 Unb
2 UnB
Apresentação/Introdução
A mudança do clima impõe dupla desigualdade ao distribuir desproporcionalmente seus riscos. Enfrentá-la exige conectar causas e efeitos às questões estruturais da magnitude do racismo. É crucial entender se esse pressuposto tem orientado grupos e instituições de pesquisa globais sobre saúde mental no contexto de emergência climática, que consequentemente influenciarão futuras políticas públicas.
Objetivos
Levantar a produção científica que se predispõe a articular os fenômenos mudanças climáticas, saúde mental, e racismo ambiental, a partir dos títulos, palavras-chave e resumos; e verificar as conexidades e afastamentos entre seus campos de sentido.
Metodologia
Foi realizada análise lexicométrica baseada em uma revisão de escopo sobre estudos que articulam mudanças climáticas, saúde mental e racismo ambiental nas bases de dados WebofScience, Scopus, PsycInfo e PubMed. As buscas ocorreram entre os dias 30 de janeiro e 1 de fevereiro de 2024. Os títulos, palavras-chave e resumos da produção científica levantada foram compilados e organizados em um corpus textual e submetido à análise lexical, através do software IRAMUTEQ. A revisão de escopo ofereceu um panorama da literatura e orientação para futuras pesquisas, enquanto a lexicometria analisou qualitativamente os artigos, identificando direcionadores e descrevendo o estado da arte da articulação.
Resultados
Publicados entre 2011 e 2024, 64 artigos foram recuperados em periódicos de diversas áreas, como psicologia, epidemiologia e estudos urbanos. Com 88,24% dos segmentos de texto classificados, o corpus textual foi distribuído em seis classes de sentido: mudanças climáticas e saúde mental de crianças e jovens; chamado à tomada de consciência e ação; povos tradicionais e direitos humanos; desigualdade em exposições ambientais; racismo ambiental; e desastres climáticos. Há certa articulação entre os campos de sentido dos fenômenos analisados, porém, observando-os separadamente, nota-se que as conexões entre eles, quando ocorrem, são insubstanciais, ainda há muito a ser interconectado.
Conclusões/Considerações
A hipótese inicial de que pesquisadores e campos científicos que articulam os três fenômenos evitam racializar suas problemáticas de estudo foi corroborada. Continuar negando o viés de raça em agendas de problemas globais, caso da mudança do clima e saúde mental, para além de reeditar violências discriminatórias que possuem raízes cravadas na colonialidade, é deliberadamente seguir por um modelo de desenvolvimento de “apartheid climático”.
O IMPACTO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA SAÚDE INDÍGENA BRASILEIRA: VIOLAÇÕES, RESISTÊNCIA E ATIVISMO INSTITUCIONAL
Pôster Eletrônico
1 UFMG
Apresentação/Introdução
O texto aborda os impactos da pandemia de COVID-19 sobre os povos indígenas no Brasil, evidenciando o agravamento das vulnerabilidades sociais e sanitárias diante do desmonte da política de saúde indígena, da omissão estatal, do racismo institucional e da insuficiência de respostas do governo federal.
Objetivos
Analisar o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde indígena, evidenciando a redução de ações governamentais, a insuficiência de recursos e a descoordenação de dados, além de investigar as causas da alta mortalidade e baixa cobertura vacinal.
Metodologia
Pesquisa qualitativa de caráter explicativo, fundamentada na literatura sobre desmonte de políticas públicas (Bauer et al., 2012) e movimentos sociais (Tilly; Tarrow; McAdam, 2009; Lilja et al, 2023). As fontes incluíram textos acadêmicos, legislações, notícias, relatórios, manifestos, entrevistas primárias e secundárias e dados obtidos via Lei de Acesso à Informação. Os entrevistados foram lideranças de movimentos indígenas e burocratas do Ministério da Saúde, da Sesai e de DSEIs. Foram utilizadas análise de dados qualitativos (Yin, 2016), análise de conteúdo categorial (baseado em Sampaio e Lycarião, 2021) e análise de discurso crítica, a partir de Norman Fairclough (1992).
Resultados
Agravo de vulnerabilidades indígenas, com alta mortalidade, subnotificação e baixa cobertura vacinal. As populações mais afetadas foram aquelas em territórios de difícil acesso, com presença de invasores ou em situação de vulnerabilidade estrutural. A má gestão, a desinformação e o corte de 25% no orçamento da saúde (2015-2022) agravaram o cenário. Houve negligência da Sesai, falta de EPIs, testes e uso de tratamentos ineficazes. As perdas incluíram vidas e saberes ancestrais. A mobilização indígena gerou respostas emergenciais, dados próprios, campanhas e vitórias jurídicas, como a ADPF nº 709 no STF e a denúncia por genocídio e ecocídio no TPI.
Conclusões/Considerações
A pandemia expôs a negligência estatal, o racismo institucional e a insuficiência de recursos mas também destacou a rápida e autônoma organização dos povos indígenas, que criaram redes de apoio, monitoramento próprio e soluções como as UAPIs e campanhas em idiomas nativos. A atuação no STF e no TPI fortaleceu a luta por direitos, reafirmando a autodeterminação e projetando a causa indígena no cenário global.
RACIALIZAR INCOMODA: O TENSIONAMENTO DA BRANQUITUDE NO CUIDADO COLETIVO DE MULHERES NEGRAS NA ATENÇÃO BÁSICA
Pôster Eletrônico
1 UFPB
Apresentação/Introdução
O trabalho emerge da cartografia de um grupo de terapia comunitária integrativa (TCI), composto por mulheres idosas, em sua maioria mulheres negras, em uma Unidade Básica de Saúde em João Pessoa - PB. Entre vivências e escrevivências emergem potências coletivas e o incômodo da branquitude ao racializar o debate.
Objetivos
O presente estudo tem como objetivo cartografar a produção de saúde de mulheres negras, vinculadas a uma Unidade de Saúde da Família (USF), através das suas redes formais e vivas de cuidado.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa-interferência, de natureza qualitativa, fundamentada na cartografia, tendo como conceito-ferramenta a prática em ato do grupo-guia. Acompanhamos, desde 10 de Março de 2025, um grupo de terapia comunitária vinculada a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), em João Pessoa/PB. Guiamo-nos pelos mapas que compõem suas existências entre redes formais e vivas de cuidado, em um percurso epistêmico decolonial, implicado nas intersecções de gênero, raça e classe e seus efeitos na saúde. A interseccionalidade opera como método e ferramenta de empoderamento, tensionando relações de poder, resistindo às estruturas instituídas de opressão e desigualdade.
Resultados
O acompanhamento cartográfico de um grupo de TCI, formado majoritariamente por mulheres negras e periféricas idosas, revelou um território vibrante de cuidado e reinvenção. O grupo escapa às lógicas tradicionais da clínica e faz circular saberes silenciados pela tecnocracia biomédica. A escuta das marcas do racismo estrutural — como abandono, violência, silenciamento e sobrecarga — gerou incômodos. Inicialmente acolhida com cordialidade, nossa presença foi sendo tensionada à medida que o debate racial se intensificava, revelando pactos silenciosos de não nomeação e tentativas de neutralizar narrativas que desafiam o hegemônico.
Conclusões/Considerações
A experiência revelou a dificuldade de racializar o cuidado em uma estrutura que se diz universal, mas frequentemente silencia vozes negras, sobretudo de mulheres. Trazer o debate racial à cena gera resistências e desconfortos, mas também evidencia o racismo como elemento central nos modos de adoecer e cuidar, expondo limites institucionais em lidar com essas questões.
DESIGUALDADES INTERSECCIONAIS NA MORBIDADE MATERNA GRAVE: O RACISMO OBSTÉTRICO E O “QUARTO” RETARDO ASSISTENCIAL
Pôster Eletrônico
1 INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA - UFBA
Apresentação/Introdução
Quando se trata de compreender os contextos sociais e culturais em que se produzem quadros de morbidade materna grave, explorar o papel do racismo obstétrico é fundamental. Nestes quadros o modelo dos três retardos assistenciais tem sido ampliado para extrapolar a análise de cuidados emergenciais acrescendo-se um “quarto” retardo, ligado a contextos mais estruturais e comunitários.
Objetivos
Analisar as desigualdades interseccionais que permeiam quadros de morbidade materna grave (near miss e condições potencialmente ameaçadoras a vida), problematizando o racismo obstétrico como “quarto” retardo assistencial.
Metodologia
Trata-se de um recorte de uma tese de doutoramento, de cunho qualitativo e socioantropológico, utilizando a interseccionalidade como ferramenta analítica, que levou em consideração as dimensões do racismo obstétrico, conceito cunhado pela antropóloga estadunidense Dána-Ain Davis. Entrevistas foram realizadas em 2020 com mulheres que vivenciaram situações de morbidade materna grave entre 2016 e 2018, na rede pública de saúde da cidade de Salvador, Bahia. Buscou-se, também, inserir o racismo obstétrico como quarto retardo assistencial, em diálogo com a literatura científica sobre o tema e a Saúde Coletiva.
Resultados
As 19 entrevistadas compuseram um grupo de jovens e adultas negras, a maior parte com menos de 30 anos de idade e ensino médio completo. A experiência narrada respeitou o “efeito halo”, evitando proximidade com o evento, que poderia rememorar momento traumático, ou muito distante pelo viés da memória, e, expressou o cruzamento de opressões às quais grande parte das mulheres negras estão submetidas, sendo identificada a mesma configuração de discriminação racial em diferentes serviços de saúde ou momentos do cuidado e no encontro com diferentes profissionais de saúde. Para 15 mulheres mais de uma dimensão do racismo obstétrico foi identificada e 4 não relataram situações identificadas nestas.
Conclusões/Considerações
Postula-se que para enfrentar o “retardo de fase quatro”, descrito na literatura sobre prevenção das complicações ligadas a morbimortalidade materna que extrapolem cuidados emergenciais, é necessário o combate institucional a todas as dimensões do racismo obstétrico, como ferramenta para a vigilância de complicações associadas à morbimortalidade materna, e consequentemente sua redução, tal como enfatizada na recém criada Rede Alyne.
SE DIZEM "SER MÃE É PADECER NO PARAÍSO", IMAGINE SER MÃE PADECENDO NO “PARAÍSO RACIAL”? MATERNIDADES NEGRAS E O MITO DA IGUALDADE, ONDE SE GERA NA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS.
Pôster Eletrônico
1 IMS/UERJ
Apresentação/Introdução
As heranças perversas da escravidão não são deixadas no guarda volume dos serviços obstétricos junto aos pertences no momento da internação, nem nas bolsas dos profissionais ao dirigirem-se aos atendimentos. Elas se manifestam no agir institucional, coletivo e individual. Relações interpessoais em maternidades também são atravessadas pelas intersecções opressoras de raça, gênero e classe.
Objetivos
Reflexões a partir das vivências cotidianas como enfermeira no SUS sobre os atravessamentos do racismo e as violações de direitos, sutis e escancaradas, sofridas pelas meninas e mulheres negras durante o cuidado gravídico-puerperal.
Metodologia
Com a Escrevivência (1995) como caminho metodológico, refleti sobre inquietações, esperanças, desafios e memórias despertadas na interação com mulheres, meninas e com a pauta dos direitos no cotidiano profissional em obstetrícia. Evaristo (2021), declara que “a escrita vaza subjetividade”, então alinhavei as experiências do agir profissional e minhas subjetividades com outras autoras para expressar junto delas como a opressão da raça aprofunda a situação da violação dos direitos humanos das meninas e mulheres negras, contribuindo potencialmente para o aumento da violência obstétrica, danos e morte nos corpos que trazem na pele a marca da Maria de Milton Nascimento.
Resultados
As muitas mulheres em diversos papéis, que diariamente ocupam os serviços obstétricos, experienciam violações dos seus direitos de maneira particular e coletiva, pelas interseccionalidades que as atravessam. De acordo com as suas bagagens de vida, as violações se apresentam proporcionalmente aos caminhos que percorreram, aos conteúdos que acessaram, aos cuidados que lhe faltaram e também aos cuidados que lhes foram garantidos. Em 1871 foi promulgada a 1ª lei abolicionista brasileira, a Lei do Ventre Livre. Porém, segue em curso o desencontro da teoria e da prática na efetivação dos direitos humanos fundamentais e verdadeira garantia de liberdade e igualdade.
Conclusões/Considerações
A desumanização das práticas de saúde é inegável. Mas ao racializar a ‘desumanização’, meninas e mulheres negras são as menos humanas dentro desta escala perversa de ‘humanidades’. Urge incluir e cumprir a pauta antirracista em todas as ações de formação em saúde, planejamentos institucionais, qualificação de trabalhadores e atividades educativas em saúde com usuários, para garantir direitos das pretas e pardas, que cuidam e são cuidadas.
EXPERIENCIAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL ENTRE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS E IMPLICAÇÕES NA SAÚDE MENTAL: O RACISMO EXISTE E ADOECE
Pôster Eletrônico
1 UVA
2 UM
3 UECE
4 UCP
5 UFC
6 FLJ
Apresentação/Introdução
A discriminação racial, velada ou explícita, persiste em nossa sociedade, historicamente excludente para a população negra. Apesar de avanços com políticas afirmativas, estudantes pretos e pardos enfrentam desafios adicionais que afetam seu bem-estar psicológico, tornando-os mais vulneráveis ao adoecimento mental.
Objetivos
Analisar a associação entre experiências de discriminação racial e o estado de saúde mental de estudantes, identificando possíveis impactos psicossociais e contribuindo para ações de enfrentamento no contexto universitário.
Metodologia
Estudo descritivo, exploratório e de corte transversal, realizado de setembro a dezembro de 2023, com aplicação online e presencial. Participaram 829 estudantes de cinco Instituições de Ensino Superior do Ceará, sendo duas públicas e três privadas. O objetivo foi analisar a associação entre experiências de discriminação racial e o estado de saúde mental dos estudantes. Para a coleta de dados, utilizaram-se dois instrumentos validados: a Escala de Experiência de Discriminação Racial e o Inventário de Saúde Mental MHI-38, permitindo a identificação de impactos psicossociais relevantes.
Resultados
A análise revelou correlações significativas entre a dimensão “Discriminação” e fatores do MHI-38, como depressão (r = -0,136; p < 0,001), distresse (r = -0,131; p < 0,001) e perda de controle emocional (r = -0,122; p < 0,001), indicando que maiores níveis de discriminação estão associados à pior saúde mental. O ambiente universitário e outros espaços sociais, embora vistos como promotores de inclusão, ainda reproduzem práticas de exclusão. O racismo afeta autoestima, pertencimento e desempenho acadêmico, podendo gerar impactos psíquicos duradouros. Estudantes negros e pardos também enfrentam pressões específicas, ressaltando a necessidade de políticas de apoio e acolhimento institucional.
Conclusões/Considerações
A discriminação racial afeta negativamente a saúde mental de estudantes, refletindo-se em sintomas como depressão e distresse. A universidade e os espaços sociais, embora destinados à formação e convivência, ainda reproduzem exclusões. Conclui-se que são urgentes ações antirracistas e políticas institucionais de acolhimento para promover saúde mental, pertencimento e equidade racial.
RACISMO ESTRUTURAL E SAÚDE MENTAL: O SUICÍDIO ENTRE JOVENS NEGROS SOB UMA PERSPECTIVA DECOLONIAL
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz Brasília
2 UnB
Apresentação/Introdução
O racismo estrutural é um determinante social que perpetua desigualdades na saúde da população negra, refletidas em indicadores como violência e altos índices de suicídio entre jovens negros. O estudo analisa como heranças coloniais afetam a saúde mental, ressaltando a urgência de abordagens decoloniais diante da negligência estatal e invisibilização dessas mortes para promover justiça e equidade.
Objetivos
Analisar a relação entre racismo estrutural e suicídio de jovens negros no Brasil, destacar impactos na saúde mental, reforçar políticas públicas decoloniais e fomentar estudos que rompam a invisibilidade dessas mortes.
Metodologia
Revisão bibliográfica e documental baseada em artigos científicos, relatórios oficiais e documentos governamentais sobre racismo estrutural, saúde mental e suicídio entre jovens negros no Brasil. Considerou-se dados como Atlas da Violência, publicações do Ministério da Saúde e obras relevantes. A análise qualitativa, com enfoque crítico-decolonial, evidenciou a influência da colonialidade do poder e do saber nas desigualdades em saúde mental, apontando lacunas nos dados e a necessidade urgente de estratégias antirracistas e interseccionais para enfrentá-las.
Resultados
A colonização do século XVI instituiu hierarquias raciais persistentes. Em 2016, seis em cada dez suicídios entre jovens de 15 a 29 anos ocorreram em negros, com risco 45% maior que em brancos. Para cada 100 suicídios em brancos, registraram-se 145 em negros; entre homens jovens, chega a 150. Ao articular dados quantitativos e análise decolonial, destaca-se que a colonialidade reduz o negro ao estatuto de “Outro”, causando desumanização. Condições sociais como pobreza, acesso limitado à saúde, baixa escolaridade e violências cotidianas intensificam esse risco. A pesquisa destaca a necessidade premente de políticas públicas que promovam equidade racial e enfrentem desigualdades estruturais.
Conclusões/Considerações
Sob uma perspectiva decolonial, o suicídio entre jovens negros expressa exclusão, racismo e desumanização histórica. Essas mortes, invisibilizadas pelo legado colonial, refletem a necropolítica que decide quem vive ou morre. Sujeitos negros, excluídos da cidadania, sofrem por existir. Urge desembranquecer olhares, fortalecer políticas públicas específicas e integrar justiça racial e climática para promover vida digna.
INJUSTIÇA TESTEMUNHAL NO CUIDADO ODONTOLÓGICO: A INTERSEÇÃO ENTRE RAÇA E INIQUIDADES ESTRUTURAIS EM SAÚDE
Pôster Eletrônico
1 UFMG
Apresentação/Introdução
O estudo dos Determinantes Sociais da Saúde é essencial para aprimorar a qualidade dos serviços de saúde odontológicos. O conceito de injustiças epistêmicas em Odontologia pode ampliar a compreensão acerca do dano epistêmico de práticas desvirtuadas sistemáticas, especialmente numa análise de iniquidades raciais. Nesse contexto, a aplicação de ferramentas filosóficas faz-se de grande valia.
Objetivos
O presente estudo centrou-se na análise das iniquidades raciais em saúde odontológica sob a ótica das injustiças epistêmicas, avaliando o papel da estruturação pedagógica e clínica da Odontologia na reprodução dessas injustiças.
Metodologia
É realizada uma reflexão teórico-crítica em Odontologia a partir de conceitos desenvolvidos por Fricker e autores posteriores. Inicialmente, a formação odontológica é avaliada enquanto perpetuadora de injustiças epistêmicas raciais, promovendo a manutenção de preconceitos entre estudantes. Essa problemática é articulada à descrita por Carel e Kidd, referente a um tipo de injustiça epistêmica intrínseca ao ambiente clínico, associada à estruturação dos serviços e da formação em saúde. Os danos ligados à posição de paciente e de pessoa negra se unem, gerando uma injustiça cumulativa que produz iniquidades raciais analisadas pelos autores em pesquisas quantitativas e qualitativas.
Resultados
A formação odontológica apresenta déficits no ensino das disparidades e iniquidades, gerando dentistas inaptos a lidar com as injustiças e reprodutores de preconceitos raciais. O cenário de injustiça intrínseca à saúde decorre do padrão de relação paciente-profissional e de valorização à evidência na anamnese, que desconsidera a vivência pessoal e patográfica do paciente e sua autoridade epistêmica sob a própria saúde. Consolida-se um quadro de exclusão epistêmica sistemática de pacientes negros, que têm seu testemunho gravemente descredibilizado. Isso resulta em falhas na autonomia dada ao paciente negro e no manejo de suas queixas, dores e sofrimentos, prejudicando seu acesso à saúde.
Conclusões/Considerações
A gravidade dos danos apresentados expõe a demanda por reformas na educação e nos serviços de saúde odontológicos. O ensino da dimensão social das iniquidades pode ser uma solução à problemática racial, e o uso de abordagens fenomenológicas em saúde pode promover a valorização do testemunho do paciente. Faz-se necessária a ampliação de pesquisas teórico-práticas para melhor avaliação do impacto das injustiças epistêmicas na prática odontológica.
BRANQUITUDE E DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA SAÚDE: DO PACTO AO CONTRATO
Pôster Eletrônico
1 USP
Apresentação/Introdução
Embora a desigualdade venha historicamente se constituindo como uma categoria importante para pensar e analisar a saúde no Brasil, os processos de discriminação da qual decorre têm sido negligenciados na agenda de pesquisas na área. Elucidar os mecanismos concretos a partir dos quais as diferentes condições de saúde entre negros e brancos no Brasil é uma demanda atual premente na Saúde Coletiva.
Objetivos
Este trabalho tem como objetivo elucidar os modos como a branquitude tem atuado como operacionalizadora da discriminação racial no campo da saúde, sob o entrelaçamento das dimensões interpessoal, institucional e estrutural do racismo e do cuidado.
Metodologia
Em uma pesquisa de abordagem qualitativa fundamentada na perspectiva de campo tema, foram ouvidas quatro pessoas negras. Suas trajetórias em situações de necessidades em saúde foram analisadas sob a perspectiva da análise do discurso. Foi dada especial atenção para i) os itinerários percorridos em busca de assistência, ii) os tempos decorridos para conseguir atendimento, iii) as condutas adotadas nessas ocasiões, iv) se a demanda foi ou não atendida, se foi ou não resolvida e em que circunstâncias. Foi dada atenção especial a dimensão política das presenças e ausências que emergiram dos relatos, ou seja, ao modo como revelavam desenhos das políticas assistenciais de saúde.
Resultados
Os resultados evidenciaram que a discriminação é uma experiência frequente na busca de pessoas negras na assistência em saúde. Revelam ainda que além da dimensão interpessoal e direta, a discriminação opera mais incisivamente por meio de formas e lógicas institucionais burocráticas que não dizem respeito a raça e prescindem da discriminação direta. Assim, regras, regimentos e protocolos são mecanismos importantes na operação da discriminação, através de arranjos político e organizacionais que funcionam sob a lógica da branquitude. O plano macropolítico, que alia políticas de saúde às estruturas do Estado e formas do capital, ganha forma aparente nos hiatos onde não se produz saúde e cuidado.
Conclusões/Considerações
Com os resultados, pode-se depreender que combater as desigualdades exige reformular não somente as práticas de saúde, mas as políticas no campo, sobretudo na dimensão macropolítica, já que são orientadas por um contrato racial que opera sob uma lógica supremacista, assegurando aplicação de verbas, alocação de recursos humanos e instalação de dispositivos de modo a favorecer grupos raciais brancos em detrimento da população negra.
DECOLONIALIDADE DOS SABERES E A FORMAÇÃO EM SAÚDE: UM DEBATE TEÓRICO INICIAL
Pôster Eletrônico
1 Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de
2 Docente do Programa de Pós-Graduação em saúde Coletiva da Universidade de Brasília
Apresentação/Introdução
O estudo propõe analisar de modo teórico-epistemológico como a colonialidade dos saberes tem influenciado a formação em saúde, identificando práticas, modos de produção e reprodução do modus operandi colonialista. Buscamos propostas de rupturas para uma abordagem decolonial e avançar em opções que valorizem saberes marginalizados, contribuindo para uma agenda urgente de formação decolonial na saúde
Objetivos
O ensaio tem como objetivo analisar a colonialidade dos saberes e a formação em saúde, apresentar possíveis propostas de ruptura da lógica eurocêntrica e promover justiça epistêmica no âmbito da formação em saúde no Brasil.
Metodologia
A partir da análise documental e revisão da literatura, que permitiu examinar o teor de diversos tipos de fontes. Foram analisados, mediante análise temática, artigos científicos, livros e marcos legais que se debruçaram sobre a colonialidade dos saberes e a relação entre a formação em saúde a partir de práticas pedagógicas colonialistas, assim como estudos que nos apresentassem experiências, propostas e opções de ruptura a fim de fomentar uma agenda decolonial nas formações em saúde. O recorte temporal foi de 2014 a 2024 com predomínio da linguagem em português. O ensaio favorece a reflexão crítica e tem originalidade no contexto da incipiente produção sobre a temática.
Resultados
A colonialidade dos saberes é vista como a reconfiguração do eurocentrismo no Brasil, subalternizando a produção de conhecimentos e práticas pedagógicas não europeias. Na formação em saúde, isso tem contribuído para a consolidação de currículos hegemônicos e profissionais inseridos num sistema que marginaliza saberes ancestrais e negligencia a diversidade sociocultural. Existem propostas e agendas de rupturas como as DCNERER, em políticas de saúde (PNSIPN, PNSIPCFA), em programas de residências em territórios rurais e quilombolas, assim como projetos de extensão-ensino que promovem saída extramuros para dialogar com as comunidades, a partir da valorização de espaços pluriepistêmicos.
Conclusões/Considerações
Apesar da forte influência da colonialidade na formação em saúde, existem iniciativas decoloniais e contracoloniais em curso que provam a viabilidade de um outro modo de fazer e ensinar saúde. O desafio é institucionalizar e ampliar tais iniciativas, formando sujeitos e instituições na perspectiva decolonial. A partir disto encontraremos caminhos desobedientes para formar sujeitos contribuindo com justiça epistêmica no campo da formação na saúde.
A ASSOCIAÇÃO ENTRE INTERSECCIONALIDADE DE GÊNERO E RAÇA/COR E TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS É MEDIADA POR ADVERSIDADES NA INFÂNCIA E DISCRIMINAÇÃO? RESULTADOS DO ELSA-BRASIL
Pôster Eletrônico
1 FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A prevalência de transtornos mentais comuns se distribui de forma desigual entre categorias interseccionais de gênero e raça/cor, que assumem o papel de marcadores de processos e relações opressoras (eg.: racismo e sexismo). Não se sabe o papel das adversidades familiares na infância e das experiências de discriminação nessa relação, considerando uma abordagem interseccional e de curso de vida.
Objetivos
Investigar a associação entre interseccionalidade de gênero e raça/cor e sintomas de transtornos mentais comuns, avaliando o papel mediador das adversidades familiares na infância e das experiências de discriminação no dia a dia nessa associação.
Metodologia
A análise foi realizada com dados da segunda visita de seguimento (2017-2019) do ELSA-Brasil, uma coorte fixa, prospectiva, multicêntrica e multiétnica. Embora a coleta das variáveis tenha sido realizada no mesmo momento do tempo, a temporalidade do estudo está garantida por recall period dos instrumentos. A amostra foi de 11.909 servidores públicos de seis instituições públicas brasileiras, com idade entre 35 e 74 anos na linha de base (2008-2010). Utilizamos a variável sexo como proxy de gênero (decisão metodológica condicionada pela disponibilidade dos dados). A categoria de comparação foi o homem branco. A análise foi realizada no Software R, utilizando modelos de equações estruturais.
Resultados
A maior prevalência de sintomas de transtornos mentais comuns esteve entre as mulheres indígenas (40%), pretas (38,1%) e pardas (36,6%). A prevalência de adversidades familiares na infância e de experiências de discriminação foi maior entre mulheres indígenas (72% e 76%), pretas (55% e 80,6%) e pardas (49,6% e 76,2%) e homens pretos (51,8% e 80,5%) e pardos (43,7% e 77%), respectivamente. Revelaram-se três caminhos mediadores (via adversidades familiares na infância, via experiências de discriminação e via ambos), sendo mais relevantes e consistentes para mulheres pretas e pardas, homens pardos e pretos, mulheres indígenas, amarelas e brancas, nessa ordem, se comparados aos homens brancos.
Conclusões/Considerações
Evidenciaram-se desigualdades interseccionais de gênero e raça/cor relacionadas à saúde mental, adversidades na infância e discriminação. É imprescindível o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a intervenção e prevenção das adversidades familiares na infância e das experiências de discriminação no dia a dia para mitigar a magnitude dos sintomas de transtornos mentais comuns em grupos historicamente oprimidos e vulnerabilizados.
DESAFIOS DOS ESTUDANTES DE MEDICINA PARA UMA PRÁTICA EQUÂNIME FRENTE A COMPLEXIDADE DA SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
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1 UESB
Apresentação/Introdução
O racismo, fundamentado no discurso colonialista e no racismo científico, persiste em formas como o trabalho escravo contemporâneo, colorismo e desigualdades no acesso e na qualidade da saúde. Apesar da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, ainda existem expressivas disparidades e dificuldades na formação de profissionais para compreender a diversidade e complexidade desse grupo.
Objetivos
Analisar os fatores que contribuem para o déficit na atenção à saúde da população negra, com ênfase nas limitações da formação médica e nas estruturas institucionais de saúde.
Metodologia
A presente revisão de literatura foi conduzida com base em publicações científicas disponíveis em bases reconhecidas. A busca foi realizada nas plataformas SciELO, PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), abrangendo artigos publicados entre 2020 e 2025. Foram incluídos textos completos, disponibilizados gratuitamente, em português ou inglês, que contemplassem os descritores “colonialismo”, “população negra” e “racismo” em português, bem como “racism”, “public policy” e “health” em inglês, combinados por operadores booleanos. Foram excluídos artigos duplicados, literatura cinzenta e estudos alheios ao tema. Os dados foram organizados em categorias temáticas e analisados qualitativamente.
Resultados
O racismo estrutural persiste como um sistema discriminatório que se manifesta por meio de processos interseccionais, incluindo machismo, classismo e LGBTQIA+fobia, afetando diversos grupos sociais e impactando a saúde da população negra. Os currículos de medicina ainda carecem de uma abordagem transversal e afrocentrada, fundamentada na pedagogia decolonial, que valorize culturas historicamente silenciadas e dialogue com as lutas sociais. Além disso, observa-se que as discussões acadêmicas sobre ações para reduzir as disparidades relacionadas à violência, mortalidade materna e infantil, e outros fatores biopsicossociais ainda são limitadas, comprometendo a equidade em saúde.
Conclusões/Considerações
O passado escravista e excludente que marcou os povos negros por mais de quinhentos anos ainda repercute no meio acadêmico, levando os estudantes ao desconhecimento de suas origens e dificultando um cuidado em saúde mais sensível. O acesso equânime também é comprometido pela escassez de literatura médica com enfoque afrocentrado. A decolonialidade, nesse contexto, é fundamental para resgatar saberes e qualificar a formação e a prática em saúde.
INTERSECCIONALIDADE COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA: PESQUISA-INTERVENÇÃO COM TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL DE BH NO ACOLHIMENTO DE MULHERES NEGRAS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Pôster Eletrônico
1 PUC MInas
2 PUC Minas
3 PUC Minas/Instituto René Rachou - Fiocruz Minas
Apresentação/Introdução
O projeto investiga os efeitos do racismo e da violência de gênero na saúde mental de mulheres negras atendidas pela política de Assistência Social em BH, propondo uma leitura interseccional das práticas institucionais e uma escuta crítica dos processos de subjetivação atravessados pelo racismo. Neste estudo, analisaremos a metodologia usada para realização da pesquisa.
Objetivos
Problematizar a interseccionalidade como método para compreender a saúde mental de mulheres negras em situação de violência, por meio da pesquisa-intervenção antirracista com trabalhadoras da Assistência Social em Belo Horizonte, MG.
Metodologia
A pesquisa se ancora na Análise Institucional e no referencial do feminismo negro, articulando teoria e prática por meio de uma abordagem implicada. Foram realizadas observações participantes em oficinas de formação antirracista com trabalhadoras da assistência social de BH e grupos focais. A análise dos dados segue a Análise de Conteúdo, buscando evidenciar como os marcadores sociais — especialmente raça e gênero — atravessam e organizam as práticas institucionais. A interseccionalidade opera como chave analítica e política para compreender os modos de adoecimento e as respostas (ou ausências delas) nos serviços públicos especializados para atendimento das mulheres em situação de violência.
Resultados
A pesquisa-intervenção produziu deslocamentos nas práticas institucionais da assistência social, ao visibilizar o racismo como determinante do sofrimento psíquico. A metodologia favoreceu a construção de saberes implicados, formação crítica de profissionais e produção de ferramentas educativas. Ao operar a interseccionalidade como método, a pesquisa tensiona leituras patologizantes e propõe novas formas de cuidado antirracista e contextualizado.
Conclusões/Considerações
A pesquisa-intervenção se mostra fundamental para produzir deslocamentos institucionais e visibilizar os efeitos do racismo no cuidado em saúde mental. O envolvimento direto com os profissionais permitiu construir saberes implicados, tensionar práticas naturalizadas e afirmar a potência da interseccionalidade como teoria social crítica e ferramenta de transformação e cuidado paraas políticas públicas.
DETERMINANTES DE SAÚDE NO PRESÍDIO CARIOCA. IMBRICAMENTOS, PRIVAÇÃO DE LIBERDADE VERSUS SAUDE.
Pôster Eletrônico
1 UFRJ
Apresentação/Introdução
A abordagem decolonial (WALLESTEIN, 2007) e imbricamento( GONZALEZ, 2020) ofertam ferramentas relevantes para analisar as desigualdades em saúde dentro do sistema prisional.O racismo estrutural é um fator determinante na encarcerização em massa de pessoas pretas WACQUANT,2013.as estruturas coloniais que perpetuam desigualdades em saúde, o imbricamento e outros marcadores sociais cria desigualdade.
Objetivos
Analisar o imbricamento entre saúde e sistema penal carioca, bem como reconhecer tais embarreiramentos e os determinantes de saúde das pessoas privadas de liberdade
Metodologia
Este artigo analisa o imbricamento entre saúde e sistema penal carioca. Utilizou-se uma metodologia qualitativa com observação participante e escuta qualificada.
Dividido em seções que contemplam aspectos teóricos e práticos, começaremos pela análise das bases conceituais que sustentam os conceitos de saúde e raça e sua relevância no sistema penal. destacando os fatores que contribuem para o insucesso dessas intervenções.Por fim, esta conclusão refletirá sobre os desafios e as perspectivas futuras para a saúde dentro do sistema penal, apontando caminhos que podem ser trilhados para que a viabilização de saúde seja uma realidade acessível mesmo dentre os ditames de privação de liberdade.
Resultados
Os resultados evidenciaram que, apesar da implementação do PNAISP,2014, a saúde e a população carcerária carioca ainda enfrenta diversos tipos de violações. No entanto, as dificuldades de acesso aos serviços de saúde e o estigma do crime e da punição e da não humanização ainda são enormes desafios. Conclui-se que o programa é uma ferramenta importante para a promoção da saúde no sistema prisional, mas é fundamental superar os desafios para garantir o acesso a serviços de qualidade para todos os privados de liberdade, bem como ampliar os acessos.
Conclusões/Considerações
Ao passo que a sociedade enfrenta desafios relacionados à suposta criminalidade e à exclusão social, torna-se imprescindível investigar os mecanismos que embarreiram o provimento de viabilização de saúde aos
privados de liberdade, principalmente a indivíduos que passaram por experiências de marginalização e de não humanização.
HÁ EQUIDADE ÉTNICO-RACIAL NOS CURSOS DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, CIÊNCIAS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA?
Pôster Eletrônico
1 UnB
Apresentação/Introdução
O debate sobre racismo e equidade racial no ensino superior tem crescido, destacando a necessidade de mudanças nos currículos e práticas acadêmicas em saúde. Apesar de avanços como as Diretrizes Curriculares Nacionais, a implementação ainda enfrenta desafios. O estudo aponta a escassez do tema nas instituições e defende o mapeamento curricular para enfrentar desigualdades.
Objetivos
O objetivo deste estudo foi mapear a temática nas disciplinas obrigatórias e optativas em 10 cursos de graduação da Universidade de Brasília e contribuir para a revisão dos currículos com a inclusão da equidade em saúde da população negra.
Metodologia
Foi realizado um estudo de natureza quali-quantitativa por meio da análise documental dos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) e das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do Ministério da Educação-MEC, para avaliar a estrutura curricular dos cursos. Na etapa preliminar da análise documental, foram coletados os PPCs atualizados, as DCNs vigentes e a estrutura curricular completa disponível. Já na fase de análise, foram examinadas as ementas de todas as disciplinas obrigatórias e optativas utilizando descritores de busca. A análise foi realizada entre agosto e setembro de 2024, a partir de documentos disponíveis nos sites oficiais do MEC e da instituição de ensino superior.
Resultados
Há maior presença da temática étnico-racial nas Ciências Sociais e Humanas, com 32 disciplinas identificadas, enquanto na Saúde, o tema aparece em 11 disciplinas com pouca carga horária e sem foco na população negra, ou em disciplinas optativas de outros cursos. Os resultados evidenciam uma abordagem insuficiente do conteúdo sobre racialidade e saúde da população negra nos cursos participantes do estudo. Em muitos casos, as abordagens sobre equidade racial ainda são superficiais, restringindo-se a disciplinas isoladas ou a conteúdos pontuais. Há um grande déficit na inclusão de questões raciais tanto nas disciplinas teóricas quanto nas disciplinas práticas e nos estágios.
Conclusões/Considerações
A implementação da equidade étnico-racial nos currículos é superficial e reflete uma resistência institucional. O estudo tem limitações metodológicas, focando apenas na análise de descritores nos documentos dos cursos. Sugere-se estudos com docentes responsáveis pelas disciplinas que desenvolvem a temática étnico-racial e conhecer a percepção de discentes sobre a questão racial na formação.
DESAFIOS E POTENCIALIDADES DA POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NEGRA: CAMINHO NECESSÁRIO PARA A EQUIDADE NO SUS
Pôster Eletrônico
1 Centro Universitário Unidompedro Afya
2 Universidade do Estado da Bahia
Apresentação/Introdução
Instituída em 2009, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) visa combater o racismo e promover equidade no SUS. Apesar de avanços, enfrenta fragilidade na execução e subnotificação por raça/cor. Seu fortalecimento é estratégico para qualificar o cuidado, ampliar o acesso e enfrentar iniquidades históricas em relação a população negra.
Objetivos
Analisar as potencialidades e os desafios na implementação da PNSIPN como instrumento estratégico para redução das iniquidades raciais em saúde no Brasil.
Metodologia
A pesquisa teve abordagem qualitativa e caráter descritivo, fundamentando-se em revisão de literatura e análise documental, realizada por meio do PUBMED, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Portal de Periódicos da CAPES. Utilizou-se como descritores: PNSIPN; Saúde da população negra, agrupados pelos operadores AND e AND NOT. Os critérios de inclusão foram artigos publicados entre 2009 e 2025 e exclusão de artigos que não estavam em português e duplicados. Os documentos centrais foram a própria PNSIPN, publicações do Ministério da Saúde, estudos da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) e produções científicas sobre o tema.
Resultados
Constatou-se que, mesmo com a instituição da PNSIPN em 2009, as desigualdades raciais persistem, reflexo do racismo institucional e da frágil implementação da política nos territórios. Dados oficiais revelam taxas elevadas de mortalidade materna, doenças crônicas e violência entre a população negra, evidenciando a necessidade de uma formação permanente dos profissionais de saúde que reconheçam o racismo como determinante social do processo saúde-doença. O fortalecimento da PNSIPN requer o enfrentamento das barreiras estruturais que limitam seu alcance, como a baixa institucionalização nos municípios e a ausência do quesito raça/cor em muitos sistemas de informação em saúde.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que a consolidação da PNSIPN é imprescindível para promover equidade, garantir o direito à saúde da população negra e qualificar a atenção no Sistema Único de Saúde, sendo urgente sua articulação com outras políticas públicas, especialmente em contextos de vulnerabilidade agravados, como o da pandemia de COVID-19.
AS RESIDÊNCIAS EM SAÚDE DO CAMPO, FLORESTAS E ÁGUAS SE CONSTITUEM ENQUANTO UMA FORMAÇÃO CONTRACOLONIAL NO SUS?
Pôster Eletrônico
1 UNB
2 UFSC
3 UFBA
Apresentação/Introdução
Criados com base político pedagógica dos movimentos sociais, os programas de residência em saúde do campo têm se expandido nos últimos anos. Tal formação de base territorial tem construído pontes entre a perspectiva contracolonial e a formação em saúde. Pisando no chão de territórios rurais e quilombolas, os programas formam especialistas para contrapor a lógica urbanocentrada do SUS.
Objetivos
O ensaio tem por objetivo constituir um diálogo crítico entre os aspectos contracoloniais na formação para o contexto do SUS através dos programas de residências em saúde do campo, florestas e águas no Brasil.
Metodologia
O estudo foi desenvolvido a partir da análise documental e revisão da literatura, que nos permite examinar o teor de diversos tipos de documentos. Foram analisados, mediante análise temática artigos científicos e livros que se debruçaram em compreender o pensamento contracolonial e estudos acerca dos programas de residências em saúde do campo, florestas e águas. A fim de confrontá-los, buscando um debate político pedagógico onde profissionais de saúde estejam imersos nas múltiplas territorialidades do povo. O recorte temporal foi de 2014 a 2024 com predomínio da linguagem em português. O ensaio favorece a reflexão crítica e tem originalidade no contexto da incipiente produção sobre a temática.
Resultados
Desde 2015, instituições de ensino e movimentos sociais têm formado trabalhadores para atuar em contextos diversos, com desafios e potencialidades específicos. Alguns autores veem esses programas como rupturas da lógica urbanocentrada na formação em saúde, ao inserirem o SUS em comunidades rurais e quilombolas, promovendo um cuidado alinhado ética e politicamente com as necessidades locais do povo. Os primeiros programas apostam na pedagogia da alternância, valorizando uma formação aliada ao chão vivo e real do povo do campo, da floresta e das águas. A contracolonialidade, por sua vez, vai nos propor novas formas de existir, produzir saberes, de modos de pensar e de se organizar socialmente.
Conclusões/Considerações
Seguindo o pensamento contracolonial de Antônio Bispo, é fundamental negar a centralidade do saber ocidental e afirmar epistemologias de povos originários, camponeses e quilombolas. Isso exige fortalecer outras propostas formativas no SUS com essa perspectiva, bem como os programas de residências em saúde do campo, florestas e águas, subvertendo o modelo urbanocentrado na formação, pois não há contracolonialidade sem pisar-viver os territórios.
NECROPOLÍTICA E TUBERCULOSE: OS IMPACTOS DO RACISMO INSTITUCIONAL NA SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL
Pôster Eletrônico
1 IDOMED
2 IDOMEDFIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A tuberculose (TB) é uma doença infecto-contagiosa que tem uma forte influência dos determinantes sociais de saúde. No Brasil, os indicadores de saúde mostram que populações historicamente marginalizadas têm um risco de agravo maior por essa doença, como é o caso da população negra (pretos e pardos). Isso evidencia como a necropolítica racial opera na saúde pública brasileira.
Objetivos
Analisar a relação entre racismo institucional e a incidência de tuberculose na população negra brasileira à luz do conceito de necropolítica.
Metodologia
Esse estudo foi realizado a partir de uma abordagem qualitativa e descritiva por meio de uma análise de dados públicos do Painel de Monitoramento da Tuberculose do Ministério da Saúde. A interpretação dos dados ocorreu por meio do recorte de raçacor e do conceito de necropolítica (Mbembe, 2003), além de compreender o racismo institucional como um determinante social de saúde. Também realizou-se uma revisão da literatura para investigar como doenças negligenciadas como a tuberculose estão relacionadas com o racismo e a necropolítica na saúde pública brasileira.
Resultados
Os dados do Painel de Monitoramento da Tuberculose do Ministério da Saúde indicam que mais de 65% dos casos de tuberculose em 2024 segundo raçacor foram em pessoas negras (pretas e pardas). Isso representa um aumento de mais de 9% de 2012 até 2024 quando comparado ao mesmo grupo populacional. Em contrapartida, as pessoas brancas representam 26,6% dos casos novos de TB em 2024, tendo diminuído 7,8% dos casos quando comparado com 2012. Enquanto na população branca observa-se uma tendência decrescente dos casos novos de TB nas últimas décadas, na população negra tem-se uma tendência crescente.
Conclusões/Considerações
O combate eficaz à tuberculose exige que os racismos estrutural e institucional também sejam combatidos. A maior vulnerabilidade da população negra frente à TB não é apenas uma questão sanitária, mas uma questão política. Por isso é cada vez mais necessário enfrentar esse sistema necropolítico que determina socialmente quem vive e quem adoece/morre.
COR DA PELE E BOAS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS NO PARTO E NASCIMENTO: ESTUDO TRANSVERSAL EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
Pôster Eletrônico
1 Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSJ
2 Universidade Federal de Juiz de Fora
3 Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde da UFSJ
Apresentação/Introdução
A implementação de boas práticas durante o nascimento traz uma série de benefícios ao binômio mãe/bebê e, apesar de políticas públicas recomendarem o seu uso, observa-se que, na práxis em saúde, nem sempre isso é evidenciado. Dentre as limitação da implementação das boas práticas, cita-se as disparidades envolvendo a cor da pele com múltiplas desvantagens sociais e desigualdades estruturais.
Objetivos
Analisar a associação entre cor da pele e boas práticas assistenciais no parto e nascimento.
Metodologia
Trata-se de um estudo quantitativo, transversal, realizado em uma maternidade de um município do centro-oeste de Minas Gerais. A população elegível para a pesquisa correspondeu a 2.994 parturientes admitidas na maternidade e seus bebês no ano de 2023 e a amostra calculada foi de 340 participantes. Os dados sociodemográficos, as informações clínicas e aspectos assistenciais foram obtidos por meio de consulta a prontuários eletrônicos utilizando-se um formulário previamente elaborado. Análises estatísticas descritivas e multivariadas foram realizadas. O nível de confiança adotado foi de 95%.
Resultados
Participaram do estudo 343 parturientes, cuja mediana de idade foi de 29 anos e que prioritariamente se autodeclararam pretas e pardas (53,6%). O parto normal foi o mais prevalente (50,7%) e observou-se que as boas práticas assistenciais no parto e nascimento foram implementadas em 37% dos casos. Evidenciou-se que o parto normal aumenta a chance da parturiente ser cuidada através das boas práticas assistenciais do parto e nascimento (OR= 37,7). Parturientes que entraram em trabalho de parto de forma espontânea tiveram 3,09 vezes mais chance de serem assistidas com boas práticas. Quanto maior a idade gestacional no dia do parto, maior a chance de boas práticas serem aplicadas (OR=1,36).
Conclusões/Considerações
A presente investigação não evidenciou relação estatisticamente significativa entre cor da pele e boas práticas assistenciais, contudo, sinalizou para um cenário de baixa prevalência de práticas consideradas adequadas, sendo aplicadas em 37% dos casos. Evidenciou-se que o parto normal, o trabalho de parto espontâneo e a maior idade gestacional no dia do parto são fatores de proteção para aplicação das boas práticas assistenciais.
A COR DO CUIDADO: UM ESTUDO INTEGRATIVO ACERCA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA, RACISMO ESTRUTURAL E SAÚDE DAS MULHERES NEGRAS NA PERSPECTIVA DA EQUIDADE
Pôster Eletrônico
1 URCA
Apresentação/Introdução
A violência obstétrica representa uma séria violação de direitos humanos, impactando principalmente mulheres negras devido ao racismo estrutural. Heranças históricas e estereótipos racistas influenciam práticas clínicas atuais, revelando um sistema de saúde que marginaliza e vulnerabiliza essas mulheres, afetando gravemente sua saúde física e mental.
Objetivos
Analisar a literatura recente sobre violência obstétrica vivenciada por gestantes negras, considerando a interseccionalidade socioeconômica.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa, baseada em cinco etapas metodológicas: formulação da pergunta de pesquisa; busca nas bases PUBMED, SciELO, LILACS, MEDLINE e BDENF; seleção e avaliação dos artigos; análise; e apresentação dos dados. Foram utilizados descritores em português e inglês sobre violência obstétrica, racismo e saúde da mulher. Após triagem de 1.104 artigos e aplicação de critérios de inclusão/exclusão, 17 estudos compuseram a amostra final. A análise seguiu a abordagem PRISMA, utilizando palavras-chave complementares e cruzamento de operadores booleanos para ampliação da busca e fortalecimento da análise crítica dos achados.
Resultados
Os estudos analisados evidenciam que mulheres negras sofrem formas específicas e agravadas de violência obstétrica, como intervenções sem consentimento, humilhações, gaslighting e negligência. O racismo obstétrico intensifica essas violências e afeta negativamente a saúde física e mental dessas mulheres, com maior risco de depressão pós-parto, traumas e mortalidade. A baixa percepção de violência entre as vítimas, aliada a estereótipos e desigualdades institucionais, perpetua a invisibilidade do problema. O conhecimento produzido aponta para a urgência de ações antirracistas em todos os níveis da assistência e formulação de políticas públicas eficazes.
Conclusões/Considerações
A violência obstétrica, agravada pelo racismo estrutural, impacta de forma desproporcional mulheres negras. Superá-la exige ações educativas, políticas antirracistas e mudanças institucionais. A revisão reforça a necessidade de reconhecer essa violência como questão de saúde pública e direitos humanos, promovendo práticas equitativas que assegurem um cuidado digno, seguro e respeitoso para todas as mulheres.
PENSAR A “OBESIDADE” A PARTIR DAS ENCRUZILHADAS E POR UMA LENTE INTERSECCIONAL: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS PARA O ENFRENTAMENTO DO ESTIGMA DO PESO
Pôster Eletrônico
1 FSP/USP
2 FSP/USP e FMUSP
Apresentação/Introdução
A “obesidade”, entidade patológica sócio historicamente construída e altamente estigmatizada, tem sido abordada como uma grave questão de saúde pública. Em torno da patologização do corpo gordo, produzem-se disputas epistemológicas intensas. Para que o estigma do peso - (re)produzido junto a outras opressões - seja enfrentado, exige-se a compreensão interseccional e encruzilhada da “obesidade”.
Objetivos
Produzir, por meio de uma Pedagogia das Encruzilhadas, contribuições teóricas para pensar a obesidade e o enfrentamento do estigma do peso de forma interseccional em processos educativos voltados à Saúde.
Metodologia
Realizou-se revisão bibliográfica não estruturada nos campos: estudos sobre a obesidade; estudos críticos sobre a obesidade; ciências do peso e do estigma; fat studies e ativismo gordo. As produções foram analisadas a partir de um processo de imersão teórica sustentado por cerca de cinco meses. As leituras foram orientadas por uma lente interseccional e por uma “pedagogia das encruzilhadas”, que propõe a produção de novas formas de transitar o mundo, a partir de uma desordenação e colapso de diferentes saberes que leve à construção de novos caminhos. Assim, produziram-se reflexões teóricas e uma proposição de abordagem pedagógica decolonial a respeito da obesidade e do estigma do peso.
Resultados
Identificou-se um amplo campo de disputas em torno das formas com que se narra a obesidade, especialmente no que diz respeito à patologização ou despatologização do corpo gordo, reflexão essencial ao processo formativo. Junto a isso, observa-se raízes comuns entre a (re)produção do racismo, do estigma do peso e ideais eugenistas, fortemente atravessadas por questões de gênero, compondo um tripé que discrimina e patologiza especialmente mulheres negras e gordas. Ademais, o sistema econômico-social capitalista demonstra ter fortes influências na construção e determinação da abordagem pública da obesidade, com uma crescente incorporação tecnológica ao se propor seu “manejo” ou “tratamento”.
Conclusões/Considerações
Para que se proponha estratégias de formação contundentes para o enfrentamento do estigma do peso, tendo em vista os fortes atravessamentos interseccionais que modelam a forma como se dá a patologização do corpo gordo e a (re)produção do estigma, considera-se necessária a compreensão dos diferentes campos que abordam os temas e uma discussão aprofundada a respeito do racismo, sexismo e os ideais de saúde com que se operam as práticas de cuidado.
MASCULINIDADES E CUIDADOS COMUNITÁRIOS: ANÁLISE DE EXPERIÊNCIAS E TRAJETÓRIAS EM PERSPECTIVA INTERSECCIONAL
Pôster Eletrônico
1 UFRGS
2 Coletivo Ponto Gênero
3 Unisinos
Apresentação/Introdução
Os estudos sobre masculinidades se tornaram fundamentais para a discussão da equidade de gênero na América Latina, evidenciando a relação entre masculinidade hegemônica e dinâmicas de poder. Esses estudos, em diálogo com perspectivas feministas, buscam transformar estereótipos que reduzem os homens a "produtores de violência" ou à falta de cuidado, promovendo masculinidades gênero-sensíveis.
Objetivos
Analisar a relação entre as dinâmicas de gênero e racial e as práticas do cuidado, na sua dimensão comunitária e na articulação com políticas públicas, em um território urbano periférico do sul do Brasil, no cenário da pandemia de COVID-19.
Metodologia
Tratou-se de uma pesquisa qualitativa que se insere no campo teórico-ético-político dos estudos interseccionais latino-americanos. A pesquisa-ação foi realizada na cidade de São Leopoldo/RS entre os anos 2020 e 2024, sendo que a participação dos sujeitos afetados pela situação-problema acompanhou o desenho de investigação. Integramos diferentes métodos e técnicas com uma forte dimensão participativa, tendo como meta final uma proposta de intervenção comprometida com a equidade de gênero e racial no território. Centramos nossa análise nas narrativas e experiencias de dois homens entrevistados, ambos cisgêneros, sendo um deles branco e outro negro, com atuação comunitária.
Resultados
Os cuidados comunitários são centrais para as vidas no território, principalmente durante crises e com a precarização/ausência de equipamentos públicos. Os entrevistados, a partir de seus diferentes lugares, se mostraram comprometidos com o cuidado comunitário, a partir de um olhar interseccional, que leva em consideração especificidades de mulheres que sofrem violências, dos desafios de mães solo, do racismo e apagamento que pessoas negras têm sofrido no território, destacando a importância das experiências históricas e sociais que moldam suas práticas. Isto refere a uma ética do cuidado como responsabilidade de diversos atores sociais, reforçando uma lógica de garantia de direitos.
Conclusões/Considerações
Abordamos as desigualdades sociais que afetam a produção de cuidado em contextos de precarização e crise, questionando como as políticas públicas podem ser mais inclusivas e sensíveis às relações de gênero e raça. As narrativas revelam a necessidade de fomentar masculinidades que abracem o cuidado como uma prática social possível, capaz de transformar as dinâmicas de gênero estabelecidas socialmente, com foco na promoção da equidade.
TERRITÓRIOS EM REDE: MULHERES NEGRAS E ESTRATÉGIAS COMUNITÁRIAS E ENFRENTAMENTO ÀS DESIGUALDADES
Pôster Eletrônico
1 PUC-Rio
Apresentação/Introdução
A pesquisa analisa a atuação social e política de mulheres ativistas de base comunitária em favelas e periferias do Rio de Janeiro. Suas práticas articulam acolhimento, redes de solidariedade e múltiplas estratégias de enfrentamento das desigualdades sociais e de saúde. Essas experiências tensionam o racismo estrutural nos campos da vida social e na luta por direitos.
Objetivos
Compreender a atuação social e política de mulheres ativistas em favelas e periferias, sistematizando suas práticas e articulação em rede para respostas coletivas as múltiplas determinações sociais da saúde.
Metodologia
A pesquisa adota a abordagem da pesquisa-ação participativa, com métodos mistos e construção coletiva do conhecimento. A amostra é composta por 30 mulheres líderes comunitárias (20 do Rio de Janeiro e 10 da Região Metropolitana). A coleta de dados envolve entrevistas semiestruturadas, histórias narrativas, rodas de conversa e observação participante. A análise baseia-se em referenciais do feminismo negro, em uma perspectiva interseccional e decolonial. O estudo considera o cuidado como direito e prática política, integrando múltiplas dimensões do cotidiano como a educação escolar, segurança alimentar, ações de promoção da saúde e acolhimento em territórios historicamente negligenciados.
Resultados
Os dados preliminares mostram que 94% das participantes são negras, 84% são mães e 58% são chefes de família. Essas mulheres atuam em diversas áreas, como educação, saúde, cultura, meio ambiente e assistência social. Dentre os desafios estão a sobrecarga com o trabalho de cuidado, a insegurança alimentar, o desemprego, a violência doméstica e a repressão estatal. Essas ativistas comunitárias constroem práticas de escuta, apoio mútuo e mediação de conflitos, fortalecendo vínculos comunitários. Suas ações revelam formas de resistência e afirmação de direitos por meio do cuidado, do acolhimento e das inúmeras propostas de ação entendidas como ação política cotidiana nos territórios.
Conclusões/Considerações
A pesquisa evidencia que mulheres negras lideram experiências contra hegemônicas de cuidado e resistência em territórios periféricos. Suas práticas, enraizadas em saberes comunitários, reconfiguram o campo da saúde coletiva, tensionando estruturas de poder como a branquitude e o racismo institucional. Reforça-se a urgência de políticas interseccionais que reconheçam o cuidado como prática política e eixo estruturante da justiça social.
EDUCAÇÃO MENSTRUAL COMO ESTRATÉGIA PARA MITIGAR VULNERABILIDADES
Pôster Eletrônico
1 UFRGS
Apresentação/Introdução
A menstruação ainda é cercada por tabus e desinformação, gerando exclusão no ambiente escolar. Pessoas que menstruam enfrentam vulnerabilidades que afetam saúde, autoestima e permanência nos estudos. Diante disso, a educação menstrual desponta como uma estratégia essencial para enfrentar essa realidade, promovendo equidade, saúde global e práticas sustentáveis.
Objetivos
Identificar o impacto de ações de educação menstrual na redução de vulnerabilidades individuais, sociais e programáticas do Quadro da Vulnerabilidade e Direitos Humanos (V&DH).
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo e exploratório, realizado com 14 participantes, entre 10 e 15 anos, de uma escola pública de Porto Alegre (RS). As participantes foram convidadas por meio de um grupo de educação menstrual ativo na escola. A produção de dados ocorreu entre agosto de 2024 e março de 2025, por meio de entrevistas semiestruturadas em profundidade. A análise seguiu a proposta da análise temática de Minayo e o referencial da V&DH. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS, CAAE: 77555924.6.0000.5347, parecer: 6.786.935 e da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMSPA), CAAE: 77555924.6.3001.5338, parecer: 6.940.104.
Resultados
Identificou-se que as ações de educação menstrual promovem a quebra de tabus culturais, contribuem para o empoderamento de pessoas que menstruam e ampliam o acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva. Evidenciou-se que tais ações, quando associadas à distribuição de absorventes e à criação de políticas públicas específicas, reduzem vulnerabilidades relacionadas à vivência menstrual, promovendo equidade, cidadania e sustentabilidade. Nesse sentido, experiências intersetoriais entre educação, saúde e assistência social mostram-se como ferramentas importantes para a mitigação dessas vulnerabilidades.
Conclusões/Considerações
A educação menstrual é uma estratégia potente para combater desigualdades e vulnerabilidades. Além de informar, ela transforma realidades ao promover saúde, dignidade e equidade. Investir em políticas públicas que integrem educação e acesso a insumos menstruais é essencial para garantir justiça social e igualdade de gênero.
ANALISANDO O IMPACTO DA RAÇA E DA RENDA NA PERCEPÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO ENTRE PESSOAS LGBTQIAPN+ NO BRASIL: UM ESTUDO TRANSVERSAL NACIONAL
Pôster Eletrônico
1 INI-Fiocruz
2 ENSP-Fiocruz
3 Simon Fraser University
Apresentação/Introdução
Pessoas LGBTQIAPN+ são sistematicamente discriminadas com base na orientação sexual e gênero. Estruturas sociais moldadas por fatores como racismo e classismo, podem contribuir para a produção e reprodução sistemática de desigualdades. No entanto, ainda há pouco conhecimento sobre como a raça e a classe, individualmente e de forma interseccional, moldam a discriminação percebida.
Objetivos
Analisamos se e como a raça e a renda influenciam a discriminação percebida entre gays, bisexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas transgênero e não binárie (TGNB) no Brasil.
Metodologia
Nossos dados provêm de um inquérito online com 7878 HSH e TGNB ≥18 anos residentes no Brasil, entre novembro de 2021 e janeiro de 2022. Utilizamos a Escala de Discriminação Explícita de 8 itens para avaliar a frequência da discriminação percebida (pontuações mais altas = maior discriminação), e os motivos percebidos para descriminação (ex. raça, classe, orientação sexual). Os participantes foram estratificados em seis grupos mutuamente exclusivos, considerando a raça (preta, parda, branca) e o renda (baixa e alta). Modelos de regressão binomial negativa foram usados para avaliar os preditores de discriminação percebida, incluindo a interação entre raça e renda.
Resultados
Brancos de alta renda tiveram menor pontuação de discriminação (média 2.9), enquanto participantes pretos tiveram pontuações mais elevadas, independentemente da renda (alta renda: 5,0; baixa renda: 5,0). Participantes pretos de baixa renda reportaram maior número de motivos para discriminação (média 3,7) em relação aos brancos de alta renda (média 2,4; p<0,001). Discriminação por orientação sexual foi percebida por todos os grupos, independentemente da raça ou renda. Raça e renda foram preditores de discriminação (Parda: aOR1,21 e Preta: aOR1,97 [ref. Branca]; baixa renda: aOR1,16 [ref. alta renda]) mesmo após o ajuste para interação raça/renda e outras covariáveis.
Conclusões/Considerações
Garantir os direitos de pessoas LGBTQIAPN+ negras e de baixa renda deve ser considerado um pilar central para promover a equidade na saúde. Investimentos em educação antirracista e na proteção e expansão de políticas redistributivas, como o Bolsa Família e a ação afirmativa na educação, são estratégias essenciais para enfrentar as formas interseccionais de discriminação que continuam a moldar os resultados de saúde no país.
SOFRIMENTO MORAL, POLÍTICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS E INTERSECCIONALIDADE NA ESCOLA MÉDICA
Pôster Eletrônico
1 UNICAMP
Apresentação/Introdução
O Sofrimento Moral (SM), difere de outras formas de sofrimento mental, por envolver conflitos éticos institucionais que atravessam a identidade e a permanência de alunas ingressas por Políticas de Ações Afirmativas (PAA) na escola médica. Assim, o ensino médico, marcado pelo colonialismo, produz experiências de sofrimento diferentes a partir das distinções identitárias de raça, gênero e classe.
Objetivos
Analisar como o SM de mulheres estudantes de medicina ingressas por PAA é relatado pela literatura indexada, considerando a interseccionalidade de gênero, raça e classe, a partir de uma perspectiva dos Estudos Culturais (EC) em saúde.
Metodologia
Foi realizada uma revisão de literatura sobre SM no ensino médico, com ênfase em abordagens interseccionais de raça, gênero e classe. A busca foi conduzida em bases indexadas BVS, PubMed e Scielo, utilizando os descritores: "moral distress", "medical education". Foram encontrados 964 estudos e após a aplicação dos critérios de inclusão foram selecionados 81 estudos. Após a leitura dos resumos, permaneceram 30 publicações entre 2020 e 2025. Os artigos foram analisados criticamente a partir dos EC em Saúde, norteado pela pergunta: como o SM de mulheres estudantes de medicina ingressas por PAA é representado pela literatura indexada?
Resultados
Entre os 30 estudos sobre SM na escola médica, não foram encontrados artigos que investigaram o SM de alunas ingressas por PAA, assim como estudos de raça. Foram encontrados, dois estudos sobre gênero e um estudo sobre classe social dos estudantes. O EC revelou uma lacuna na articulação entre SM e marcadores interseccionais na formação médica. A literatura concentra-se em dilemas éticos, omite marcadores sociais e pouco discute experiências de alunas negras, pardas, indígenas e transexuais. Estudos que tratam de SM apontam maior vulnerabilidade de mulheres, mas não vinculam esse sofrimento às práticas institucionais de exclusão simbólica e epistemológica.
Conclusões/Considerações
Para os EC, a produção científica é um “espelho” da formação médica, e a invisibilidade dos marcadores identitários no SM de estudantes de medicina, operam de forma sistemática na exclusão simbólica de alunas ingressas por PAA. Romper com a produção científica universalizante, exige adotar uma perspectiva que evidencie as formas de opressão presentes na formação médica, para construir segurança epistêmica e permanência segura para alunas de PAA.
SEVERINOS: UM ESTUDO SOBRE A AUTOPERCEPÇÃO DA SAÚDE DOS MIGRANTES NORDESTINOS VIVENDO EM UM TERRITÓRIO DE FAVELA NO RIO DE JANEIRO-RJ
Pôster Eletrônico
1 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A migração é um determinante social em saúde e também é produto de outros determinantes sociais. Ao migrar, os sujeitos estão expostos a novas condições com repercussões na sua saúde. No Brasil, a migração é fenômeno frequente desde os tempos mais remotos e a região Nordeste se destaca como lócus migratório, principalmente com destino para a região Sudeste.
Objetivos
Analisar a autopercepção da saúde de migrantes nordestinos vivendo em um território de favela no Rio de Janeiro a partir de narrativas sobre suas histórias de vida.
Metodologia
A investigação realizada foi de caráter qualitativo e exploratório, com abordagem descritiva. Foram entrevistados nordestinos que vivem em Manguinhos, um território de favela no Rio de Janeiro no período compreendido entre Outubro-Dezembro/2023. As entrevistas seguiram um roteiro semiestruturado, com dados sociodemográficos e perguntas norteadoras sobre o tema. As entrevistas foram transcritas e os dados obtidos foram organizados por categoria. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública sob o parecer 6.300.881
Resultados
Foram entrevistados 5 nordestinos vivendo em Manguinhos. Em sua maioria, naturais da Paraíba, com tempo de migração superior há 10 anos. Os resultados obtidos foram categorizados em: fatores causais da migração; uso de plantas medicinais como ferramenta de autocuidado; acesso à serviços de saúde e consequências do movimento migratório. Os entrevistados mencionaram melhores condições de saúde no Rio de Janeiro, ressaltando uma melhora da renda e manutenção da rede de apoio, sugerem uma mudança nas práticas de autocuidado, desvalorizando a fitoterapia praticada no Nordeste. Divergem quanto ao acesso aos serviços de saúde nos territórios de origem.
Conclusões/Considerações
O presente estudo colabora para a compreensão da migração como determinante social em saúde, evidenciando a história desses migrantes nordestinos, conduzindo para um melhor entendimento de quem são essas pessoas e de como enxergam os produtos produzidos pela migração em sua vida e sua saúde.
ENTRE CORPOS E TERRITÓRIOS: DISSEMINANDO PRÁTICAS CORPORAIS E INTEGRATIVAS NO PORTFÓLIO DE PRÁTICAS INSPIRADORAS EM ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
Pôster Eletrônico
1 IRR/FIOCRUZ MINAS
2 EPSJV/FIOCRUZ
3 UNESA/RJ
Apresentação/Introdução
A pesquisa dá continuidade ao desenvolvimento do Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial, com foco na expansão metodológica e disseminação científica do campo das práticas integrativas, corporais e atividades físicas. Sustenta-se em saberes ancestrais e populares, orientando estratégias de cuidado coletivo em saúde mental sob uma perspectiva crítica e decolonial.
Objetivos
Relatar a pesquisa “O Site Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial: expansão e Disseminação Científica com foco no campo das Práticas Integrativas, Práticas Corporais e Atividades Físicas”, como produção de cuidado em saúde mental.
Metodologia
A pesquisa totalmente original parte do site Portfólio de Práticas Inspiradoras em Atenção Psicossocial é um trabalho participativo e colaborativo realizado por pesquisadores com experiências diversas. Foram selecionadas nos Anais Abrasco e Abrasme práticas corporais, integrativas e atividades físicas desenvolvidas em diferentes partes do país e para públicos plurais. Essas práticas foram alocadas dentro do Portfólio em diferentes campos do saber, como Educação Popular, Saberes Tradicionais, Direitos Humanos, e outros; além de distribuídas por eixos, tais como: atividades artístico/culturais, rodas comunitárias e práticas grupais.
Resultados
A pesquisa projetou e está entregando dois produtos principais desenvolvidos com o apoio fundamental do programa de fomento da equipe da Vice-Direção de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico/VDPDT/EPSJV e da rede de pesquisa formada a partir dele: Um Seminário de Pesquisa com debates teórico/conceituais nos campos das Práticas Integrativas, Práticas Corporais e Atividades Físicas, para discutir sua importância estratégica para o SUS, e suas conexões com a Saúde Mental, Atenção Psicossocial e os caminhos coletivos para o cuidado, um capítulo de livro e a expansão do Portfólio de Práticas, incluindo novos relatos de experiências no campo das Práticas Corporais e Integrativas.
Conclusões/Considerações
A pesquisa viabiliza a disseminação de saberes desmedicalizantes no SUS, destacando seu papel como alternativa possível ao sofrimento em saúde mental e na coletivização da Luta Antimanicomial. Os produtos desenvolvidos contribuem para políticas públicas mais equitativas e alinhadas as necessidades diversificadas da população, construindo esse caminho através das próprias potências territoriais.
FUNK, SAÚDE E NECROPOLÍTICA NA PRISÃO DE MC POZE.
Pôster Eletrônico
1 FMUSP
Apresentação/Introdução
A prisão de MC Poze do Rodo, em maio de 2025, reacendeu o debate sobre a criminalização do funk e da juventude negra periférica no Brasil. A forma como o episódio foi conduzido, tanto pelas forças de segurança quanto pela mídia, evidencia o modo como o funk segue sendo alvo de repressão. Esta pesquisa parte do reconhecimento do funk como prática cultural que produz saúde nos interstícios da necropolítica.
Objetivos
Investigar como o funk opera como espaço de produção de saúde para a juventude negra periférica. Especificamente: contribuir para a formulação de políticas públicas que reconheçam práticas culturais como estratégias de produção de saúde.
Metodologia
A pesquisa adota uma abordagem qualitativa de base etnográfica, ancorada nos referenciais da saúde coletiva, e em especial diálogo com a antropologia e o pensamento negro radical. A produção de dados inclui observação participante em um baile funk na cidade de São Paulo, com registros audiovisuais, sonoros, anotações de campo e entrevistas com jovens funkeiros. Complementarmente, realiza-se uma análise multimodal que articula discursos institucionais, produções artísticas e reações nas redes sociais em torno da criminalização do funk. Tal abordagem permite mapear os sentidos de saúde que escapam às categorias biomédicas, compreendendo o som, a imagem e a performance.
Resultados
A cor da pele, o corpo em movimento, a estética das roupas, o som alto e o encontro noturno configuram um modo de produzir saúde que escapa às métricas convencionais da própria saúde. A prisão de MC Poze operou como catalisador simbólico: nas redes sociais, jovens expressaram revolta, denunciaram o racismo institucional e defenderam o artista como “voz do morro”. Tais manifestações revelam uma leitura coletiva de que sua prisão diz menos sobre transgressões legais e mais sobre o controle sistemático de corpos que insistem em produzir vida. O funk cria brechas, fissuras e zonas de respiração coletiva contra a violência.
Conclusões/Considerações
A repressão ao funk e a prisão de MC Poze expressam uma tentativa de aniquilar uma juventude negra que insiste em existir, criar e ocupar espaço. Produzir saúde, nesse contexto, é um gesto radical que exige escutar os corpos que barulham o mundo. Este trabalho propõe o reconhecimento da saúde funkeira como campo legítimo de cuidado, recusando sua recorrente redução a um problema de segurança pública.
“EU NUNCA DEI DE MAMA”: DISPOSITIVO DE RACIALIDADE E PLANEJAMENTO REPRODUTIVO
Pôster Eletrônico
1 FSP/USP
Apresentação/Introdução
Há processos de vulnerabilização social que permeiam a vida da população negra usuária do SUS, retratando que o racismo não é um resquício do passado colonial, mas um mecanismo ativo que sustenta o capitalismo contemporâneo. A hierarquia racial, sustentada pelo dispositivo de racialidade, asseguram a acumulação de capital e garantem a permanência de negros em ciclos de pobreza (Carneiro, 2023).
Objetivos
Demonstrar como a negligencia a necessidades de mulheres negras se configuram em descuidado e reforçam os ciclos de pobreza. Trata-se de parte da Pesquisa de Mestrado: Mapas de Cuidado e iniquidades raciais: um olhar para a atenção primária em saúde.
Metodologia
Foram escolhidos 2 municípios da Grande São Paulo com histórico de ações da PNSIPN implementadas. Após entrevistar a equipe Coordenação da Atenção Básica solicitou-se indicação de equipe e usuários para entrevistas. O perfil dos usuários era ser negra/o, ter vínculo com a ESF e diagnóstico de DCNT. As entrevistas foram presenciais e gravadas e duração foi de 60 minutos. Os relatos foram organizados por dimensões de análise. As dimensões aqui apresentadas são: Princípios do SUS, Riscos e Vulnerabilidades. Utilizou-se o método biográfico: a partir da análise das narrativas individuais, identificaram-se representações sociais estruturadas que articuladas produzem sentido (CECILIO, 2014).
Resultados
Duas mulheres pretas, mãe (79) e filha (56), ex-domésticas, revelam suas histórias. A mãe perdeu 5 de 10 filhos para doenças infantis. A filha, com 4 filhos, nunca amamentou por precisar trabalhar, o que a mãe, que também não amamentou, via como "frescura", pois foi ensinada assim. Na equipe de saúde, há um dilema sobre a alta natalidade entre mulheres negras do território. Alguns acreditam que ofertar contraceptivos basta. Outros normalizam que a realidade de empregos precários e múltiplos filhos dificultam o autocuidado e a orientação das filhas, que acabam repetindo o ciclo de maternidade precoce de suas mães, perpetuando um ciclo de vulnerabilidades e riscos.
Conclusões/Considerações
Ao ignorar as interseccionalidades da saúde reprodutiva de mulheres negras, a ESF limita o cuidado, tornando consultas e prescrições insuficientes. A PNSIPN indica fortalecer a ESF e adotar critérios de risco para ampliar o acesso. Isso é fundamental para que a atenção primária enfrente as disparidades raciais e avance com práticas emancipatórias e antirracistas (Silva et al. 2018; Carneiro, 2023).
DISCRIMINAÇÕES E VIOLÊNCIAS NO COTIDIANO DE QUEM CUIDA: RELATOS DE AGENTES DE SAÚDE NO NORDESTE BRASILEIRO
Pôster Eletrônico
1 UFRN
Apresentação/Introdução
No Brasil, as formas de violências, incluindo práticas racistas, patriarcais e classistas, que atravessam a vida dos trabalhadores da saúde, precisam ser reconhecidas e alvo de intervenções. Os Agentes de Saúde são um elo importante entre a comunidade e o SUS, e podem estar mais expostos a violências e discriminações em seu cotidiano.
Objetivos
Explorar as vivências de discriminações e violências de Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Endemias na cidade de Natal/RN (Nordeste brasileiro), levando em consideração a interseccionalidade.
Metodologia
Pesquisa qualitativa, na perspectiva da pesquisa-intervenção, com metodologias participativas. As atividades foram estruturadas em formato de oficinas, ocorridas durante 4 meses, no contexto da Universidade, focando em discussões sobre as iniquidades presentes no trabalho dos agentes e estratégias de enfrentamento. Participaram do encontro 16 agentes (ACS e ACE), e 09 componentes do projeto. Os dados parciais aqui apresentados são extraídos de cartas individuais contendo narrativas de experiências de discriminação vivenciadas na vida dos profissionais.
Resultados
A principal forma de violência foi a discriminação racial, por meio de apelidos pejorativos (infância e adolescência) e sentimentos de não pertencimento em ambiente acadêmico. Outra forma de discriminação foi por classe, expressa pela subestimação em oportunidades de emprego devido à aparência ligada à pobreza, como também em violencias na escola particular direcionada a bolsista. A discriminação por gênero afetou mulheres que foram desconsideradas para vagas de trabalho por suposta fragilidade física, como também contra LGBTQ+, expressas pelo medo de manifestar afeto em público e assédio no ambiente de trabalho. Foram apontados ainda o etarismo, bullyng e intolerãncia religiosa.
Conclusões/Considerações
As formas de discriminação apresentadas se cruzam e interagem no cotidiano dos participantes, sendo um fenômeno multifacetado e enraizado, que opera através de uma complexa interação de raça, classe, gênero, sexualidade, idade e religião, entre outros. Tais experiências impactam significativamente no bem-estar pessoal e nas trajetórias profissionais, exigindo ações educativas e transversais para a construção da equidade e justiça social.
A INTERSECCIONALIDADE DOS MARCADORES RACIAIS NAS POLÍTICAS DE CICLOS DE VIDA DA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DE PERNAMBUCO
Pôster Eletrônico
1 IAM- FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A interseccionalidade nas políticas públicas em saúde é necessário para desnaturalizar processos históricos de exclusão.Torna-se urgente investigar se as políticas de ciclo de vida estão sendo desenvolvidas a partir de uma lógica que considere os marcadores raciais de forma interseccional. Demonstrando que o racismo opera na produção institucional de políticas de saúde.
Objetivos
Analisar como está estruturada a interseccionalidade dos marcadores raciais nas políticas de ciclos de vida da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco.
Metodologia
A pesquisa é de abordagem qualitativa, a partir da revisão documental das políticas de ciclos de vida da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES/PE), em especial aquelas voltadas à infância, adolescência, vida adulta e envelhecimento, no período de 2020 a 2024. Sendo feita a análise dos planos, programas e diretrizes estratégicas da SES/PE, observando a incorporação (ou não) dos marcadores raciais de forma transversal e interseccional. O estudo foi complementado com entrevistas semiestruturadas com gestores e profissionais, bem como com a análise de dados secundários sobre morbimortalidade e acesso aos serviços por raça/cor.
Resultados
As observações iniciais da pesquisa apontam que, embora existam avanços pontuais em ações afirmativas no campo da saúde, a transversalidade racial ainda não parece estar plenamente incorporada às políticas de ciclos de vida da SES/PE. Percebe-se uma tendência à fragmentação das políticas, com maior ênfase em marcadores etários e de gênero, enquanto a dimensão racial aparece de forma marginal ou ausente. Há indícios de que a população negra segue invisibilizada nos planejamentos estratégicos e nos sistemas de monitoramento. Tais elementos sugerem que as políticas analisadas ainda operam sob uma lógica universalista, incapaz de responder às desigualdades raciais historicamente produzidas.
Conclusões/Considerações
A interseccionalidade, embora reconhecida em discursos, ainda não é adotada como metodologia orientadora das políticas públicas de saúde. Sua ausência como prática concreta compromete a capacidade das ações de saúde de enfrentar de forma estruturada as iniquidades. Fortalecer a equidade exige a adoção da interseccionalidade como ferramenta metodológica, estratégica e política, condição indispensável para a universalidade e integralidade do SUS.
TRABALHO INFORMAL E SAÚDE: UM RELATO DE PESQUISA SOBRE AS CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO DE MULHERES NEGRAS
Pôster Eletrônico
1 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
O trabalho informal no Brasil atinge desproporcionalmente as mulheres negras, refletindo desigualdades estruturais históricas. Esta pesquisa analisa as condições de vida, trabalho e saúde de mulheres negras feirantes no Rio de Janeiro, cuja realidade é marcada pela precarização, invisibilidade e pela articulação com o trabalho de cuidado, impactando sua saúde.
Objetivos
. O objetivo do estudo é analisar, sob perspectiva interseccional, como as opressões de raça, gênero e classe influenciam o trabalho informal e de cuidado dessas mulheres, afetando suas condições de vida, saúde e estratégias de resistência.
Metodologia
Para alcançar tal objetivo, adota-se uma abordagem qualitativa de inspiração decolonial que combina cartografia social, para mapear processos no território da feira da Lapa (RJ), e a escrevivência, como ferramenta para a produção de diário de campo e análise. Os dados serão produzidos por meio de observação participante e entrevistas semiestruturadas com as trabalhadoras, e a análise será realizada a partir do referencial teórico-metodológico da interseccionalidade
Resultados
Como resultados preliminares, a revisão de literatura evidenciou a escassez de estudos sobre a saúde de feirantes negras sob uma ótica interseccional. Os dados apontam que a herança da escravização perpetua a inserção precária destas mulheres no mercado de trabalho, em ocupações sem direitos e com alta vulnerabilidade. O trabalho informal impõe riscos psicossociais, como estresse e instabilidade, e dupla jornada com o trabalho de cuidado, agravando as condições de saúde. O território da Lapa revela-se um espaço de resistência e sobrevivência, mas também de constante instabilidade e invisibilidade institucional.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que a pesquisa é relevante para a Saúde Coletiva ao dar visibilidade às opressões interseccionais (raça, gênero, classe) como determinantes da saúde de trabalhadoras informais. Compreender suas trajetórias, saberes e estratégias de resistência é fundamental para subsidiar políticas públicas que promovam equidade em saúde e condições dignas de trabalho, superando a invisibilidade histórica deste grupo.
PROJETO UHAYELE DE AÇÃO AFIRMATIVA : INCLUSÃO, ACESSO E PERMANÊNCIA DE PESSOAS NEGRAS EM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM STRICTO SENSU
Pôster Eletrônico
1 Unicamp
2 UFAC
Apresentação/Introdução
Políticas públicas têm sido desenvolvidas para grupos que sofrem discriminação étnica e racial com objetivo de reduzir a desigualdade e a falta de acesso, principalmente educacional(1). Na Universidade Estadual de Campinas ações afirmativas vêm sendo implementadas nos Programas de Pós-Graduação (PPG) ao longo dos anos, porém, o PPG em Enfermagem (PPG-Enf) ainda não faz parte desse grupo.
Objetivos
Planejar a implementação de política de ações afirmativas étnico-raciais no PPG-Enf com base em evidências científicas.
Metodologia
A metodologia adotada é uma pesquisa de implementação, que se fundamenta na tomada de decisão baseada em evidências, aderindo aos princípios de equidade, igualdade e responsabilidade. Esse tipo de abordagem tem se mostrado eficaz para a implantação e formulação de políticas públicas que visam à justiça social e à igualdade de oportunidades. O framework escolhido para a organização das etapas do estudo foi o ‘Ecossistema de Evidência’, que visa estruturar de forma clara e objetiva os processos de implementação, além de fornecer uma base conceitual sólida que dialoga diretamente com a ciência da implementação.
Resultados
Os resultados parciais do projeto demonstram que a proposta foi contemplada com financiamento de uma agência nacional de fomento à pesquisa, com a concessão de seis bolsas de estudo, distribuídas entre três pós-doutorados, um doutorado e dois mestrados. As primeiras etapas do projeto foram iniciadas no corrente ano, com a participação ativa de um pós-doutorando, um doutorando e um mestrando. Essas etapas incluem uma revisão de escopo das políticas brasileiras de ação afirmativa no âmbito da pós-graduação em enfermagem, além de um estudo qualitativo que visa compreender as experiências de acesso e permanência de estudantes negros nos PPGs de Enfermagem, com ênfase naqueles da Unicamp.
Conclusões/Considerações
O projeto Uhayele significa uma conquista histórica para o PPG-Enf da Unicamp pela necessidade de construção e implementação de política de ação afirmativa étnico-racial que amplie o acesso e permanência de pessoas negras na formação de enfermeiras/os e outras/os profissionais de saúde de alto nível com foco em investigação acadêmico-científica centrada nos conceitos de alteridade, equidade e interseccionalidade.
SUS,TERRITORIOS E NARRATIVAS: ESCREVIVÊNCIAS DE UMA PSICÓLOGA KALUNGA RESIDENTE EM SAÚDE DA FAMÍLIA DO CAMPO
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz / Brasilia
Apresentação/Introdução
Inspirada nas escrevivências de Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus, esta narrativa parte da vivência de uma psicóloga negra quilombola na saúde da família do campo. O corpo-território guia reflexões sobre raça, cuidado e território, destacando a psicologia comunitária como prática de resistência e transformação.
Objetivos
Sistematizar a trajetória vivida como psicóloga quilombola residente em saúde da família do campo, evidenciando como raça, território e ancestralidade influenciam práticas de cuidado em saúde mental.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo, de base narrativa, ancorado na escrevivência como método e teoria. O trabalho parte da autoetnografia e da observação participante realizada durante as práticas na Atenção Primária à Saúde em territórios rurais do Distrito Federal. A territorialização, os vínculos com usuários/as e a escuta das histórias de vida foram fundamentais para a produção de sentidos e análises críticas sobre o cuidado.
Resultados
Trata-se de um estudo qualitativo, de base narrativa, ancorado na escrevivência como método e teoria. O trabalho parte da autoetnografia e da observação participante realizada durante as práticas na Atenção Primária à Saúde em territórios rurais do Distrito Federal. A territorialização, os vínculos com usuários/as e a escuta das histórias de vida foram fundamentais para a produção de sentidos e análises críticas sobre o cuidado.
Conclusões/Considerações
O trabalho reafirma que o cuidado em saúde do campo, para ser integral e equitativo, deve considerar as dimensões raciais, territoriais e culturais dos sujeitos. A escrevivência de uma psicóloga negra e quilombola evidencia que práticas comprometidas com a escuta, o vínculo e a ancestralidade transformam o SUS em território de luta e afirmação.
A DIFERENÇA DA LEGISLAÇÃO E DA POLÍTICA DE SAÚDE PÚBLICA VOLTADA PARA USUÁRIOS DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NO BRASIL E EM PORTUGAL
Pôster Eletrônico
1 ENSP/FIOCRUZ
Apresentação/Introdução
A pesquisa discute a diferença da legislação e da política de saúde pública voltada para os usuários de álcool e drogas no Brasil e em Portugal, dando ênfase aos seus contextos sócio-político-histórico-cultural. Sendo indiscutível que a população que faz uso nocivo de drogas, passa por diversas violências que são reforçadas pelas leis e pelas políticas de saúde que atravessam a prática do cuidado.
Objetivos
O objetivo é entender como as legislações e as políticas de saúde pública interferem na prática de cuidado do usuário de drogas no Brasil e em Portugal, levando em consideração o olhar da interseccionalidade através da perspectiva decolonial.
Metodologia
A metodologia utilizada será a revisão de literatura narrativa sob a perspectiva da interseccionalidade, com isso será realizado o levantamento de artigos científicos, reportagem, documentário e, principalmente, legislação e políticas de saúde pública voltada a usuários de álcool e outras drogas no Brasil e em Portugal. Com a finalidade de produzir e fundamentar teoricamente uma pesquisa crítica e qualitativa, a partir do contexto sócio-histórico-cultural-político. Para isso será levado em consideração o atravessamento da abordagem interseccional como um conceito teórico-metodológico.
Resultados
Observou-se que a origem do proibicionismo no Brasil tem relação com questões raciais pós-abolição com leis que criminalizam os costumes da população negra.Reverberando na lei 11.343/2006, que diferencia traficante de usuário pela vestimenta e local, sendo revista em 2024 pelo STF especificando a quantidade de maconha a ser portada.Portugal teve uma legislação punitivista,mas em 2001 descriminalizou as drogas e priorizou o cuidado pela redução de danos.O Brasil também avançou em políticas de saúde, mas enfrenta barreiras proibicionistas. Nota-se, que nas leis e nas políticas de saúde pública um atravessamento higienista e eugenista de corpos que devem ser cuidados e outros criminalizados.
Conclusões/Considerações
É fundamental que se considere na construção da legislação e das políticas de saúde pública os diferentes perfis e lugares sociais dos sujeitos, visto que há estigma de usuário de drogas e, por esse motivo, deve-se levar em consideração os determinantes sociais. Dessa forma, a pesquisa defende que as leis e as políticas de saúde pública contribuem como ferramenta de atuação para a prática do profissional de saúde.
ANÁLISE DAS POLÍTICAS SOBRE DROGAS NA AGENDA RETÓRICA PRESIDENCIAL BRASILEIRA (2003–2025)
Pôster Eletrônico
1 UESB
2 IECmed
Apresentação/Introdução
Este estudo investiga a retórica dos presidentes brasileiros entre 2003 e 2025 no campo das políticas sobre drogas, levando-se em consideração a criação da Política Nacional sobre Drogas no Brasil em 2006. A análise parte da necessidade de compreensão das prioridades elencadas na formulação de políticas públicas, com possíveis implicações para a saúde coletiva e os princípios do SUS.
Objetivos
Analisar a atenção dada as políticas sobre drogas na agenda retórica presidencial brasileira, no que se refere ao período de 2003 a 2025.
Metodologia
Uma Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2001) foi aplicada a planos de governo, discursos de posse e mensagens anuais dos presidentes Lula (2003-2011 e 2023-2025), Dilma (2011-2016), Temer (2016-2019) e Bolsonaro (2019-2022). Foram analisados vocabulário temático, enquadramentos narrativos e omissões. A análise foi triangulada com dados secundários do Ipea, Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias e Lei nº 11.343/2006. Obaldia (2021), Rosaneli (2021) e Soares et al. (2023) forneceram a base teórica para contextualizar os impactos discursivos nas políticas públicas de drogas. Descritores: Análise de Discurso; Legislação sobre Drogas; Redução de Danos; Presidente.
Resultados
Os gestores reforçaram o paradigma proibicionista nas narrativas políticas que constituem o campo argumentativo analisado, embora com estilos distintos. Bolsonaro usou uma linguagem de guerra e reforço da repressão, sem qualquer menção à saúde ou desigualdade racial. Lula moderou o tom, introduzindo vocabulário relacionado a direitos, mas manteve o foco na criminalização e omitiu o debate sobre redução de danos ou descriminalização. A retórica, em ambos os casos, colaborou para legitimar políticas excludentes e manter invisíveis os efeitos sociais e raciais da política sobre drogas.
Conclusões/Considerações
A retórica presidencial tem papel central na manutenção de políticas de drogas repressivas e racialmente seletivas. Superar essa lógica exige uma virada discursiva que inclua os princípios da saúde coletiva, da redução de danos e dos direitos humanos como fundamentos centrais de políticas públicas mais justas e equitativas.
TRAUMAS DO DESLOCAMENTO CULTURAL E A PRODUÇÃO DE INIQUIDADES EM SAÚDE À LUZ DA EPISTEMOLOGIA AFROCÊNTRICA
Pôster Eletrônico
1 IESC/ UFRJ
2 UFRRJ
Apresentação/Introdução
O deslocamento cultural devido ao processo histórico de colonização/escravidão que os afrikanos sofreram instaurou uma mentalidade de maafa (o grande desastre) resultando em traumas definidores do estado de adoecimento da população negra. Mas cabe perguntar se e como os estudos no campo da saúde coletiva interpretam a relação desses traumas numa perspectiva transgeracional e as iniquidades raciais.
Objetivos
Investigar se e como os estudos epidemiológicos e no campo da saúde coletiva analisam os traumas promovidos por deslocamento cultural e sua relação com as iniquidades raciais em saúde
Metodologia
Propõe-se realizar uma revisão de escopo com o intuito de conhecer o contexto de pesquisas relacionadas ao trauma e deslocamento cultural como produtor de iniquidades em saúde. O estudo tem como fontes de informação: Periódicos Capes, PubMed, Scopus e Ebscohort, sendo utilizados esses termos de busca: Trauma colonial, Trauma Racial, Trauma Histórico, TEPT Racial (Trauma do Estresse Pós-Traumatico), SPTE (Sindrome Pós-traumática do escravo) e iniquidades/disparidades em saúde, entre os anos de 2000 e 2025. Trata-se de um trauma civilizacional que atua como matriz de adoecimento coletivo. A metodologia adotará os critérios PRISMA-ScR para garantir a transparência e a qualidade da revisão.
Resultados
Estudo em desenvolvimento, porém análises preliminares apontam para escassez de pesquisas relacionando traumas e deslocamento cultural e iniquidades em saúde. Tampouco, os estudos relacionados às iniquidades raciais em saúde se valem de uma epistemiologia afrocentrada para compreensão das causas históricas de adoecimento da população negra e da necessária transformação do pensamento, das práticas e perspectivas do campo científico nesta direção. Desvelando a importância de incorporar concepções de saúde que partem da cultura como dimensão constitutiva do bem-estar, valorizando saberes ancestrais, espiritualidade e pertencimento identitário como elementos indissociáveis da justiça racial.
Conclusões/Considerações
Esse trabalho se propõe a estudar o trauma e deslocamento cultural, para além de sua patologização pelos estudos clínicos, identificando as perspectivas teóricas e lacunas metodológicas dos estudos no campo da saúde coletiva que investigam as iniquidades raciais em saúde geradas pela mentalidade de maafa e seus impactos transgeracionais na saúde de pessoas pretas; originalmente africanos. Reforça-se a necessidade das perspectivas afrocentradas.
DECOLONIALIDADE E FORMAÇÃO: A AUSÊNCIA DE MARCAS DA DECOLONIALIDADE NOS CURRÍCULOS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO
Pôster Eletrônico
1 FCL - UNESP/ASSIS
Apresentação/Introdução
O trabalho objetiva discutir a presença ou ausência de marcas da decolonialidade nos currículos dos cursos de psicologia das universidades públicas do Estado de São Paulo. Para isso, entendemos como a colonialidade foi imposta através das estruturas de poder, dentre elas o currículo, que confirma o pensamento branco, masculino, cisgênero, heterossexual, colonial, em grande parte das disciplinas.
Objetivos
A pesquisa objetivou analisar e compreender as marcas de decolonialidade presentes em currículos de formação de psicólogas/os, por meio do levantamento dos planos de ensino dos cursos de psicologia de universidades públicas do Estado de São Paulo.
Metodologia
O trabalho se define enquanto uma pesquisa qualitativa e, assim, se debruça no universo de significados dos processos, fenômenos, das ações e relações humanas, e o faz a partir de uma abordagem dialética, de modo que a quantidade de marcas decoloniais nos planos de ensino dos currículos foi analisada enquanto uma qualidade do fenômeno do currículo enquanto campo de disputa. Assim, foi investigada a presença ou ausência de tais marcas, a parte do currículo em que estão alocadas e, caso não existam, ou apenas em pouca quantidade, o possível porquê, e como isso pode influenciar na formação de futuras/os psicólogas/os no atendimento da população no Sistema de Saúde.
Resultados
Foram encontradas poucas marcas da decolonialidade nos Planos de Ensino comparadas às quantidades totais analisadas. Encontraram-se localizadas, sobretudo, em matérias ligadas aos temas de Gênero e Sexualidade, Relações Étnico-Raciais e à Psicologia Social, não sendo discutida de forma transdisciplinar. Já a colonialidade se mostra presente em diversos outros âmbitos do curso, como nas disciplinas em que o pensamento predominante é o masculino, branco, cisgênero, heterossexual, de classe média, sendo a decolonialidade ausente, mesmo que para questionar tal conhecimento de forma a agregar outras perspectivas, impactando na formação e atuação da/o discente como profissional da psicologia.
Conclusões/Considerações
A Universidade segue uma lógica colonial, expressa em sua estrutura, seus integrantes, e saberes, através da colonialidade do saber, presente em suas teorias e no que é considerado legítimo para integrar o currículo. Ademais, o currículo atua enquanto mecanismo de saber-poder, construído historicamente pelo opressor, que seleciona, exclui e oportuniza ou não expressão de conhecimentos e epistemes, de povos anteriormente subjugados, na grade curricular.
CONHECENDO O LUGAR DOS JOVENS NEGROS NAS AÇÕES DE SAÚDE: INTERSECCIONALIDADES, RACISMOS E DECOLONIALIDADE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO RIO DE JANEIRO
Pôster Eletrônico
1 UERJ
Apresentação/Introdução
Este trabalho apresenta a experiência do Projeto de Pesquisa do NESA/UERJ, em 2025, com profissionais da Atenção Primária e da rede intersetorial da A.P 2.2, no Rio de Janeiro. O foco está no enfrentamento do racismo institucional e da intolerância religiosa, evidenciando as desigualdades que afetam adolescentes e jovens negros em seus contextos cotidianos.
Objetivos
Discutir os impactos das desigualdades estruturais e do racismo institucional na saúde da juventude negra, articulando interseccionalidades, religiosidades e saberes decoloniais no contexto da Atenção Primária à Saúde no NESA.
Metodologia
O estudo adota a interseccionalidade como referencial teórico-político, (Hill Collins e Akotirene), considerando as articulações entre raça, gênero, classe, território e religiosidade. Com métodos qualitativos e quantitativos, a análise é construída através de entrevistas pré estruturadas a profissionais da rede de saúde intersetorial da AP 2.2, território marcado por desigualdades e resistência cultural. A pesquisa se apoia nos conceitos de racismo religioso, colonialidade do saber (Quijano) e pacto da branquitude (Cida Bento), evidenciando a invisibilização dos saberes afro-diaspóricos e indígenas e como os corpos jovens negros são atravessados por práticas de exclusão no campo da saúde.
Resultados
O estudo revelou reflexões e ações construídas pelos profissionais de saúde da atenção primária da A.P 2.2. Convém, visibilizar a diversidade profícua de trabalhos existentes nestes territórios, que buscam potencializar a inclusão da questão étnico racial no âmbito da atenção à saúde. Ao mesmo tempo, ressaltamos a importância de mais ações que busquem impulsionar a aferição do quesito raça/cor que extrapolam os atendimentos individuais. Ressaltamos a importância da pactuação intersetorial no território, em prol da garantia de que haja investimento permanente e sistemático na formação dos profissionais e usuários para espraiamento dos seus conhecimentos sobre a pertença étnico-racial.
Conclusões/Considerações
Para enfrentar as desigualdades estruturais na saúde, é fundamental incorporar perspectivas interseccionais e decoloniais, valorizando saberes tradicionais e combatendo o racismo institucional. Políticas públicas devem reconhecer as subjetividades juvenis negras e periféricas, combatendo práticas excludentes e valorizando epistemologias locais como estratégia para um cuidado mais integral e justo.
PATRIARCADO, SEXISMO, MACHISMO E RACISMO COMO FATORES DESUMANIZADORES NO CUIDADO EM SAÚDE DE MULHERES
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1 UFRGS
Apresentação/Introdução
Apresentamos neste resumo um dos capítulos do projeto de dissertação de mestrado da autora sobre a mortalidade materna no RS. O capítulo trata do impacto do patriarcado, sexismo, machismo, além do racismo, na saúde das mulheres, colaborando com a mortalidade materna.
Objetivos
Compreender a relação do patriarcado, sexismo e racismo com os óbitos maternos e cuidados em geral da saúde das mulheres, sua influência em procedimentos baseados em evidências, cuidado humanizado e proteção dos direitos humanos das mulheres.
Metodologia
Foram realizadas buscas na base de dados Scielo (publicados entre 2005 e março de 2025) com diversas palavras chaves como “sexismo e cuidado em saúde”, “machismos e cuidado em saúde”, porém sem sucesso. Já o racismo já encontramos 3 artigos que, por meio de análises epidemiológicas, nos mostram que mulheres negras são a maioria dos óbitos maternos. Recorremos então para literatura em geral, buscando assuntos correlatos que indicassem que o cuidado em saúde é atravessado pelo sexismo, patriarcado e racismo, encontrando autoras diversas, entre jornalistas e sociólogas que dialogam com essa percepção.
Resultados
Assim como os determinantes sociais em saúde, e o modelo teórico conceitual da mortalidade materna que apontam desigualdades de raça e classe, oportunidades de estudo e trabalho, apoio social da própria comunidade, entre outras situações como fatores interseccionais e influentes no cuidado em saúde e seus desfechos, outras autoras apontam como, no decorrer da história, a vida sexual e reprodutiva das mulheres foi/é controlado pelos homens brancos e ricos, os modelos de assistência ao parto que subjugam as mulheres, o controle da natalidade, chegando em pesquisas clínicas que tem como “objeto” em sua maioria homens brancos europeus, não considerando especificidades biológicas diversas.
Conclusões/Considerações
Conclusões/Considerações finais (450/381): É necessário analisar o cuidado em saúde das mulheres sob diversas óticas. A interseccionalidade nos diz que raça, classe, sexo, local de moradia entre tantas outras situações são imprescindiveis para um cuidado adequaod em saúde. A mudança de paradigma de cuidado passa por educação antisexista, antipatriarcal e anti racista tanto dos profissionais de saúde quanto da população.
CUIDADO DECOLONIAL EM SAÚDE MENTAL: UMA PERSPECTIVA ANCESTRAL E AFRORREFERENCIADA
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz Ceará
2 UFF
Apresentação/Introdução
A visão de mundo europeia silenciou as demais e impôs uma invisibilização das culturas africanas e às diversas formas de cuidado. O racismo instituiu barreiras de acesso às mulheres negras. Isso refletiu na invisibilidade dessas mulheres na enfermagem. Se trata de um reflexo da dominação branca nos espaços sociais de poder. Tal condição marginaliza experiências e saberes dessas mulheres.
Objetivos
Relatar os resultados da pesquisa acerca do cuidado decolonial na saúde mental pela perspectiva de enfermeiras negras.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de abordagem sociopoética, realizada entre maio e setembro de 2023. Os dados foram produzidos com a participação de nove enfermeiras negras, constituindo, todas atuantes na área da saúde mental no estado do Rio de Janeiro. Por via de experimentações estéticas, com a confecção das abayomis ancestrais e do Xirê decolonial. A análise dos dados foi conduzida em consonância com o método analítico mulheril escrevivente, tendo sido validada pelas próprias participantes. Os dados foram categorizados pelo arquétipo dos orixás, sobre o cuidar afrorreferenciado. A pesquisa foi aprovada CEP.
Resultados
O racismo marcar profundamente a vida e formação das enfermeiras negras. No entanto, o cuidado delas realizado carrega uma potência ancestral e deve ser reconhecido como uma ferramenta de resistência decolonial. Com base na mitologia africana, se identificou 4 dimensões simbólicas do cuidado, cada uma associada a um orixá e interpretada a partir de uma leitura decolonial: Búzio (Exu), que representa a escuta e a comunicação; Espelho (Oxum), associado ao acolhimento; Espada (Ogum), relacionado à luta e à proteção; e Folha (Ossaim), ligado à cura e ao uso das ervas. As categorias evidenciam formas de cuidado que transcendem os modelos biomédicos tradicionais no campo da saúde mental.
Conclusões/Considerações
O cuidado decolonial se dá por uma transversalidade, compreende que o tempo é aliado na ressignificação do sofrimento psíquico e não apenas no abafamento sintomático como visto nas práticas coloniais. Essa definição não objetiva excluir as práticas conservadoras, mas pretende encontrar formas diversas que valorizam também outras culturas no lidar com as pessoas
O CORPO JUREMADO E A PESQUISA EM SAÚDE: AUTOETNOGRAFIA COMO CAMINHO DECOLONIAL NA PRODUÇÃO DO SABER
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz Pernambuco
Apresentação/Introdução
A pesquisa em saúde coletiva, quando atravessada por experiências vividas e corporificadas, pode gerar epistemologias decoloniais. Este trabalho apresenta reflexões em construção oriundas da trajetória do pesquisador-praticante juremeiro, que transita entre o universo acadêmico e o corpo ancestral da Jurema, revelando o papel da espiritualidade e ancestralidade na produção de saber em saúde.
Objetivos
Refletir sobre a autoetnografia como método e prática decolonial na pesquisa em saúde coletiva, destacando a experiência do pesquisador-praticante como ferramenta para construir um conhecimento situado e insurgente a partir da Jurema Sagrada.
Metodologia
Trata-se de um estudo autoetnográfico em construção, vinculado a uma pesquisa de doutorado em Saúde Coletiva, que emerge da trajetória política e espiritual do autor como liderança de terreiro de Jurema Sagrada. As reflexões resultam dos tensionamentos entre o saber acadêmico colonizado e os saberes ancestrais encarnados no corpo juremado. A autoetnografia é aqui ferramenta de resistência epistêmica e política, rompendo a colonialidade do saber. A experiência, o território, o corpo e os ritos são afirmados como fontes legítimas e insurgentes na produção de conhecimento em saúde.
Resultados
A autoetnografia revela que o cuidado na Jurema Sagrada não pode ser plenamente capturado pelas categorias da biomedicina nem pelas normativas técnico-burocráticas do SUS. As reflexões construídas ao longo da pesquisa evidenciam que o conhecimento emerge do corpo que sente, do chão do terreiro, das folhas, da fumaça, do toque, do canto e do silêncio. A presença do pesquisador como agente do cuidado, e não mero observador, permite acessar dimensões apagadas nas pesquisas convencionais. Essa experiência aponta para um conhecimento científico também espiritual, afetivo e ancestral. A autoetnografia se mostra potente para reconfigurar o campo epistemológico da saúde coletiva.
Conclusões/Considerações
A experiência autoetnográfica do pesquisador-praticante reafirma que o saber em saúde não se restringe à razão técnica, mas também brota da vivência, ancestralidade e espiritualidade. Reivindicar esse lugar, atravessado por mundos diversos, é gesto decolonial e insurgente que amplia o horizonte epistêmico da saúde coletiva e reconhece os saberes e cuidados da Jurema como legítimos, vivos e potentes.
O CAMPO DA SAÚDE COLETIVA COMO DISPOSITIVO DE RACIALIDADE: SABERES, PODERES E SUBJETIVAÇÕES
Pôster Eletrônico
1 UFC
2 UFC/UECE
Apresentação/Introdução
A Saúde Coletiva carrega omissões conceituais e estruturais frente às desigualdades raciais. Este trabalho parte de uma questão central: de que maneira o próprio campo da Saúde Coletiva – seus saberes, práticas e instituições – opera como um dispositivo de racialidade, nos termos de Sueli Carneiro, ao regular o dito, reconhecido e validado como conhecimento sobre e com a população negra.
Objetivos
Analisar como a produção de conhecimento no campo da Saúde Coletiva opera como um dispositivo de racialidade, com efeitos diretos na constituição da agenda científica, na visibilidade da população negra e na produção de verdades sobre saúde e raça.
Metodologia
O estudo compõe uma pesquisa em andamento, de natureza crítico-qualitativa e crítico-epistemológica. A metodologia se baseia em uma revisão bibliográfica de quatro dentre as principais revistas da Saúde Coletiva (Cadernos de Saúde Pública, Ciência & Saúde Coletiva, Physis e Saúde e Sociedade), com foco nos artigos que abordam a saúde da população, no período de 2010 a 2025. A base conceitual articula os Estudos Críticos da Raça, a Teoria Decolonial e, sobretudo, o conceito de dispositivo de racialidade, compreendido como uma engrenagem institucional que normatiza, hierarquiza e racializa a produção de conhecimento e subjetividades correlatas.
Resultados
Os dados preliminares apontam que, apesar do aumento de publicações sobre saúde da população negra nos últimos 5 anos, a presença do tema permanece marginal e frequentemente esvaziado de seu caráter histórico e político. Há predomínio de abordagens epidemiológicas ou sanitárias que reduzem o racismo a um fator de risco ou variável de análise, sem tensionar as bases epistemológicas que sustentam o campo. O dispositivo de racialidade se manifesta, também,no apagamento de autorias negras, na escassez de referenciais afrocentrados e na baixa problematização das formas como o conhecimento é produzido, circulado e legitimado.
Conclusões/Considerações
A proposta lança luz sobre as formas sutis e persistentes do racismo epistêmico no interior de um campo que se pretende emancipador, propondo uma virada crítica na forma de pensar a produção científica em saúde. Trata-se de um movimento epistemológico que busca descolonizar a produção de saber. É urgente que o campo da Saúde Coletiva produza espaço para vozes e epistemologias negras que historicamente foram silenciadas, excluídas e/ou exterminadas.
DECOLONIZANDO O CUIDADO FARMACÊUTICO: COMBATENTO OS PRECONCEITOS DE RAÇA, GÊNERO E SEXUALIDADE
Pôster Eletrônico
1 Universidade Federal de Minas Gerais
Apresentação/Introdução
O farmacêutico como profissional que cuida de pessoas, requer formação robusta em habilidades clínicas e humanísticas. O novo currículo que deve priorizar as questões que envolvem o cuidado, inclui debate sobre o gênero, a raça e a sexualidade e demanda estratégias educacionais inovadoras e críticas, tal como aponta a visão decolonial. Tais eixos orientam essa pesquisa de doutorado 2020-2024
Objetivos
O objetivo foi construir, implementar e compreender como estratégias educacionais que acolhem as diferenças raciais, de gênero e sexualidade podem identificar e combater esses preconceitos dentro dos processos de cuidados em serviços de saúde
Metodologia
As estratégias educacionais foram elaboradas a partir do prisma da decolonialidade visando combater estruturas que permanecem hierarquizando vidas, mesmo após a colonização. A colonialidade do saber foi combatida com a crítica freiriana ao ensino bancário, e da elaboração de autoetnografias e escrevivências que emergem de vivências de uma farmacêutica negra, com 20 anos de clínica no SUS e usa sua experiência de profissional, professora e paciente para denunciar a cultura violenta do sistema brancocisheteropatriarcal nos serviços de saúde. Tais textos evidenciam problemas reais para os educandos mobilizando-os através do engajamento empático rumo a promoção da equidade em saúde e justiça social
Resultados
No doutourado uma disciplina de 30 horas foi desenvolvida onde os educandos passaram por um processo de intensa reflexão sobre como os preconceitos emergem na prática dos profissionais de saúde. Na disciplina emergiu o processo do Letramento sociocrítico culminando em um giro decolonial identificado quando os educandos reabrem espaços de poder na faculdade. Foi construído o primeiro novembro negro da faculdade de farmácia da UFMG, que em 7 anos de evento abrigou sua primeira atividade antirracista. Por meio de escrevivências a primeira autora descobre um problema farmacoterapêutico relevante, que não é discutido entre farmacêuticos, apontando um viés raramente discutido no cuidado farmacêutico.
Conclusões/Considerações
As perspectivas decoloniais se mostram críticas inovadoras ao que está posto na profissão de farmácia. Apresenta inúmeras contribuições dentro de um contexto de hegemonia brancacisheterpatriarcal. A escrevivência, que foi descrita como “tangível, quase dá pra pegar e tátil”, mostrou-se útil para desvelar aspectos que tem sido historicamente silenciados em nossa sociedade, e, por isso, é experienciada como verdadeira, potente e mobilizadora.
AQUILOMBAMENTO ACADÊMICO NEGRO: UM RELATO AUTOETNOGRÁFICO SOBRE PERTENCIMENTO, RESISTÊNCIA E AFETIVIDADE EM PRÁTICAS DE PESQUISA INTERPROFISSIONAL E VIRTUAL
Pôster Eletrônico
1 EERP-USP
2 UNIFESP-Baixada Santista
3 FMUSP
4 IPqFMUSP
5 FFCLRP-USP
Apresentação/Introdução
Este estudo narra a experiência de seis pesquisadores negros reunidos virtualmente em torno de dois projetos acadêmicos. Mais do que ciência, construíram um espaço de acolhimento e pertencimento. A escrita coletiva tornou-se ferramenta de resistência e afeto, desafiando a lógica acadêmica tradicional e revelando a potência do aquilombamento na universidade.
Objetivos
Explorar as perspectivas, valores e práticas de pesquisadores negros atuando em um contexto acadêmico interprofissional virtual, destacando como o pertencimento e o aquilombamento fortalecem suas trajetórias e produções científicas.
Metodologia
Utilizou-se a autoetnografia crítica como base metodológica e política. A coleta ocorreu via roda de conversa virtual com seis pesquisadores negros, ancorada na escuta, horizontalidade e ancestralidade. As perguntas foram elaboradas coletivamente. A roda foi gravada via Google Meet, transcrita pelo software Clipto.AI e analisada via ATLAS.ti, complementada com diário de campo e observação participante. O método valorizou a oralidade, os afetos, as pausas e os silêncios, configurando um quilombo epistêmico afrocentrado. A diversidade de trajetórias dos participantes enriqueceu a análise, revelando múltiplas vivências e estratégias de resistência na universidade.
Resultados
Identificaram-se dois subtemas e um tema cultural. O primeiro evidencia os desafios enfrentados por pessoas negras na academia: ausência de representatividade, sensação de não pertencimento e racismo institucional. O segundo revela o fortalecimento afetivo e intelectual promovido pelo grupo: acolhimento, leveza e reconhecimento mútuo. O tema cultural central destaca o aquilombamento como estratégia de sobrevivência, resistência e produção epistêmica. A grupalidade emerge como prática afrocentrada, promovendo cura, troca e pertencimento. A experiência reafirma o valor da coletividade e da ancestralidade na produção de conhecimento acadêmico crítico e afetivo.
Conclusões/Considerações
A vivência do grupo revela a potência do aquilombamento como resposta afetiva e epistêmica à exclusão acadêmica. A autoetnografia permitiu protagonizar narrativas negras, construindo ciência com base na escuta, afeto e ancestralidade. O grupo validou saberes dissidentes e fortaleceu subjetividades. Conclui-se que o pertencimento coletivo transforma a universidade, tornando-a mais inclusiva, plural e comprometida com a justiça social.
"APRENDI A FALAR DO JEITO DELES": BRANQUITUDE E RACISMOS NA VIDA PROFISSIONAL MÉDICA - RESULTADOS INICIAIS DE ESTUDO QUALITATIVO
Pôster Eletrônico
1 Universidade de São Paulo
Apresentação/Introdução
Atualizada em 2025 pelo Conselho Federal de Medicina, a Demografia Médica não revela a raça dos profissionais em atuação. O desconhecimento dessa composição e a manutenção da maioria branca entre os ingressantes, uma década após as políticas afirmativas, refletem o racismo estrutural, institucional, e ilustram os pactos da branquitude prevalentes na medicina desde suas raízes eugênicas.
Objetivos
Compreender e comparar percepções de médicos negros e brancos sobre o impacto da raça na vida profissional, identificando expressões da branquitude e das dimensões do racismo.
Metodologia
Estudo qualitativo, exploratório, amparado na metodologia crítica da raça para saúde pública (Public health critical race methodology). Utiliza como instrumento entrevista semiestruturada com perguntas sociodemográficas, sobre trajetória de formação e se e como raça fez diferença na experiência profissional e na interação com residentes e estudantes. A análise temática, com identificação e organização de temas recorrentes a partir da leitura imersiva e reflexiva dos dados, segue a proposta de Braun e Clarke. A amostra foi combinada (conveniência e bola de neve) e foram documentadas recusas e ausências de resposta. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética e Pesquisa.
Resultados
Foram realizadas 15 entrevistas - 8 pessoas negras (4 pretas e 4 pardas) e 7 pessoas brancas. A maioria concluiu a graduação em escolas públicas, atua na saúde pública e suplementar e com educação médica. O processo de análise está na fase de familiarização com os dados e codificação do conteúdo. Médicos negros descreveram a necessidade de estratégias de adaptação e defesa (como “falar do jeito deles") para serem aceitos por colegas e pacientes brancos, relatando questionamentos sobre sua capacidade profissional, dificuldade de ascensão e episódios de racismo. Médicos brancos mencionaram serem bem tratados por serem "o padrão” da profissão, com ausência de dificuldades relacionadas à raça.
Conclusões/Considerações
Os resultados encontrados até o momento apontam como a branquitude se impõe na profissão médica, delineando vivências desiguais para médicos negros e exigindo destes o desenvolvimento de estratégias para se manterem na carreira. Também evidenciam impactos do racismo após a graduação, o que pode incentivar a implementação de políticas de promoção de equidade racial na profissão, bem como práticas antirracistas na formação e na gestão em saúde.
RACISMO E SAÚDE MENTAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NEGROS
Pôster Eletrônico
1 UFSC
Apresentação/Introdução
A pesquisa busca analisar, por meio de uma revisão de literatura, como os estudos descrevem os efeitos do racismo nas determinações sociais da saúde mental de crianças e adolescentes negros no Brasil. O estudo propõe uma reflexão que reconhece a necessidade de maior aprofundamento teórico e político sobre essa temática no campo da saúde coletiva e da atenção psicossocial.
Objetivos
Analisar como a literatura científica descreve o racismo a partir das determinações sociais em saúde mental entre crianças e adolescentes no Brasil.
Metodologia
Este estudo em andamento utiliza uma revisão de escopo com abordagem qualitativa para analisar como o racismo é descrito como fator nas determinações da saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil. Foram incluídos estudos originais e revisões publicados entre 2001 e 2025; a escolha do ano inicial se deve ao período marcado pela promulgação da Lei da Reforma Psiquiátrica. Foi utilizada as seguintes bases de dados: PubMed, Embase, PsycINFO, Scopus, Web of Science, LILACS, SciELO, Redalyc e La Referencia. Para tanto, foram utilizadas as seguintes palavras chaves: “Racismo”, “Saúde Mental”, “Sofrimento Psíquico”, “Criança”, “Adolescente”, “Atenção Psicossocial”.
Resultados
A partir das explorações iniciais desta pesquisa em andamento, algumas hipóteses surgem. Até o momento, percebe-se que há poucos estudos específicos sobre a temática do racismo e sua relação com a saúde mental de crianças e adolescentes negros. Observa-se também que a maior parte das pesquisas relacionadas às questões étnico raciais foi desenvolvida, em sua maioria, a partir da ampliação de ações afirmativas voltadas à população negra no ensino superior, muitas vezes após a conclusão da graduação por esses sujeitos.
Conclusões/Considerações
O olhar para a saúde mental de crianças e adolescentes negros ainda é pouco explorado, com escassa produção científica na área da saúde coletiva dedicada a essa temática. Desse modo, torna-se necessário aprofundar as investigações sobre o racismo e seus impactos na saúde mental de crianças e adolescentes.
INFORMAÇÃO ÉTNICO-RACIAL NO CURSO DE FISIOTERAPIA: PERSPECTIVA DOCENTE E FORMAÇÃO PARA O CUIDADO À SAÚDE DA POPULAÇÃONEGRA
Pôster Eletrônico
1 UFPE
Apresentação/Introdução
A formação de profissionais de saúde deve ampliar a abordagem das relações étnico-raciais,
pois a ausência desse tema na educação compromete níveis de atuação de profissionais e
gestores, formando indivíduos despreparados para compreender essa relevância como
determinante de saúde da população negra.
Objetivos
Este estudo teve como objetivo compreender as
percepções de docentes do curso de Fisioterapia acerca da importância da temática
étnico-racial na promoção de práticas antirracistas em saúde.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo transversal, que utilizou um questionário inicial com perguntas objetivas, seguido de um roteiro semiestruturado, permitindo aos participantes discorrerem livremente sobre a
temática racial no SUS e no ensino superior.
Resultados
Analisamos 55 participantes, majoritariamente brancos (74,5% raça/cor; 78,2% etnia) e mulheres cis (67,3%). A maioria reconheceu a relação entre raça/cor/etnia e saúde (78,2%), e a existência de racismo no SUS (54,5%) e no curso de Fisioterapia (66,7%). O software IRAMUTEQ (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires), auxiliou a análise qualitativa, revelando núcleos centrais como "não identificar", "negro" e "saúde". Isso demonstrou uma negação do racismo e invisibilidade da população negra, contrastando com as respostas objetivas, especialmente no acesso à saúde, no SUS e no curso de Fisioterapia.
Conclusões/Considerações
Conclui-se, portanto, que é emergente incluir a educação das relações étnico-raciais na formação contínua dos profissionais de saúde, uma vez que a ausência contribui para a manutenção de um ambiente hostil tanto para estudantes no meio acadêmico, quanto para o atendimento à população
negra, que constitui a maioria dos usuários do Sistema Único de Saúde
RACISMO AMBIENTAL - A DESIGUALDADE SOCIOAMBIENTAL NO BRASIL
Pôster Eletrônico
1 Universidade Evangélica de Goiás-UniEVANGÉLICA.
Apresentação/Introdução
O racismo ambiental é definido pela exposição de comunidades étnicas e raciais minoritárias a riscos ambientais e prejuízos socioeconômicos associados. No Brasil, essa problemática reflete a perpetuação de desigualdades estruturais, na qual as comunidades frequentemente enfrentam vulnerabilidade socioeconômica agravada pela degradação ambiental e ausência de políticas públicas eficazes.
Objetivos
Discutir os principais aspectos conceituais, causas e consequências do racismo ambiental no contexto brasileiro.
Metodologia
Trata-se de uma revisão narrativa de literatura baseada em artigos científicos publicados em português e inglês, disponíveis nas bases de dados SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), abrangendo o período de 2020 a 2025. Os descritores utilizados foram: “Racismo Ambiental”, “Justiça Ambiental”, “Desigualdade Socioambiental” e “Brasil”.
Resultados
Os estudos revisados revelaram que comunidades periféricas, indígenas e quilombolas são frequentemente expostas a fatores ambientais nocivos, tais como descarte inadequado de resíduos, poluição industrial, falta de acesso a saneamento básico e degradação dos recursos naturais em seus territórios. As causas estão diretamente ligadas ao histórico colonial e de exclusão social, aliado à fragilidade ou ausência de políticas públicas efetivas que garantam direitos básicos ambientais e territoriais. Destacam-se ainda as consequências negativas sobre a saúde física e mental, aumento de doenças relacionadas à poluição e prejuízos econômicos significativos para as populações afetadas
Conclusões/Considerações
Em suma, o racismo ambiental no Brasil se perpetua devido a fatores históricos, sociais e políticos que vulnerabilizam ainda mais as minorias étnicas e raciais. É fundamental a implementação e fortalecimento de políticas públicas específicas, que promovam a justiça ambiental e social, garantindo assim direitos ambientais equitativos para todos os grupos populacionais brasileiros.
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA CONTRA MINORIAS ÉTNICO-RACIAIS: REVISÃO SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Pôster Eletrônico
1 FURG
2 UFS
3 UFRGS
4 UFFS
5 UFAL
Apresentação/Introdução
A violência obstétrica representa uma grave violação dos direitos humanos, afetando desproporcionalmente mulheres pertencentes a minorias étnico-raciais. Esse fenômeno está associado a práticas discriminatórias e desiguais no ciclo gestacional-puerperal, reforçando iniquidades em saúde e ampliando os riscos maternos e neonatais em diferentes contextos geográficos.
Objetivos
Investigar as evidências científicas disponíveis sobre a violência obstétrica sofrida por mulheres de minorias étnico-raciais
Metodologia
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura realizada em abril de 2025, conforme PRISMA. As buscas foram feitas nas bases PubMed, Web of Science, SciELO e LILACS, com os termos: ("obstetric racism") OR ("pregnancy" AND "racism"). Foram incluídos estudos quantitativos ou qualitativos com participantes mulheres gestantes, parturientes ou puérperas, que abordassem racismo ou violência obstétrica cometida por profissionais de saúde, com descrição racial/étnica da amostra. Excluíram-se revisões, relatos de caso, editoriais, estudos sobre COVID-19 ou com foco fora do cuidado obstétrico.
Resultados
Foram incluídos 68 estudos publicados entre 2003 e 2024, majoritariamente conduzidos no Brasil (n=35) e EUA (n=12). Houve predominância de abordagens qualitativas (n=32). As publicações aumentaram após 2015, refletindo maior interesse no tema. Os principais tipos de violência relatados incluíram racismo estrutural e institucional, negligência no cuidado, ausência de consentimento, violência verbal e física, e exclusão de acompanhante. O parto foi o momento mais estudado (n=48), com destaque para as interseccionalidades entre raça, gênero e classe.
Conclusões/Considerações
A violência obstétrica contra minorias étnico-raciais constitui fenômeno global, associado a iniquidades históricas e estruturais. A revisão destaca a necessidade de ações antirracistas no cuidado obstétrico e reforça a urgência de políticas públicas e estratégias institucionais que promovam a equidade, a humanização e o respeito aos direitos das mulheres.
PERFIL DAS TRAVESTIS E MULHERES TRANS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DE 2015 A 2020: UMA ANÁLISE INTERSECCIONAL
Pôster Eletrônico
1 UERJ
2 UNIRIO
3 SMS JAPERI
4 SMS NOVA IGUAÇU
Apresentação/Introdução
O Brasil tem trajetória bastante conservadora, autoritária, masculinista e LGBTfóbica1, e pessoas negras são as mais atingidas em todas as identidades de gênero2. A expectativa de vida das pessoas trans que era dos 35 anos até 2023, no ano de 2024, apresentou uma redução para os 32 anos, através da análise que considera a média de idade das vítimas de violências 1.
Objetivos
O estudo buscou correlacionar a luz da Interseccionalidade, a raça e gênero das travestis e mulheres vítimas de violências no estado do Rio de Janeiro
Metodologia
Estudo transversal, com pesquisa documental a partir do Sistema de Notificação de Agravos de 2015 a 2020, com um total de 893 de travestis e mulheres trans e análise através do software Stata SE 15
Resultados
Ao proceder com as análises univariadas, foi possível realizar a caracterização da população estudada é composta majoritariamente por mulheres trans- 79,28%, travestis – 20,72% da faixa etária dos 18 a 30 anos – 35,18%, negras – 53,06% e escolaridade – 15,5%, possuíam ensino médio completo. Teste de Fisher, usando as variáveis cor/raça e gênero, apresentou o valor de 0,045 de significância. A violência de gênero se torna mais grave para quem vive em condições socioeconômicas precárias. No estudo não foi possível analisar a classe social, pela incompletude no preenchimento das fichas de SINAN
Conclusões/Considerações
A interseccionalidade, se configura uma ferramenta importante, na análise de processos sociais. As relações de poder, que envolvem raça, classe e gênero afetam todo o convívio social e criam populações marginalizadas5. Considerar todos esses marcadores sociais no planejamento das ações e aplicabilidade de políticas públicas, direciona as ações e permite a promoção de cuidados pautados na equidade e no acesso aos serviços.
ANÁLISE DO NÚMERO DE MORTES POR SUICÍDIOS NO ESTADO DA BAHIA SEGUNDO QUESITO RAÇA/COR
Pôster Eletrônico
1 UFRB
Apresentação/Introdução
O suicídio é caracterizado pela autuação de interromper a vida, considerado um problema de saúde pública mundial. Segundo o Atlas da Violência (IPEA), mais de 70% das mortes violentas intencionais no Brasil são de pessoas negras. Um dos fatores associados à automutilação são os aspectos sociais relacionados ao racismo e o estresse de aculturação sofrido pelos povos tradicionais.
Objetivos
Analisar a mortalidade por lesões autoprovocadas intencionalmente na população residente no estado da Bahia, considerando as desigualdades raciais no período de 2013 a 2023.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa ecológica de séries temporais, com dados oriundos do DATASUS, abrangendo 2013 a 2023. Foram utilizados os códigos da CID-10 (X60 a X84), referentes a lesões autoprovocadas intencionalmente. A análise considerou o recorte de raça/cor, delimitando o estado da Bahia em macrorregiões de saúde. Os dados foram analisados via TabNet, considerando estatísticas vitais e mortalidade, por ano e residência, segundo raça/cor conforme o IBGE. A análise foi realizada com base na comparação temporal com a taxa de 2013 a 2023, levando-se em consideração as possíveis subnotificações, evidenciadas no campo "ignorado" da variável.
Resultados
Os números de suicídio cresceram 86% entre 2013 e 2023, de 491 para 917 casos. O maior aumento foi entre 2019 e 2021. A macrorregião Leste (Salvador) teve maior incidência, 1.634 casos, seguida por Sudoeste (Vitória da Conquista), 1.173 casos e Centro-Leste (Feira de Santana), 997 casos. Tiveram os menores números o Extremo-Sul (Teixeira de Freitas), 362 casos e Ignorado-BA, 23 casos. Na análise por cor/raça, Pardos tiveram 5.245 casos, Brancos, 900 casos, Pretos 821 casos e Amarelos 19 casos. Destaca-se também a possibilidade de subnotificação nos povos indígenas, tendo registro em 2015, 2016, 2018, 2022, 2023 totalizando 10 casos.
Conclusões/Considerações
Os número de óbitos por suicídio continua em crescimento durante os anos, tendo maior prevalência nos Negro (pretos/pardos) totalizando 6.066 suicídios. Dentro do recorte raça/cor esse número segue confirmando que as populações vulneráveis continuam sendo alvo de negligência à saúde por falta de acesso, racismo institucional e necropolítica.
ESPERANÇAR PARA (R)EXISTIR PRETO: REVISITANDO UM DIÁLOGO COM A TERAPIA OCUPACIONAL, RACISMO NO BRASIL E PAULO FREIRE
Pôster Eletrônico
1 Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade - Prefeitura de Sorocaba
2 Docente na Universidade de Sorocaba. Doutor em Terapia Ocupacional
3 Docente na Universidade de Sorocaba. Doutora em Educação
Apresentação/Introdução
A partir dos conceitos freireanos “empréstimo de cotidiano” e “esperançar” propõe-se um diálogo sobre o racismo e as desigualdades raciais na terapia ocupacional. Apresenta os atravessamentos do período escravocrata no cotidiano de pessoas pretas no país dialogando com a realidade desse grupo na vida atual. Preocupados com a formação profissional, visamos refletir sobre a urgência em esperançar.
Objetivos
Discutir o resultado do trabalho de conclusão de curso sobre o diálogo entre a terapia ocupacional e o cotidiano das pessoas pretas no país, apresentado no ano de 2024, para uma banca de três professores doutores que discutem essa temática.
Metodologia
Neste estudo, de caráter qualitativo, utilizamos a revisão narrativa de literatura com uma abordagem mais exploratória sobre os conceitos de Paulo Freire na obra “Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido” (26ª. edição, 2019) e as sutilezas do racismo no cotidiano de pessoas pretas analisadas pela terapia ocupacional. Utilizamos para coleta de dados a fontes: Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, Scielo; Google Acadêmico e PubMed e encontramos 27 artigos científicos, sendo nove (9) do periódico Cadernos Brasileiros, seis (6) da Revista Interinstitucional e doze (12) da plataforma Google.
Resultados
Identifica-se os seguintes resultados: (1) A desigualdade racial se naturalizou no Brasil com a escravização africana durante a colonização, solidificando a branquitude como superioridade. (2) Forçado ao "cotidiano emprestado", o escravizado aprendia estar em seu lugar de dominado, coisificado (3) O Brasil recicla um sem-número de possibilidades de desumanizar pessoas pretas. (4) O cotidiano e a forma como esses indivíduos "chegam a parte alguma", como descreve Freire, são afetados por esse contexto de empréstimo. 5) A Terapia Ocupacional precisa debater o racismo visto o histórico enfraquecido da profissão sobre questões étnico-raciais (6) A esperança e o esperançar como possibilidades de (r)existir sendo preto no Brasil.
Conclusões/Considerações
Conclui-se que se os terapeutas ocupacionais se apropriarem apenas do debate sobre a desigualdade social sem considerar a interseccionalidade, a descolonialidade e a desigualdade racial estarão contribuindo para o silenciamento das pessoas pretas. O compromisso ético-político da profissão permite “esperançar” através de uma prática emancipatória e de luta pela justiça e defesa dos direitos sociais da humanidade.
INEQUIDADES INTERSECCIONAIS NO SUS: RACISMO E BRANQUITUDE NAS TRAJETÓRIAS DE TRABALHADORAS DA SAÚDE
Pôster Eletrônico
1 Universidade Federal de Goiás (UFG)
Apresentação/Introdução
As desigualdades estão enraizadas no SUS. O estudo analisou, sob enfoque interseccional e decolonial, percepções de trabalhadoras da saúde sobre racismo, representatividade e equidade no SUS. As desigualdades de raça e gênero afetam especialmente mulheres negras (hooks, 2019). Critica-se a naturalização da branquitude como norma nos serviços públicos, demandando práticas de letramento racial crítico.
Objetivos
Analisar lacunas,desafios e percepções de trabalhadoras do SUS acerca das desigualdades de gênero e raça no contexto institucional, com vistas a subsidiar estratégias de enfrentamento ao racismo estrutural e institucional no campo da saúde coletiva.
Metodologia
Trata-se de estudo qualitativo, exploratório e transversal, com 40 trabalhadoras da Secretaria de Estado de Saúde (SES) de uma unidade federativa. A amostra foi composta por servidoras concursadas, terceirizadas e residentes, selecionadas por amostragem intencional do tipo “bola de neve”. As entrevistas semiestruturadas, realizadas presencialmente e virtualmente, foram analisadas à luz dos referenciais da interseccionalidade, colonialidade de gênero e branquitude. A pesquisa foi aprovada por dois comitês de ética em pesquisa (CEP/UFG e CEP/Fepecs), Parecer nº 5.664.352 e nº 5.817.737. É originada de pesquisa realizada no mestrado profissional, junto ao Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva.
Resultados
Os dados revelam a persistência de hierarquia racial branca nos serviços, com baixa presença de mulheres negras em cargos de prestígio e concentração em funções terceirizadas, técnicas e de menor remuneração. A branquitude opera como invisibilidade e norma, enquanto a identidade negra é desvalorizada, sobretudo entre pardas. Relatos de racismo institucional são comuns, mas muitas não veem a necessidade de ações específicas. Essas profissionais enfrentam maior carga horária, dificuldades de acesso a modos de vida saudáveis e impactos na saúde mental, exigindo políticas antirracistas e letramento racial e de gênero.
Conclusões/Considerações
A colonialidade do saber e do poder persiste na saúde, subalternizando corpos negros, especialmente de mulheres. As desigualdades refletem às dinâmicas históricas do escravismo e os privilégios da branquitude, que naturalizam exclusões. A luta antirracista exige ações afirmativas, gestão equitativa, decolonial e crítica sobre as disparidades raciais cometidas contra a população negra, propondo o protagonismo das trabalhadoras negras no SUS.
DECOLONIZAR O SORRISO: PRÁTICAS ODONTOLÓGICAS ANTIRRACISTAS NA ATENÇÃO À POPULAÇÃO NEGRA
Pôster Eletrônico
1 UFC
Apresentação/Introdução
A população negra possui dificuldades para acessar serviços odontológicos, fator que se expressa por meio de piores condições de saúde bucal, apresentando uma maior prevalência de cárie e menor acesso a consultas de rotina. O racismo influencia nos determinantes sociais da saúde e assim, a Atenção Primária à Saúde, porta de entrada do Sistema Único de Saúde, possui grande potencial transformador.
Objetivos
O trabalho propõe uma reflexão acerca de práticas odontológicas antirracistas no contexto da Atenção Primária à Saúde, visando questionar a realidade adversa enfrentada e compreendendo o cuidado como uma construção coletiva e culturalmente sensível.
Metodologia
Trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório-descritivo, com foco na compreensão das práticas profissionais, políticas institucionais e dimensões culturais que podem conduzir as práticas de cuidado odontológico direcionadas à população negra na Atenção Primária, que é porta de entrada para o Sistema Único de Saúde. Assim, foi feito um levantamento de pesquisas que abordam racismo estrutural na saúde, equidade racial no SUS, práticas odontológicas antirracistas e epistemologias decoloniais nas bases de dados LILACS, Pubmed, SciELO e Cochrane.
Resultados
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra é citada como colaboradora para redução das iniquidades que afetam essa população. Como prática antirracista, é apontado o monitoramento, com a implementação de indicadores sobre a saúde da população negra. A educação permanente por meio de capacitações das equipes odontológicas acerca da cultura negra e combate ao racismo é estimulada, assim como o estabelecimento de comitês com a população negra, que avaliem as ações odontológicas e proponham ajustes. Lacunas foram encontradas no que tange a escassez de pesquisas odontológicas com recorte racial, e a formação profissional de dentistas, que ainda carece de conteúdo antirracista.
Conclusões/Considerações
Portanto, faz-se necessário o reconhecimento do impacto do racismo na saúde bucal. A decolonização do cuidado odontológico requer o desmonte de dinâmicas sociais/culturais que sustentam as hierarquias raciais, estimulando políticas e práticas nos serviços de atenção primária que fortaleçam a comunidade negra e rompam paradigmas eurocentrados de cuidado, incorporando perspectivas que valorizem os saberes e as demandas específicas dessa população.
A AUSÊNCIA DE COLETA DA AUTODECLARAÇÃO DE RAÇA/COR PELOS ATORES SOCIAIS NO SISTEMA DE SAÚDE: COMPREENSÃO A PARTIR DO ESTIGMA GOFFMANIANO
Pôster Eletrônico
1 UFJF
Apresentação/Introdução
O presente trabalho aborda o preterimento do quesito raça/cor no sistema de saúde à luz do interacionismo simbólico do sociólogo canadense Erving Goffman, que pressupõe que um fenômeno não pode ser investigado sem que se considere como os atores veem esse fenômeno, e da concepção de estigma, que busca compreender a situação do indivíduo que não está habilitado à plena aceitação social.
Objetivos
Compreender, à luz da sociologia de Goffman, notadamente o conceito de estigma e a cena do encontro – entre profissionais e usuários do sistema de saúde – como indivíduos negros e não-negros agem para a manutenção do mito da democracia racial no SUS.
Metodologia
A análise foi efetivada através de pesquisa qualitativa, que corresponde àquela desenvolvida no âmbito das Ciências Sociais e Humanas em Saúde e que considera a complexidade dos fenômenos sociais. Procedeu-se a uma revisão de literatura sobre artigos relacionados ao preterimento do quesito raça/cor no sistema de justiça, a fim de se extrair elementos apontados por Goffman em sua teoria sociológica sobre o estigma, a exemplo do encobrimento/ocultação do traço característico. Trechos de entrevistas apontaram usuários de saúde encabulados, agressivos e inseguros, e profissionais pouco esclarecedores, que no intuito de evitar constrangimentos, substituem os usuários na classificação.
Resultados
À luz dos conceitos apontados por Goffman, o usuário negro, como indivíduo estigmatizado, age como se sua qualidade diferencial não fosse importante, tampouco merecesse atenção especial, e ao buscar adaptar-se, manipula sua identidade. Por outro lado, a atuação do profissional de saúde é no sentido de acobertar um segredo e promover uma cooperação tácita, evitando conflitos e tensões.
Conclusões/Considerações
Com a influência da sociologia norte-americana, a ideia de categorização dos indivíduos e a noção de desvio foram intensificadas. O estigma goffmaniano, que operou nesse sentido, permite compreender a situação do negro como indivíduo estigmatizado, e investigar de que forma o preterimento da coleta da autodeclaração do quesito raça/cor entre os atores sociais do sistema de saúde presta-se à manipulação da identidade.
RACISMO NO TIKTOK: ANÁLISE DE UM CASO DE RACISMO RECREATIVO E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL DE PESSOAS NEGRAS
Pôster Eletrônico
1 UFU
Apresentação/Introdução
As redes sociais, como o TikTok, são ambientes onde práticas discriminatórias, como o racismo recreativo, são naturalizadas sob o disfarce do humor. Este trabalho analisa um caso específico de racismo recreativo amplamente divulgado nas mídias sociais, refletindo sobre os impactos dessa prática na saúde mental de pessoas negras.
Objetivos
Investigar como o caso analisado evidencia o racismo recreativo nas redes sociais, especialmente no TikTok, e avaliar os efeitos dessa prática na saúde mental de pessoas negras.
Metodologia
Foi realizado um estudo de caso, que envolveu a análise de um vídeo com conteúdo explícito de racismo recreativo, manifestado pela violência simbólica contra crianças negras expostas nas imagens, produzidas por influenciadoras brancas, auto intituladas produtoras de conteúdo de humor na rede citada. A análise de conteúdo, baseada nos estudos de Teoria Crítica sobre Indústria Cultural, consistiu na observação sistemática das cenas ainda disponíveis em algumas mídias sociais, envolvendo a linguagem utilizada pelas influenciadoras, os aspectos sonoros relacionados a situações humorísticas e os elementos estéticos associados à animalização de pessoas negras, prática comum do racismo recreativo.
Resultados
No vídeo, foram utilizados símbolos historicamente associados à animalização de pessoas negras e à ridicularização da pobreza, fatores que alimentam a discriminação racial e os processos de adoecimento psiquico da população negra, tanto das crianças diretamente expostas nas imagens, quanto daqueles indiretamente atingidos pelas agressões simbólicas. Ademais, especificidades da dinâmica das redes sociais associam-se ao caráter narcisista impulsionado pela agenda neoliberal contemporânea, como o envolvimento voluntário em polêmicas para bom engajamento das postagens. A relação com questões de saúde mental e uso das redes sociais mostram a necessidade de incluir esse debate na saúde pública.
Conclusões/Considerações
Manifestações racistas disfarçadas de humor impulsionadas pela lógica algorítmica das redes sociais perpetua a animalização de pessoas negras e as estruturas racistas da sociedade. Isso causa danos significativos de longa duração na saúde mental da população negra, desde retraimento social ao desenvolvimento de psicopatologias. Assim, é fundamental refletir sobre a equidade na saúde de populações historicamente invisibilizadas.
COLONIALIDADE DE GÊNERO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA DA SAÚDE COLETIVA BRASILEIRA
Pôster Eletrônico
1 Escola Nacional de saúde Pública (ENSP)/Fiocruz. Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária (GT SISS/CLACSO)
2 DPS/CCM/Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/ Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, Pernambuco.. Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária (GT SISS/CLACSO)
3 Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz (ENSP). Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária (GT SISS/CLACSO)
4 PGSCM/Instituto Fernandes Figueira (IFF)/Fiocruz. Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária (GT SISS/CLACSO)
5 Facultad de Medicina da Universidad Autónoma de México (UNAM), Red de Posgrados de CLACSO/ FLACSO
Apresentação/Introdução
O trabalho difunde análises preliminares de um estudo exploratório sobre a Colonialidade de gênero na produção acadêmica da Saúde Coletiva no Brasil, sendo resultado das reflexões do Grupo de Estudos Feminismos Decoloniales, Racismos e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais.
Objetivos
Apresentar análises preliminares acerca da colonialidade de gênero na produção acadêmica da Saúde Coletiva brasileira realizadas pelo Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais (CLACSO).
Metodologia
Trata-se de um estudo bibliográfico, de cunho exploratório, realizado pelo Grupo de Estudos Feminismos Decoloniais, Racismo e Saúde do Grupo de Trabalho Saúde Internacional e Soberania Sanitária do CLACSO. A partir da matriz de estudos do Núcleo Regional, construiu-se uma matriz para sistematização do levantamento bibliográfico no período 1990/2025. Acessou-se as bases de dados do Scielo, Pub-med, Redalyc, Latindex e Google Acadêmico , utilizando os descritores: Gênero e saúde, Gênero e Políticas de Saúde e Gênero e Sistemas de saúde. Procedeu-se a análise transversal das matrizes, inserindo os artigos mais relevantes conforme os critérios de citação e relevância na política de saúde.
Resultados
Viu-se a binaridade de gênero em perspectiva biomédica nos achados. Com o avanço das discussões, inseriu-se o pensamento decolonial, desde a análise antropológica da saúde e abordagem não binária de gênero. Destacam-se as mudanças cronológicas das categorias inicialmente biomédicas, como Saúde da Mulher (anos 90) e Direitos Sexuais e Reprodutivos (anos 2000). Progressivamente agregaran-se categorias sociais, como Identidade de Gênero; Racismo (anos 2000); Abordagem Interseccional; Violência; Saúde Mental (anos 2010); Interseccionalidade; Transexualidade; Feminismo e Resistência (anos 2020).
Conclusões/Considerações
Observa-se que as bases conceituais dos artigos produzidos no Brasil ainda são centradas no norte global e apontamos a necessidade de revisão das referências em espaços formativos e de produção de conhecimento, com um giro decolonial em direção ao sul global e às produções do feminismo decolonial, comunitário e negro caribenho e latino americano, rompendo a barreira epistemológica que circunda nossos corpos e produções
MULHERES NEGRAS VIVENDO COM HIV/AIDS - A NECESSÁRIA RESISTÊNCIA AO ABISMO NECROPOLÍTICO
Pôster Eletrônico
1 IFF/Fiocruz
Apresentação/Introdução
O HIV/Aids ainda é uma realidade terrível entre mulheres negras cis e transgêneras. Indicadores epidemiológicos indicam que elas vivem os piores desfechos de tratamento e são as que mais adoecem e morrem, embora casos novos de HIV estejam decrescendo em outros gêneros/raças.
Objetivos
Apresentar uma análise crítica dos resultados de pesquisa de doutorado Sentidos de Viver: o HIV, a TARV e seus desdobramentos político-afetivos entre mulheres brasileiras, em relação à raça/cor e gênero, problematizando os conceito de necropolítica.
Metodologia
Utilizou-se o método cartográfico de Deleuze e Guattari composto por entrevistas individuais com dezoito mulheres cisgêneras e uma mulher trans e formação de 6 grupos de discussão com 6 encontros em cada. Nos grupos, os dois primeiros encontros tiveram propostas temáticas prévias e os subsequentes trataram de afetos que se revelaram mais importantes para participantes. Todo material foi transcrito e analisado, formando mapas onde foram registradas intensidades, variações, fluxos, pensamentos, enlaçamentos dos encontros que subsidiou as análises.
Resultados
O cuidado integral às mulheres vivendo com HIV não pode prescindir da oferta de apoio psicossocial com a compreensão dos efeitos do racismo e do sexismo. O racismo e o sexismo somados às contingências que o diagnóstico do HIV podem provocar, entre elas, a discriminação e violência doméstica; assédios morais em ambientes sociais; violências institucionais no trabalho, o sentimento de menos valia; depressão por alterações dos níveis de hormônios; efeitos colaterais e eventos adversos causados pelos medicamentos, baixa autoestima pela lipodistrofia, complicações cardiológicas, alterações da libido, crises de ansiedade em relação ao uso da TARV colaboram para adoecimento e morte.
Conclusões/Considerações
Profissionais de saúde das equipes dos SAE e das EsF precisam estar capacitados para uma escuta sensível que perceba os enfrentamentos cotidianos do racismo e sexismo de mulheres vivendo com HIV: os desafios, violências, aprendizados e mudanças, muitas vezes em superlativo por sua condição de saúde estigmatizada
A REPRODUÇÃO DE VIOLÊNCIAS NA ATENÇÃO À SAÚDE DE GESTANTES EM SITUAÇÃO DE RUA: ATRAVESSAMENTOS DO RACISMO E ABJEÇÃO NO PROCESSO DE CUIDADO
Pôster Eletrônico
1 Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz
2 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz
Apresentação/Introdução
O cuidado em saúde, comumente associado à promoção do bem-estar, é também um campo de disputas de poder, normas morais e desigualdades estruturais. Em certos contextos, como de mulheres gestantes em situação de rua, se revelam práticas discriminatórias sobre as existências que se encontram fora do padrão normativo. Assim, o controle dos corpos e violências se reproduzem nas dinâmicas institucionais.
Objetivos
Discutir como essas questões atravessam o cuidado em saúde e, de forma específica, os impactos gerados por essas experiências. Analisar a persistência de práticas estruturadas por racismo, sexismo e higienismo nos espaços de cuidado.
Metodologia
Pesquisa qualitativa cujo método consistiu em pesquisa bibliográfica nas bases de dados de produções acadêmicas que versam sobre o tema. Foi realizada também pesquisa documental sobre as normativas referentes aos direitos à saúde de gestantes.
Resultados
As experiências de mulheres em situação de rua nas maternidades expõem práticas de violência institucional que se manifestam no momento em que deveriam ser acolhidas e respeitadas. Sobretudo sobre os corpos de mulheres em situação de rua, incidem políticas de controle baseadas em uma lógica de ocupação colonial, que implica a desqualificação desses corpos e o esvaziamento de seus direitos. Isso se reflete em uma experiência coletiva de mulheres negras nos serviços de saúde na qual consta maior incidência de violência obstétrica sobre esse grupo, expressando como o racismo estrutural atualiza práticas coloniais por meio da negligência, desumanização e violência.
Conclusões/Considerações
Embora existam aparatos jurídicos de proteção e humanização do cuidado à gestantes, quando falamos de mulheres em situação de rua, é preciso desvelar o que se encobre nas relações de poder de herança colonial, ainda presentes nas relações sociais e de cuidado em saúde. Enquanto atravessadas por raça e gênero, essas mulheres estão sujeitas a violências e violações de direitos cotidianamente, marcando suas existências física e emocionalmente.
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA CONTRA MULHERES NEGRAS: IMPACTOS DO RACISMO ESTRUTURAL SOBRE O CUIDADO E OS DIREITOS REPRODUTIVOS NO BRASIL
Pôster Eletrônico
1 UFBA
Apresentação/Introdução
A violência obstétrica evidencia desigualdades estruturais no Brasil, afetando especialmente mulheres negras devido ao racismo institucional. Práticas inadequadas no parto comprometem a autonomia e a saúde reprodutiva dessas mulheres, refletindo processos históricos de exclusão e discriminação que perpetuam o sofrimento e agravam as vulnerabilidades sociais.
Objetivos
Investigar como o racismo estrutural contribui para a violência obstétrica contra mulheres negras, a partir da análise de estudos empíricos com foco em experiências de parto e práticas profissionais.
Metodologia
Trata-se de uma análise de estudos empíricos (quantitativos, qualitativos e mistos), excluindo-se artigos de revisão. A busca foi realizada nas bases SciELO, PubMed, BVS e Google Scholar, com os descritores “violência obstétrica”, “racismo estrutural” e “mulheres negras”. Foram selecionados 18 artigos publicados nos últimos 10 anos, que abordavam diretamente experiências vividas ou observadas no atendimento obstétrico. Os dados foram analisados qualitativamente, com foco na identificação de padrões de violência, interseccionalidades e práticas discriminatórias nas instituições de saúde, especialmente no SUS.
Resultados
Os estudos revelaram alta prevalência de práticas abusivas contra mulheres negras: omissão de anestesia, episiotomias sem consentimento, violência verbal e negligência com a dor. A presença de estereótipos como “mulheres negras aguentam mais dor” foi frequente. Profissionais reconhecem as violências, mas muitas vezes as naturalizam como “rotina”. A discriminação racial afeta o acesso, a qualidade do cuidado e as vivências emocionais do parto. As mulheres relataram medo, vergonha, sofrimento psíquico e perda de autonomia no momento do nascimento.
Conclusões/Considerações
A violência obstétrica contra mulheres negras é expressão do racismo institucional e deve ser enfrentada com políticas públicas antirracistas, escuta ativa, formação crítica de profissionais e valorização das vozes dessas mulheres. A exclusão das revisões nesta análise fortalece a visibilidade de experiências reais e aponta caminhos urgentes para um cuidado obstétrico mais justo, seguro e humanizado.
EQUIDELAS: VIVÊNCIAS SOBRE ESPERANÇAR UM SUS EQUÂNIME NA AMAZÔNIA
Pôster Eletrônico
1 UFAM
2 Quilombo Urbano do Barranco de São Benedito
Período de Realização
12 meses
Objeto da experiência
Vivências de uma sonhação de três profissionais que se encontram para produção do projeto.
Objetivos
Descrever e refletir sobre o processo de esperançar em ato do/no EquiDelas - a vivência na Amazônia da 11ª edição do PET-Saúde, com enfoque na equidade, especialmente, no exercício da valorização das trabalhadoras e futuras trabalhadoras no âmbito do SUS.
Metodologia
A intencionalidade é de fazer a reorientação do trabalho e da formação em saúde, pautados pelo princípio da equidade de gênero, identidade de gênero, sexualidade, raça, etnia e deficiências como marcadores sociais da diferença e que impactam nos processos de saúde-adoecimento-cuidado das populações. A consolidação do SUS enquanto escola, através da integração educação-trabalho-comunidade e por meio da proposição de vivências nos territórios reais do SUS, colocando em análise a própria formação em saúde.
Resultados
Pesquisa-ação como escolha metodológica no eixo pesquisa; educação permanente como dispositivo da formação; a orientadora de serviço como força amazônida; os territórios-laboratórios como espaços de vivências e experimentações; as formatividades como as nossas extensões e criações coletivas; a institucionalização e a integração com a gestão são os horizontes de potência.
Análise Crítica
Os diferentes elementos presentes no agenciamento desse processo de vida na Amazônia trazem para a cena as disputas dos mecanismos de subjetivação existentes no campo da formação em saúde e nos colocou frente a construção de um projeto “EquiDelas”, nos trazendo de volta o “remo na mão”, para olharmos os nossos desafios e especificidades e juntes encontrarmos modos criativos de cuidar, pensar, produzir pensamento e saúdes pelos territórios líquidos da diversa Amazônia.
Conclusões e/ou Recomendações
Sentimos e experimentamos esse gestar que deu a vida ao EquiDelas, e com ele caminhamos por uma formação encarnada na realidade do SUS amazônico, que coloca as interseccionalidades como horizonte para se alcançar a equidade. Como evidências desse movimento: a produção da sociologia das presenças no EquiDelas, a EPS sobre machismos, violências, racismo, os Territórios-laboratórios, a orientadora de serviço.
RELATO DE EXPERIÊNCIA DE PESQUISA SOBRE MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA E AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Pôster Eletrônico
1 Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz)
Período de Realização
Julho de 2024 até a presente data.
Objeto da experiência
Mulheres em situação de rua e as políticas públicas de saúde na cidade do Rio de Janeiro.
Objetivos
Analisar as ações implementadas e o alcance das políticas públicas de saúde direcionadas às mulheres em situação de rua (MSR) na cidade do Rio de Janeiro.
Metodologia
Além da revisão bibliográfica, temos participado de espaços de discussão que reúnem representantes de diferentes setores do poder público, como o Fórum de Maternidades, Drogas e Convivência Familiar, que tem sido fundamental para a construção de saberes e aproximação com o campo.
Resultados
Embora existam pesquisas sobre mulheres em situação de rua, a maioria foca em temas como reprodução e experiência de vida nas ruas, havendo uma lacuna significativa quanto à análise de suas relações com o Estado e sua inserção em políticas públicas que as reconheçam como sujeitos de direitos, para além do ciclo gravídico e puerperal. Assim, com a participação no fórum, temos percebido a organização das políticas e serviços de saúde às mulheres em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro.
Análise Crítica
A abolição da escravidão não garantiu políticas reparadoras, o que reflete na população em situação de rua hoje, majoritariamente negra. Nesse contexto, as mulheres enfrentam intersecções que aumentam as violações de direitos. Contudo, isso não as reduz a meras vítimas da ausência de políticas, ao contrário, elas constroem estratégias de sobrevivência. Temos aprendido que, compreender essa dinâmica é reconhecer violências interseccionais, mas também enxergar as suas formas de luta e resistência.
Conclusões e/ou Recomendações
A existência de MSR têm conexões profundas com a nossa história de escravidão, e as relações sociais sexista, patriarcal e colonial, revelando como as políticas públicas possuem uma lógica masculina, que desconsidera as especificidades femininas e amplia as vulnerabilidades. Invisibilizá-las é, por si só, uma forma de extermínio e, temos aprendido sobre a importância de espaços coletivos de troca e articulação para a garantia de direitos das MSR.
PRECISAMOS CORAZONAR A RAZÃO: É POSSÍVEL PENSAR, SER E SONHAR UMA CIÊNCIA PARA PRODUÇÃO DE VIDAS FELIZES?
Pôster Eletrônico
1 SMS RJ
2 IFF/Fiocruz
3 IMS/UERJ
Período de Realização
Esse trabalho é um fragmento da tese de doutorado da autora principal defendida no ano de 2024.
Objeto da experiência
A produção da ciência e a insurgência de corazonar a razão reintegrando a nossa condição de ser humano que sente e sonha na prática acadêmica
Objetivos
Provocar o debate sobre uma nova práxis da ciência, na modernidade, corazonada por afetos e sonhos; Reconectar, o sentir e o pensar, a razão e o coração, a lançar ternura na Academia em produção de vidas felizes
Descrição da experiência
A tese sobre as provocações de Ruben Araujo de Mattos, autor que foi referencia na saúde coletiva, trouxe o debate sobre a produção da ciência que se relaciona com a vida que acontece. Esse é um fragmento que argumenta que a ciência produzida a partir dos afetos pode ser interessante, de reinvenção de gente e que nas nossas relações e produções acadêmicas podemos ser mais ternura e solidariedade, no lugar de relações frias, e por muitas vezes desrespeitosas.
Resultados
Corazonar surge enquanto postura política de luta para descolonização do saber, poder e ser de nossa existência. Uma reconexão da afetividade com a razão, enquanto sabedoria de nossa condição humana (Arias,2010). Propomos sabedorias insurgentes do coração que permitam que o sentir povoem nosso pensar, ser e sonhar, enquanto ética da vida em busca da ética da felicidade a ocupar a Academia.
Aprendizado e análise crítica
Queremos reconectar o coração a razão, nos preenchendo de ternura e sensibilidade, nos permitindo sentir o que pensamos e pensar o que sentimos, sonhando as conquistas diárias, a partir de quem somos no nosso contexto coletivo e neste espaço tempo que vivemos. Um sentir encarnado, para então nos conectar ao mundo da transformação, de novas possibilidades e realidades. É mais bonito, vivo e transformador de gente quando conseguirmos fazer Ciência de forma mais feliz e afetuosa.
Conclusões e/ou Recomendações
A Academia precisa ser produtora de vidas mais felizes e menos adoecidas, construindo espaços de acolhida, respeito e de valorização de saberes e subjetividades. Precisamos afetar e sermos afetados! Supomos que seremos pessoas melhores quando conseguirmos aquecer a razão em nossas atuações e pesquisas acadêmicas.
GRUPO SIMAS: INTERSECCIONALIDADES E DECOLONIALIDADE EM SAÚDE COLETIVA
Pôster Eletrônico
1 MINISTÉRIO DA SAÚDE
2 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS
Período de Realização
Início das atividades em 2017 até o momento atual.
Objeto da experiência
Interseccionalidades aplicadas à Saúde Coletiva.
Objetivos
Sistematização de estudo e discussão de abordagens interseccionais e decolonialidade aplicadas a estudos desenvolvidos em Saúde Coletiva.
Descrição da experiência
O Grupo de Pesquisa (CNPq) Saúde, Interseccionalidades e Marcadores Sociais da Diferença - SIMAS foi criado após estágio de sua líder (Professora Visitante - University of Cambridge-UK), que implantou na pós-graduação em Saúde Coletiva de sua instituição (FMUSP), reuniões de estudo sobre abordagens interseccionais/decolonialidade. O grupo vem dialogando com publicações, textos teóricos e pesquisas acerca do Sul Global, para acrescentar diferentes referentes epistêmicos a problemas em saúde.
Resultados
O Grupo SIMAS vem reunindo alunos de pós-graduação, professores universitários e pesquisadores, que em rotina de encontros mensais, debruçam-se sobre leituras e discussões de referencial conceitual e projetos de pesquisa norteados por abordagens interseccionais e decolonialidade. Foram realizados mais de 100 encontros, um grande contingente de orientações/supervisões de mestrado, doutorado e pós-doutorado, sobremaneira desenvolvidos acerca das temáticas do HIV/AIDS e hesitação vacinal.
Aprendizado e análise crítica
A implementação de uma rotina de estudos e discussão em grupo, com leituras programadas e participantes diversos, apresenta a oportunidade da ampliação crítica de paradigmas analíticos, agregando valor e densidade ao produto final das pesquisas. Concomitantemente, implica em desafios relativos à garantir estrutura física, combinar agendas, expectativas e estágios acadêmicos diferentes, sem fonte de financiamento dedicada a esse propósito.
Conclusões e/ou Recomendações
O Grupo SIMAS se consolidou como espaço de estudo e discussão acerca de interseccionalidade e decolonialidade em Saúde Coletiva. Nesse sentido, em 2024, foi realizado o I Seminário Simas: avanços e desafios em análise interseccional em saúde, com mesas de discussão e workshop, com vistas a segunda edição em 20025.
INTERSECCIONALIDADE EM AÇÃO: SENSIBILIZANDO PROFISSIONAIS DO SUS PARA EQUIDADE EM SAÚDE
Pôster Eletrônico
1 UESB
Período de Realização
As atividades foram desenvolvidas entre 01/08 e 31/12/2024, em Jequié-BA.
Objeto da experiência
Sensibilizar profissionais de saúde quanto à importância da interseccionalidade para ampliar o acesso à saúde e fortalecer a equidade no SUS.
Objetivos
Relatar vivências de discentes do PET-Saúde Equidade em ações direcionadas a equipes de saúde sobre racismo, orientação sexual, identidade de gênero e deficiência à luz da interseccionalidade, analisando desafios e impactos na formação profissional e promoção de práticas equitativas no SUS.
Metodologia
A equipe do PET-Saúde Equidade (UESB, Jequié-BA) realizou, semanalmente, ações em serviços de atenção básica e um serviço de reabilitação para promover a integração entre ensino, serviço e comunidade. Destacam-se: "Corrida da Equidade" – jogo que simula desigualdades no acesso à saúde por marcadores como raça, gênero e deficiência; “Oficinas” e “Rodas de conversa” – para identificar e discutir aspectos de opressão e exclusão no cuidado em saúde, estigmas e resistências por lacunas na formação.
Resultados
A dinâmica revelou resistências iniciais, com profissionais hesitantes em abordar temas como raça e gênero, devido a preconceitos e à falta de familiaridade até com conceitos como "cis" e "trans". Com o avanço dos debates, observou-se maior abertura e sensibilidade. A ação estimulou reflexões sobre iniquidades no SUS, necessidade de capacitação profissional para qualificar acolhimento, promover inclusão e valorização dos trabalhadores, fortalecimento de vínculos e humanização do cuidado.
Análise Crítica
A experiência evidenciou que a interseccionalidade (Crenshaw, 1989) é essencial para desconstruir iniquidades na saúde. As resistências refletem lacunas e heranças socioculturais no processo formativo (Machin et al., 2022). A análise de determinantes sociais aliada à integração ensino-serviço-comunidade e educação continuada qualificam a força de trabalho (WHO, 2023).
Conclusões e/ou Recomendações
O PET-Saúde Equidade potencialmente favorece a promoção de práticas inclusivas no SUS. Contudo, esta experiência revela lacunas na formação profissional e sugere a inserção do conceito de interseccionalidade e determinantes sociais na formação em saúde, com foco em raça, gênero, deficiência e outros marcadores sociais, alinhados a protocolos clínicos e terapêuticos, favorecendo qualificação da força de trabalho, atenção equitativa e qualificada.
INIQUIDADES EM SAÚDE NO LIVRO QUARTO DE DESPEJO, DE CAROLINA MARIA DE JESUS - REFLEXÕES SOBRE A EXPERIÊNCIA DO PROJETO MULUNGU FORMAÇÃO ANTIRRACISTA
Pôster Eletrônico
1 Instituto Federal Goiano Campus Urutaí
Período de Realização
Início de fevereiro até dias atuais.
Objeto da experiência
Grupo de estudos e promoção da formação antirracista entre a comunidade acadêmica do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí.
Objetivos
O trabalho tem como objetivo refletir sobre as iniquidades em saúde narradas na obra de Carolina Maria de Jesus. Além disso, evidenciar as opressões e negligências em saúde como consequências do racismo e negligência com a população negra e periférica.
Metodologia
A experiência relata discussões realizadas entre discentes e docentes, por meio de rodas de conversa durante o projeto Mulungu Formação Antirracista, do Instituto Federal Goiano Campus Urutaí. Os debates têm como base a leitura de obras literárias de autores e autoras negros. Nessa experiência em particular, é apresentado um recorte do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, no qual Carolina Maria de Jesus narra iniquidades em saúde vivenciadas pela população negra e periférica.
Resultados
Durante os encontros discussões sobre as iniquidades em saúde, foram pautadas em trechos como: Pessoas dizendo que “para viver num lugar assim só os porcos.” , relatado no dia 19/05. No dia 21/05, o relato de um homem negro que havia consumido carne do lixo, e após isso, faleceu. “Aqui nesta favela a gente vê coisa de arrepiar os cabelos. A favela é uma cidade esquisita...” onde ela relata que as pessoas que vivem na favela, não apreciam o lugar, devido a questões de violência e negligência.
Análise Crítica
Por meio das reflexões sobre narrativas da obra de Carolina, destaca-se que as iniquidades em saúde são vivenciadas sobretudo pela população negra e periférica. Isso mostra, que o processo de adoecimento da população é também marcado pela classe, raça/cor e gênero. No contexto atual, esses marcadores ainda acentuam as desigualdades sociais e processos de opressões que violam o direito à saúde, esse aspecto evidencia a necessidade de enfrentamento do racismo estrutural no Sistema único de Saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que a experiência relatada promoveu reflexões necessárias à formação crítica sobre estruturas sociais que perpetuam as iniquidades em saúde. A experiência vai ao encontro da formação antirracista e comprometida com a justiça social, além disso promove a valorização da escreviência e dos saberes de autoras e autores negros e negras e suas contribuições para o debate do acesso a saúde, e o “fazer com” como práxis das ações em saúde.
QUALIFICAÇÃO TÉCNICA PARA GERENTES DE SAÚDE: PREVENÇÃO E COMBATE AO RACISMO
Pôster Eletrônico
1 Secretaria Municipal da Saúde da cidade de São Paulo
Período de Realização
Fevereiro a dezembro de 2024
Objeto da experiência
Conscientizar a esfera gerencial dos serviços municipais de saúde para reconhecimento e eliminação das iniquidades raciais.
Objetivos
Desenvolver competências técnicas em gestores de saúde para implementação de estratégias antirracistas nos serviços. Fortalecer habilidades de liderança do médio escalão na identificação e mitigação de barreiras estruturais que perpetuam desigualdades raciais no acesso e qualidade da atenção.
Descrição da experiência
Metodologia expositiva estruturada em palestras presenciais, abrangendo seis macrorregiões paulistanas. Utilização de marcos normativos, vídeos institucionais e simulações baseadas em casos reais. Desenvolvimento de conteúdo didático específico incluindo orientações técnicas e indicadores de saúde da população negra.
Resultados
Qualificação de 479 agentes públicos distribuídos nas macrorregiões Norte, Sul, Leste, Oeste, Sudeste e Centro. Apresentação de diretrizes institucionais para coleta adequada do quesito raça/cor. Fomento de ações para processos seletivos equitativos visando maior pluralidade racial nas contratações. Direcionamentos específicos para acolhimento qualificado às vítimas de discriminação racial nos equipamentos de saúde e trabalho intersecretarial nos encaminhamentos.
Aprendizado e análise crítica
O envolvimento do médio escalão revelou-se estratégico, considerando sua posição de articulação entre diretrizes macro e execução local. A partir da observação dos questionamentos apresentados no ambiente de aprendizagem, verificou-se o desconhecimento de parcela do conteúdo compartilhado, qual seja: a adequada coleta do quesito raça/cor, a desigualdade racial no âmbito das contratações profissionais, as ações afirmativas e o acolhimento a vítimas de discriminação-racial.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência confirma a necessidade de investimento sistemático na formação gerencial para efetivação de políticas de equidade racial. O envolvimento do médio escalão mostrou-se decisivo para a institucionalização de práticas antidiscriminatórias. Recomenda-se expansão da metodologia para outras instâncias e incorporação da temática nos processos formativos permanentes do SUS.
DISCUTINDO RAÇA/ETNIA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA EXPERIÊNCIA COMPARTILHADA ENTRE PET-SAÚDE EQUIDADE E RESIDENTES EM SAÚDE COLETIVA DA CIDADE DO RECIFE.
Pôster Eletrônico
1 Prefeitura do Recife
2 SESAU - Recife
3 COREMU IMIP
4 UPE
5 Universidade Católica de Pernambuco
Período de Realização
O evento aconteceu no dia 20 de maio de 2025.
Objeto da experiência
Atividade educativa com estudantes de medicina, dialogando sobre equidade, quesito raça/cor e políticas de atenção à saúde da população negra.
Objetivos
Sensibilizar estudantes de medicina quanto à importância da equidade racial no SUS, destacando a relevância do preenchimento raça/cor nos sistemas de saúde e apresentando marcos históricos e diretrizes das políticas públicas voltadas à população negra.
Metodologia
O evento ocorreu na Universidade Católica, com estudantes de medicina. Organizada por residentes de saúde coletiva e estudantes de psicologia do PET-Saúde Equidade, com apoio da coordenação da Política Integral da População Negra e a Vigilância Epidemiológica do Recife, a atividade abordou marcos do movimento negro, políticas de saúde, importância do quesito raça/cor e da estratégia PET-Saúde no SUS. Ao final, os estudantes construíram uma nuvem de palavras, refletindo sobre os aprendizados da atividade.
Resultados
Durante a atividade, os estudantes demonstraram boa interação, engajamento e interesse pela temática. A construção coletiva da nuvem de palavras ao fim da atividade evidenciou conceitos como equidade, respeito, empatia, atenção, humanização, participação social e cuidado. A ação promoveu um espaço de escuta e reflexão crítica sobre a importância da inclusão e da equidade no cuidado em saúde, gerando reconhecimento sobre o papel da formação profissional na transformação das práticas no SUS.
Análise Crítica
A experiência revelou a carência de debates estruturados sobre saúde da população negra na formação médica e evidenciou o potencial transformador de espaços dialógicos no ambiente universitário. A troca entre gestores e estudantes permitiu a desconstrução de preconceitos e fortaleceu o compromisso dos futuros profissionais com práticas mais justas e inclusivas. O envolvimento ativo do público indicou abertura para novos formatos de formação crítica no ensino da saúde.
Conclusões e/ou Recomendações
A atividade demonstrou ser uma estratégia eficaz para inserir debates sobre equidade racial e saúde no ambiente acadêmico. Recomenda-se ampliar a frequência dessas ações e integrá-las aos currículos dos cursos da saúde. A escuta ativa, aliada ao reconhecimento das políticas públicas existentes, fortalece a formação cidadã dos futuros profissionais e contribui para um SUS mais sensível às desigualdades estruturais.
CURRÍCULO VIVO: FORMAÇÃO ANTIRRACISTA NA SAÚDE E RACISMO AMBIENTAL
Pôster Eletrônico
1 UFRB
Período de Realização
A experiência foi realizada em 2025.1, no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFRB.
Objeto da experiência
Refletir as experiências da disciplina “Diversidades, Cultura e Relações Étnico-Raciais” e sua importância para a qualificação da formação em saúde.
Objetivos
Este relato visa discutir sobre a importância do componente “Diversidades, Cultura e Relações Étnico-Raciais”, no que se refere à formação em saúde e à qualificação de práticas de cuidado comprometidas com o enfrentamento ao racismo estrutural e ambiental.
Descrição da experiência
A experiência foi vivenciada no âmbito do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde (BIS) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). As práticas desenvolvidas no componente Diversidades, Cultura e Relações Étnico-Raciais permitiram o desenvolvimento do criticismo sobre a histórica formação do território brasileiro, marcada por políticas coloniais e racistas, que persistem por meio da vulnerabilização ambiental das populações negra e indígena nos dias atuais.
Resultados
A referida disciplina propiciou o desenvolvimento de uma visão crítica sobre as desigualdades que se expressam no histórico racismo ambiental brasileiro. Com abordagem pedagógica sensível e decolonial, o componente mostrou-se como mecanismo de valorização dos saberes afro-indígenas e de enfrentamento ao epistemicídio (Santos, 2007). Os discentes passaram a reconhecer as relações étnico-raciais como estruturantes do cuidado, da exposição à degradação ambiental e à precariedade sanitária.
Aprendizado e análise crítica
A proposta pedagógica contribuiu com a desconstrução da ideia de neutralidade no cuidado, evidenciando que o fazer em saúde é atravessado por marcadores sociais como raça e território. Os aprendizados provocaram deslocamentos na percepção do papel dos(as) profissionais da área e reforçaram a necessidade de um comprometimento com a justiça social diante do reconhecimento da vulnerabilidade das comunidades negras e indígenas, no contexto da degradação ambiental e das emergências climáticas.
Conclusões e/ou Recomendações
Apesar de ser estruturante das desigualdades no Brasil, o racismo ainda é pouco abordado nos cursos de saúde. O Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da UFRB busca formar profissionais com visão crítica, pautada nos princípios humanísticos da saúde coletiva e do SUS. Assim, a disciplina Diversidades, Cultura e Relações Etnico-Raciais cumpre o papel de inserir essa reflexão na formação e capacitar futuros profissionais para uma atuação antirracista.
APRESENTAÇÕES DE OBRAS CIENTÍFICAS E LITERÁRIAS AFRO-DIASPÓRICAS E AFRICANAS COMO ESTRATÉGIA DE ACOLHIMENTO E FORTALECIMENTO DO PROTAGONISMO NEGRO NA SAÚDE COLETIVA
Pôster Eletrônico
1 UFBA
Período de Realização
A experiência relatada neste trabalho foi realizada no primeiro semestre de 2025.
Objeto da experiência
Alunos ingressantes nos cursos de pós graduação e graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, no semestre de 2025.1.
Objetivos
Tivemos como objetivos: promover espaço de acolhimento e de afeto para estudantes; compartilhar e apresentar literaturas de autores negros/as/es; desenvolver junto com os/as/es alunos/as/es momento cultural; realizar contação de histórias; apresentar e divulgar ações do coletivo Quilombo das Iyás.
Descrição da experiência
A atividade desenvolvida pelo coletivo Quilombo das Iyás Xica Manicongo e Iyagunã Dalzira, fez parte do acolhimento de estudantes de pós graduação e graduação no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, foram dois encontros de apresentação de obras científicas e literárias de autores negros/as/es para que os novos estudantes pudessem conhecer e/ou ampliar o conhecimento, além de proporcionar escuta acerca da percepção de fazer parte da universidade.
Resultados
Tivemos resultados imediatos, como o envolvimento dos estudantes que participaram das atividades, a promoção e divulgação de referenciais negros proporcionou que o público conhecesse essas literaturas. Assim como, houve manifestação de interesse e sensibilização entre os docentes com relação a aproximação com os diferentes autores apresentados. E resultados processuais como a solicitação das referências para inclusão em atividades de pesquisa.
Aprendizado e análise crítica
A cultura universitária historicamente privilegia conhecimentos eurocêntricos, produzindo epistemicídios. Nesse contexto, epistemologias afro-diaspóricas e africanas são por vezes marginalizadas no ambiente acadêmico e científico. Com as ações afirmativas, estudantes negros/as/es têm reivindicado a valorização dessas epistemologias. Saberes ancestrais de autores como Abdias Nascimento, Lélia Gonzalez, Milton Santos, etc., contribuem para construção de universidades plurais e democráticas.
Conclusões e/ou Recomendações
A atividade produziu efeitos profundos para a comunidade acadêmica, sobretudo para os novos discentes, grande parte negros. Estes tiveram a oportunidade logo no primeiro semestre em acessar fisicamente obras de intelectuais negros/as/es e africanos/as/es. Essa experiência contribui para o desenvolvimento de uma cultura antirracista no interior da universidade, no curso de Saúde Coletiva e pode ser replicada em outras instituições e cursos.
CRIAÇÃO DO COMITÊ TÉCNICO DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DE SAÚDE E EQUIDADE PARA A POPULAÇÃO NEGRA DE CANA VERDE – MG
Pôster Eletrônico
1 ESPE
2 UFSJ
Período de Realização
Reuniões do Comitê iniciaram em mar/25, com encontros quadrimestrais nos PSFs locais.
Objeto da experiência
Criar o Comitê de Equidade em Cana Verde/MG, articulando setores por políticas públicas antirracistas.
Objetivos
Mobilizar os setores do Comitê para ampliar a criticidade sobre o racismo, identificar a percepção da problemática no município e iniciar práticas que promovam a saúde da população negra, levando a discussão às escolas e fortalecendo a cultura de combate à discriminação racial.
Metodologia
Cana Verde/MG, com 5.275 habitantes, iniciou em março de 2025 a criação do Comitê de Equidade para a População Negra. As reuniões nos PSFs abordaram o contexto histórico e a política de equidade do SUS. Houve resistência, mas também reconhecimento da negligência. Discutiram-se questões como acesso à saúde e preenchimento de raça/cor no E-SUS. O Comitê foi formalizado com setores diversos, que propuseram ações culturais, educativas e de promoção da saúde.
Resultados
A criação do Comitê gerou incômodo inicial ao abordar racismo e privilégios, mas evoluiu para maior compreensão e engajamento. Cada setor mapeou problemas e propôs ações, como rodas de conversa, grupos com mulheres negras, eventos culturais e fortalecimento da população negra. Houve avanço no reconhecimento da importância do campo raça/cor no E-SUS, consolidando o Comitê como espaço intersetorial de promoção da equidade racial.
Análise Crítica
O incômodo inicial de alguns, sobretudo pessoas brancas, ao discutir racismo e privilégios foi superado com o avanço das reuniões, dando lugar à compreensão e ao engajamento. O processo evidenciou a importância da escuta e da formação para enfrentar resistências. A troca entre setores gerou iniciativas concretas contra a desigualdade racial.
Conclusões e/ou Recomendações
A criação do Comitê de Equidade em Cana Verde/MG marcou a implementação de políticas raciais. Apesar de resistências, o diálogo e a formação permitiram avanços. A experiência mostra que, com articulação e participação social, pequenas cidades podem promover mudanças. O Comitê tornou-se espaço legítimo de escuta e ação pela saúde e pelos direitos da população negra.
ESCREVIVÊNCIA COMO MÉTODO EM SAÚDE COLETIVA: A EXPERIÊNCIA DE UMA MERENDEIRA NEGRA
Pôster Eletrônico
1 Instituto de Saúde Coletiva/Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva/Universidade Federal de Mato Grosso
Período de Realização
De 29 de janeiro de 2020 a 8 de março de 2024.
Objeto da experiência
A escrevivência, conceito criado por Conceição Evaristo, como forma de conhecimento e método no campo da Saúde Coletiva.
Objetivos
Refletir sobre a escrevivência como prática metodológica na saúde coletiva, valorizando o saber da experiência de uma mulher negra merendeira visando dar voz às vivências invisibilizadas de pessoas que historicamente foram silenciadas.
Metodologia
Exerci o trabalho de merendeira durante 4 anos e isso me mostrou o impacto do trabalho invisível na saúde do corpo negro. Estar nessa função enquanto mulher negra me ajudou a compreender sobre o cansaço físico e mental imposto a quem exerce funções menos valorizadas socialmente, ocupadas majoritariamente pela população negra. Por meio de minha dissertação, proponho a Escrevivência de Conceição Evaristo para evidenciar o que vivi no trabalho de merendeira em unidades escolares municipais.
Resultados
A escrevivência revelou-se uma ferramenta potente para trazer à tona as experiências de adoecimento físico e emocional vivenciadas no trabalho de merendeira. Esse método ajuda a evidenciar como o corpo negro feminino carrega marcas do trabalho invisibilizado, exposto a riscos e negligenciado nas políticas de saúde. Trazer esse recorte para o campo da Saúde Coletiva é importante para reconhecer e valorizar os saberes populares e as práticas cotidianas como fontes legítimas de conhecimento.
Análise Crítica
A escrevivência como método valoriza o saber das mulheres negras. No presente relato trago a minha experiência enquanto merendeira em unidades escolares em uma capital brasileira. Utilizo a escrevivência enquanto método em minha dissertação de mestrado para visibilizar minha experiência através da escrita, isso reforça a importância de incorporar essas vozes na saúde coletiva, promovendo justiça social e ampliando o diálogo entre saberes populares e acadêmicos.
Conclusões e/ou Recomendações
A escrevivência ajuda a mostrar que o saber produzido no cotidiano é legítimo e potente, em especial para a população negra. Possibilitando a ressignificação da dor e do silêncio, este método rompe com a neutralidade científica e propõe uma escuta comprometida com a justiça social e o cuidado integral na saúde coletiva.
IMPLANTAÇÃO DA PORTARIA 141/2024 NO SUS RECIFE: DIRETRIZES ANTIDISCRIMINATÓRIAS PARA POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE.
Pôster Eletrônico
1 IMIP/PE
2 SESAU/RECIFE
3 SEAB/Recife
4 SESAU/ Recife
Período de Realização
Março a Outubro de 2024
Objeto da experiência
Implantação da Portaria 141/2024 no SUS Recife, estabelecendo diretrizes antidiscriminatórias para Políticas Públicas de Saúde na cidade de Recife.
Objetivos
A experiência tem como objetivo implantar a Portaria nº 141/2024 no SUS Recife, estabelecendo diretrizes antidiscriminatórias para garantir equidade no atendimento e combater discriminações na rede municipal de saúde.
Metodologia
Evidências epidemiológicas demonstraram disparidades no acesso à saúde por grupos vulneráveis, fundamentadas nesses dados, as diretrizes antidiscriminatórias foram elaboradas com participação social, revisão técnica e aprovadas pelo Conselho Municipal de Saúde. Publicadas em outubro/2024, estabelecem protocolos antidiscriminatórios, formação em equidade e monitoramento de violências institucionais, alinhando políticas públicas às necessidades sociais.
Resultados
A implantação de diretrizes antidiscriminatórias no SUS Recife trouxe avanços na equidade em saúde, como melhor acolhimento a vulneráveis, qualificação de dados raciais, e redução de barreiras institucionais via educação permanente. Fortaleceram-se políticas transversais, como notificação de doença falciforme e indicadores desagregados por raça, gênero e deficiência. A articulação com movimentos sociais ampliaram a participação comunitária, consolidando um SUS mais inclusivo.
Análise Crítica
A Portaria 141/2024 no SUS Recife mostrou que políticas interseccionais reduzem iniquidades em saúde, com educação permanente, dados desagregados e participação social. A institucionalização exige monitoramento contínuo, formação permanente, supera resistências e articula-se com movimentos sociais para fortalecer ações. Entre os desafios: sustentabilidade frente a mudanças e ampliação de recursos, mostrando que equidade requer compromisso estrutural, não só medidas pontuais.
Conclusões e/ou Recomendações
A notório que políticas interseccionais são eficazes para promover equidade no SUS. A inclusão de dados desagregados, educação permanente e participação social são estratégias chave. Recomenda-se: ampliar o orçamento para ações afirmativas; institucionalizar a educação permanente em direitos humanos; fortalecer parcerias com universidades e movimentos sociais para monitoramento. A sustentabilidade exige a integração com outras políticas públicas.
PROJETO LIVROS COLORIDOS: LETRAMENTO RACIAL NA ROTINA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES INTERNADOS/AS.
Pôster Eletrônico
1 HFB/GHC
Período de Realização
dezembro de 2023 e novembro de 2024.
Objeto da experiência
Distribuição de livros afrocentrados, sobre interceccionalidades e diversidades para crianças e adolescentes internados/as no HFB/GHC.
Objetivos
Contribuir com o letramento racial, de gênero, classe e diversidade humana entre crianças e adolescentes internados/as no HFB/GHC. Como também, sensibilizar a comunidade hospitalar, famílias e territórios quanto às temáticas abordadas.
Descrição da experiência
Trata-se de uma ação de arrecadação de livros novos ou usados para serem distribuídos a crianças e adolescentes internados/as na pediatria do HFB/GHC. Os livros infanto-juvenis devem abordar as temáticas étnico raciais, de classe, de gênero e de diversidade humana. A entrega de 2023 foi feita por personagens negras como a general Okoye e a Princesa Tiana e, em 2024, foi realizado o Sarau Literário Livros Coloridos com a presença de autoras de livros infantis afrocentrados.
Resultados
Duzentas crianças e/ou adolescentes e suas famílias e territórios receberam livros coloridos. Letramento dos/as doadores/as que notaram não possuir livros com essas temáticas. Dois eventos anuais de distribuição que impactaram a comunidade hospitalar trazendo a diversidade para o protagonismo no cenário institucional. Crianças e adolescentes com grande interesse e alegria ao receberem os livros, sempre com encantamento e às vezes surpresa por se verem ali representadas.
Aprendizado e análise crítica
Valorização da auto-estima de crianças e adolescentes pretos/as, LGBTQIA+, em vulnerabilidade social, meninas, com deficiência/s, cronicamente adoecidas, migrantes e neurodivergentes. A potência de promover o protagonismo negro através da literatura, de despertar consciências, de ter livros coloridos circulando pelo hospital, viajando junto com as crianças, adolescentes e seus familiares até os seus domicílios e territórios, é uma das grandes ambições desse projeto.
Conclusões e/ou Recomendações
Importante investir nas estratégias de arrecadação e organizar o evento de distribuição de forma a dar visibilidade institucional ao projeto espraiando seu impacto. Em 2025, a Gerência de Participação Social e Diversidade irá ampliar o público-alvo incluindo pessoas de todas as faixas etárias. Esta será uma das ações do Novembro Negro 2025 no HFB/GHC.
RELATO DE EXPERIÊNCIA: OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA E LEITURA COMPARTILHADA COMO RESSIGNIFICAÇÃO DA SUBJETIVIDADE NEGRA E FEMININA
Pôster Eletrônico
1 UNIFESP
Período de Realização
A oficina ocorreu quinzenalmente, no período de 5 de outubro a 7 de dezembro de 2023.
Objeto da experiência
Trata-se de uma oficina de escrita criativa e leitura compartilhada destinada a mulheres cis e trans negras da comunidade acadêmica da Unifesp.
Objetivos
Ressignificar experiências de mulheres cis e trans negras a partir de referencial afrocentrado (Sueli Carneiro, Saidiya Hartman, Bianca Santana), por meio de fabulação crítica; produção de textos com os princípios da escrita criativa; e prática de leitura compartilhada de materiais autobiográficos.
Descrição da experiência
A abertura teve participação da filha de Carolina Maria de Jesus, despertando interesse sobre autoria negra ficcional ou não. A oficina teve 10 encontros, que seguiram a estrutura: dinâmica de acolhimento com recursos artísticos, exercício de escrita criativa, exposição dialogada sobre os princípios da escrita criativa, leitura compartilhada e dinâmica de encerramento. Os temas abordaram momentos de experiência das mulheres: infância, religiosidades, velhice, erotismo e gozo e afrofuturismo.
Resultados
Concluíram a oficina um total de 18 mulheres, entre graduandas, pós-graduandas, egressas e servidoras. A oficina possibilitou que mulheres negras da comunidade Unifesp vivenciassem um espaço de trocas, fortalecimento de vínculos e de aprendizado. A maior parte dos participantes pertenciam as categorias de servidora pública federal e discente, o que nos leva evidenciar o racismo institucional e estrutural na composição do corpo docente, haja vista que, a autodeclaração racial era pré-requisito.
Aprendizado e análise crítica
A criação de um ambiente acolhedor, de escuta e de fala é imprescindível para possibilitar a motivação para escrever sem julgamentos. Além disso, nota-se ser fundamental propor exercícios em que as participantes sejam capazes de refletir sobre suas experiências, mas que também sejam capazes de formular outras histórias, ao que se denomina fabulação crítica. Portanto, o maior desafio foi equilibrar as referências entre ficção e não ficção.
Conclusões e/ou Recomendações
A criação de espaços de encontro para mulheres negras dentro da universidade é uma relevante estratégia para o fomento de percepção de pertencimento. A escrita criativa assim como a fabulação crítica de mundos contribui decisivamente para uma nova subjetivação do ser negro e feminino.
A CRIAÇÃO E OS PROCESSOS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES 141/2024 DE 17 DE DE SETEMBRO DE 2024 NA CIDADE DO RECIFE
Pôster Eletrônico
1 Secretaria de Saúde
2 Secretaria de saúde
Período de Realização
Construção da minuta desta portaria começa em março de 2024 e é publicada em outubro do mesmo ano.
Objeto da experiência
O objeto deste trabalho é o relato de experiência e o processo de criação e implantação da Portaria Nº 141 de 2024 na cidade do Recife
Objetivos
O objetivo deste relato de experiência é demonstrar como as necessidades em saúde das populações regulam a organização da gestão em relação às políticas para populações mais vulnerabilizadas, neste caso a população negra, pessoas com deficiência e LGBTQIAPN+ e a população em situação de rua.
Metodologia
A experiência refere-se ao processo de implantação das diretrizes antirracistas, anticapacicistas e antiLGBTQIAPN+ fóbicas através da denominada portaria. As formações para implementação da portaria envolveram primeiramente as equipes da gestão da Secretaria de Saúde e segue para as formações nos Distritos Sanitários e profissionais da ponta na saúde. Assim, a portaria reafirma a necessidade municipal de construção de rede de saúde antidiscriminatória.
Resultados
Os resultados mostram que o acesso à saúde das pessoas negras, com deficiência, pessoas em situação de rua e pessoas LGBTQIAPN+ são dificultados pelo processo de desigualdade no acesso à saúde devido a estigmas e preconceitos estruturais relacionados a essas populações que envolvem o racismo, o capacitismo e a LGBTQIAPN+fobia. Apesar da constituição em seu artigo 196 defender o acesso equânime à saúde, esses sujeitos ainda sofrem iniquidades referentes aos seus processos de vulnerabilização.
Análise Crítica
O processo de determinações sociais demonstram uma noção de saúde que envolve um sujeito com garantias e diversos acessos da vida para que possa produzir saúde. O que a necessidade da escrita da portaria demonstrou é que em Recife a população negra, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e a população em situação de rua necessitam de elaboração de linhas de cuidado fomentando o enfrentamento as iniquidades e desigualdades.
Conclusões e/ou Recomendações
Conclui-se que a portaria serve para apontar as iniquidades em saúde e assim oferecer caminhos para as populações mais vulnerabilizadas. Dessa forma, o processo pelo qual esses sujeitos poderão ter acesso mais equânime à saúde depende do papel das diretrizes que através de processos formativos diminuam as desigualdades em saúde perpetradas pelo preconceito estrutural inserido nos processos de saúde e de seus determinantes sociais.
ELASUS - EQUIDADE NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E VALORIZAÇÃO DAS TRABALHADORAS DA SAÚDE
Pôster Eletrônico
1 UnB
Período de Realização
Janeiro de 2024 a Dezembro de 2025
Objeto da experiência
Reflexões acerca das reproduções das iniquidades de gênero e raça para trabalhadoras do Sistema Único de Saúde no Brasil
Objetivos
Analisar normativas para equidade de gênero e raça para trabalhadoras da saúde, identificar desafios e reservas de alternativas presentes na vida profissional de mulheres que atuam no SUS, estabelecer espaços informativos; recomendar ações para valorização e qualidade de vida no trabalho.
Descrição da experiência
O projeto, em execução, desenvolve curso autoinstrucional sobre interseccionalidades, interculturalidade e deficiências no trabalho em saúde, pesquisa nacional com mulheres mães que atuam na APS e gestoras em cargos comissionados e de confiança do SUS, perfil no instagram com objetivo criar um espaço informativo para enfrentamento das iniquidades de gênero, raça e etnia no trabalho em saúde e o projeto de extensão Cartas para Elas com trabalhadoras de 5 cidades brasileiras.
Resultados
O projeto inclui uma tese de doutorado, uma dissertação de mestrado, 3 TCCs, 4 pesquisas de iniciação científica, um projeto de extensão e disciplinas na graduação e pós-graduação. Além da criação do perfil @elasus.unb no Instagram, um curso de extensão com 1.500 vagas para profissionais do SUS e a elaboração de cartas coletivas sobre as vivências das mulheres no SUS, fortalecendo a discussão sobre as iniquidades de gênero, raça, etnia e deficiências no trabalho em saúde, em 5 cidades brasileiras.
Aprendizado e análise crítica
O projeto promoveu potente integração entre ensino, pesquisa e extensão. As revisões de literatura revelaram escassa produção acadêmica sobre algumas das temáticas investigadas. As disciplinas demonstraram a carência de abordagem desses conteúdos nos currículos de graduação e pós-graduação. Já as ações extensionistas possibilitaram diálogo direto com trabalhadoras da saúde, sistematizando experiências e apontando caminhos para valorização profissional e qualidade de vida no trabalho.
Conclusões e/ou Recomendações
Embora constituam 70% da força de trabalho em saúde, as mulheres do SUS permanecem em cenário de iniquidades de gênero, raça e etnia. O projeto ElaSUS, articulado à política nacional do Ministério da Saúde, evidencia caminhos para superação dessas disparidades na formação e prática profissional. Urge fortalecer as dimensões de pesquisa, ensino e extensão sobre essa agenda estratégica para o SUS.
RELATO DE EXPERIÊNCIA: REDES SOCIAIS COMO INSTRUMENTO DE ENFRENTAMENTO DAS OPRESSÕES EM SAÚDE E PROMOÇÃO DA VISIBILIDADE E RESISTÊNCIA
Pôster Eletrônico
1 Universidade Federal de Catalão - UFCAT
Período de Realização
De outubro de 2024 a junho de 2025, com postagens semanais na rede social Instagram®.
Objeto da experiência
Promoção da equidade pelo uso do Instagram® no Grupo 2 - Minorias e Interseccionalidades (GT2), do Programa de Aprendizagem Tutorial (PET) da UFCAT.
Objetivos
Relatar a experiência na atuação midiática pelo GT2 utilizando o Instagram® como espaço de registro das atividades e promoção de saúde, enfrentamento a discriminação, o preconceito e outras formas de exclusão e/ou silenciamento.
Descrição da experiência
A estratégia utilizou o Instagram® como espaço de comunicação/mobilização social, as postagens problematizaram diferentes formas de discriminação, utilizando formatos diversos como postagens no feed, lives e stories. Foram 47 publicações (42 cards e 5 vídeos), realizadas por integrantes do GT2, PET-Saúde:Equidade. Os conteúdos foram fundamentados em referenciais diversos como MS e autores da interseccionalidade, buscando visibilizar temáticas negligenciadas como população negra e LGBTQIAP+.
Resultados
No uso da rede, através da análise dos dados da seção “insights” e a aba de ferramentas da página, seguida da categorização para interpretação, se pode evidenciar um maior engajamento nas seguintes temáticas (por visualizações): saúde mental, violência contra pessoas LGBTQIAPN+, pessoas neurodivergentes, câncer do colo de útero, câncer de próstata, interseccionalidade: racismo, LGBTfobia e povos originários, desenvolvimento da criança e prevenção ao HIV/AIDS.
Aprendizado e análise crítica
Utilizamos o Instagram® pelo agrupamento temático e potencial educativo interativo de comunicação contemporânea. A interseccionalidade permitiu criticidade política para compreensão da subalternização de identidades pelo gênero, classe, raça, aos quais podem ser agravados pela visão epistemológica do Norte Global ao ignorar as formas plurais de conhecimento, para tanto a “ecologia de saberes” propõe uma perspectiva pluralista do conhecimento resistente a dominação epistemológica.
Conclusões e/ou Recomendações
O Instagram® pode ser um dispositivo de resistência e visibilidade, que na saúde favorece o aprendizado e combate a desinformação, desde que usado com intencionalidade crítica. Recomenda-se a incorporação estratégica na educação, com base em saberes e narrativas plurais e desconstrução da normatividade hegemônica. É essencial garantir a participação de sujeitos historicamente oprimidos na produção de conteúdos e nas decisões em saúde pública.
A IMPORTÂNCIA DO QUESITO RAÇA/COR/ETNIA E O COMBATE AO RACISMO.
Pôster Eletrônico
1 Universidade de Pernambuco (UPE)
Período de Realização
O período de realização foi em maio de 2025.
Objeto da experiência
A experiência foi uma ação de diálogo e panfletagem, desenvolvida por residentes, em saúde coletiva, da universidade de pernambuco em Recife.
Objetivos
A ação teve como objetivo informar a população local sobre temas como: racismo, autodeclaração e a importância da mesma.
Descrição da experiência
O público alvo foi a população no entorno externo do Hospital Oswaldo Cruz. De início foram empregadas algumas perguntas, como forma de questões norteadoras sobre o assunto a ser apresentado, garantindo um primeiro contato com o público, para depois se fazer a entrega do panfleto e por fim fazer o questionamento de como a pessoa se autodeclarava no quesito raça/cor/etnia.
Resultados
Após a ação, o grupo que elaborou a mesma se reuniu em roda de conversa para debater como foi a experiência. Constatou-se que a população ainda apresenta dificuldades em realizar a autodeclaração conforme os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e também ainda não entendem a importância e relevância, para o Sistema Único de Saúde (SUS), da obtenção desse dado de preenchimento pelos serviços de saúde.
Aprendizado e análise crítica
Fazendo uma análise crítica dessa ação empregada podemos perceber que os problemas em relação a subnotificação do quesito raça/cor/etnia são bem abrangentes, passando pelo racismo em seus vários tipos, além do desconhecimento da população sobre: como se autodeclarar, segundo o padrão adotado pelo IBGE; a importância da autodeclaração e sua obrigatoriedade em serviços de saúde presentes no SUS.
Conclusões e/ou Recomendações
Muitos esforços ainda precisam ser empregados para que a autodeclaração seja realizada no SUS de maneira satisfatória e consciente, por parte dos profissionais e população. Então a recomendação é trabalhar mais essa temática, para os diversos públicos, como enfrentamento ao racismo e tendo como finalidade fazer esse dado, de preenchimento obrigatório, ganhar relevância para garantir políticas públicas mais eficientes e democráticas.
“FALA, NEGRA!” - RODA DE MULHERES NEGRAS : OS USOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA COMO COMPROMISSO COM A JUSTIÇA RACIAL
Pôster Eletrônico
1 UERJ
2 SMS-RJ
Período de Realização
O grupo “Fala, Negra!” Foi criado em novembro de 2024, com encontros quinzenais, desde então.
Objeto da experiência
Realização de um grupo mulheres negras, usuárias e funcionárias de uma clínica da família enquanto estratégia de cuidado coletivo e construção de vínculos.
Objetivos
Promover um espaço seguro e de escuta, acolhimento e troca entre mulheres negras, fortalecendo identidades, rede de apoio e autonomia, além de discutir impactos do racismo na saúde para além do modelo biomédico e da lógica da branquitude.
Descrição da experiência
Os encontros são organizados pelas duas facilitadoras, uma médica residente de medicina de família e comunidade e uma enfermeira da saúde da família, ambas mulheres autodeclaradas negras. Em média, participam do grupo 8 a 10 mulheres. Os temas são escolhidos conforme a dinâmica do grupo. Pode-se partir de uma mídia facilitadora, como filmes ou músicas, trechos de livros ou poemas ou partir a partir do relato das participantes sobre o que o grupo anterior reverberou.
Resultados
Participantes relatam que: o grupo as estimularam a priorizar autocuidado; se tornou um lugar seguro para desabafar e falar sobre assuntos complexos e dolorosos; proporciona reflexões sobre identidade racial, pertencimento e racismo que nunca tinham sido vivenciadas anteriormente. Como desdobramentos das rodas, verificamos ações como busca por terapia, fortalecimento de rede de apoio entre participantes do grupo e maior autocuidado individual.
Aprendizado e análise crítica
O grupo busca responder a fragmentação do cuidado no cenário da atenção básica, além de possibilitar novos desenhos para prática de saúde fora do espaço do consultório médico, verticalizado e tecnicista. A metodologia busca respeitar os saberes, práticas e relatos de cada participante e utiliza esse recurso como ponto de partida. No entanto, existem desafios, como falta de espaço físico, engajamento constante da equipe e sustentabilidade da proposta diante da alta rotatividade de profissionais.
Conclusões e/ou Recomendações
A realização do grupo entre mulheres negras demonstra o potencial da atenção primária como um espaço de promoção de saúde e cuidado baseado em equidade, justiça racial e anticolonial. O fortalecimento de iniciativas similares torna-se, portanto, essencial nesse cenário, e exige investimento em formação crítica dos profissionais e reconhecimento institucional das práticas de cuidado produzidas no território.
CORPOS QUE SE ESCUTAM: A EXPERIÊNCIA DE UMA MULHER QUE CUIDA DE OUTRAS NO CONTEXTO DA SAÚDE INDÍGENA
Pôster Eletrônico
1 Fiocruz Ceará
2
3 FIOCRUZ CEARÁ
Período de Realização
Este trabalho narra uma experiência profissional que vem sendo construída desde janeiro de 2023.
Objeto da experiência
Construção de um grupo de indígenas mulheres na Taba Anacé em Caucaia/CE enquanto profissional do Núcleo Ampliado de Saúde Indígena (NASI).
Objetivos
Descrever a experiência como mulher e psicóloga enquanto facilitadora do cuidado em saúde mental a partir da criação de um espaço de fala, escuta fortalecimento e elaboração do sofrimento experienciado por indígenas mulheres da Taba Anacé.
Descrição da experiência
Os encontros utilizam além da oralidade, expressões artísticas como desenho, bordado, pintura e colagem. As narrativas compõem um campo de análise que respeita suas subjetividades e contribui para a construção de práticas de cuidado integradas, afetivas e territorializadas no campo da saúde coletiva.
Resultados
A experiência revela como os determinantes sociais e territoriais impactam no adoecimento psíquico e como a construção de espaços comunitários de fala e memória pode ser estratégia de promoção da saúde. Nos encontros, emergiram narrativas sobre perdas territoriais, experiências de racismo, violências e práticas espirituais. A escuta coletiva tornou-se instrumento de ressignificação do sofrimento, fortalecendo o sentimento de pertencimento, a identidade étnica e os laços de solidariedade.
Aprendizado e análise crítica
Como mulher que cuida de outras mulheres, reconheço as marcas da mesma lógica patriarcal que silencia nossos corpos e vozes. Essa experiência compartilhada me aproxima das dores e resistências que as atravessam e me permite, junto a elas, mergulhar no que é ancestral em mim. A escuta coletiva torna-se, mais que um dispositivo terapêutico: é um território de cura, onde se constroem práticas de cuidado enraizadas na coletividade, na ancestralidade e na sabedoria encarnada em nossos corpos-memória.
Conclusões e/ou Recomendações
A experiência aponta que o cuidado em saúde coletiva com povos indígenas deve considerar os determinantes históricos, sociais e territoriais do sofrimento. A escuta sensível torna-se também ato político de reparação e dignidade. O grupo se afirma como território de reexistência, onde o cuidado não se separa do pertencimento e da luta por dignidade.
MULHERES NEGRAS E OS ENREDOS DE PRECARIZAÇÃO EM ESPAÇOS DE EXCLUSÃO: SITUAÇÃO DE RUA, CÁRCERE E TERRITÓRIOS DE FAVELAS.
Pôster Eletrônico
1 ENSP/FIOCRUZ
2 FIOCRUZ
3 ICICT/FIOCRUZ
4 UNISUAM
5 INI/FIOCRUZ
Período de Realização
O projeto de pesquisa tem realização prevista para o período de abril/2024 a março/2027.
Objeto da experiência
Saúde de mulheres negras que experienciam espaços de exclusão: situação de rua, cárcere e territórios de favelas, na cidade do Rio de Janeiro.
Objetivos
Analisar, denunciar e visibilizar as dinâmicas de vulnerabilização da saúde de mulheres negras residentes de favelas, em situação de rua e com a vivência do cárcere, bem como contribuir na construção de espaços e estratégias de resistência compartilhada, acolhimento terapêutico e qualificação.
Descrição da experiência
Enquanto pesquisadoras negras, com um olhar comprometido com a realidade a partir do lugar das subalternizadas pelas dinâmicas colonial, patriarcal e capitalista, nos dedicamos às questões impostas pelo racismo, como sistema de poder promotor da violação de direitos. O trabalho conta com a participação de mulheres negras envolvidas em coletivas e instituições de defesa de seus direitos, sendo elas residentes do território de favelas; em situação de rua; privadas de liberdade; ativistas e acadêmicas.
Resultados
Esperamos ampliar a visibilidade sobre o racismo anti-negro genderizado às comunidades acadêmico-epistêmica, governamental e sociedade. Para além do apoio às estratégias coletivas de re-existência, buscamos analisar o lugar da mulher negra em programas e políticas, com vistas a pressionar pela inclusão dessas na agenda pública. Consideramos a saúde sob a perspectiva racializada, cuja elaboração coletiva é parte de um aquilombamento transformador da vida da mulher negra.
Aprendizado e análise crítica
A contribuição da pesquisa se ancora no compartilhamento do saber - em perspectiva emancipatória, contrária à matriz da colonialidade do poder, do saber e de gênero (Quijano, 2010; Lugones, 2014) - fundamentado numa relação dialógica, produtora de confluências de saberes capazes de produzir transformações, como nos ensina Nego Bispo, a partir da noção de contra-colonialidade. Nosso olhar está voltado para políticas de saúde de base territorial, destinadas às populações historicamente vulnerabilizadas.
Conclusões e/ou Recomendações
Uma sociedade fundamentada na colonialidade, escravismo, patriarcalismo produz lugares de mundo assimetrizados segundo raça, classe e gênero (Gonzalez, 1988), tendo nas condições de vida e saúde da mulher negra inegáveis exemplos desse perverso construto social. É urgente que a mulher negra ocupe lugar significativo na agenda de políticas sociais. O reconhecimento das dinâmicas estruturais de vulnerabilização é um passo importante nesse caminho.
NÃO SE PREOCUPE, ESSA NÃO É A SUA VIDA: UMA CARTA COLETIVA
Pôster Eletrônico
1 UFSC
Período de Realização
A carta foi escrita no mês de maio de 2025, com narrativas compartilhadas desde setembro de 2024.
Objeto da produção
A carta foi escrita de maneira coletiva baseando-se em narrativas sobre permanência compartilhadas dentro do Coletivo de Discentes do PPGSC/UFSC.
Objetivos
Buscou-se visibilizar realidades sociais dos pós-graduandos em Saúde Coletiva dentro do debate da permanência estudantil. Busca sensibilizar a comunidade acadêmica para a mudança de perfil dos pós-graduandos e as diversas complexidades que atravessam para permanecer e concluir os cursos.
Descrição da produção
A carta foi disparada pelo curta documental “Essa não é a sua vida” de Jorge Furtado, exibido na aula de abordagens antropológicas na saúde, do professor Daniel Granada. Através do mergulho na vida de uma pessoa comum, o curta contrapõe a redução da complexidade das pessoas na lógica capitalista. A carta reuniu relatos compartilhados em reuniões do Coletivo onde a pauta permanência foi debatida, a problemática esteve presente de maneira transversal na agenda das ações do grupo desde o início.
Resultados
O Coletivo surge pela articulação política de pós-graduandos em 2024, na busca de construir um espaço acadêmico mais acolhedor considerando nossos saberes e realidades. Na comissão pedagógica propomos vivenciar a produção acadêmica vinculada a valores como solidariedade, colaboração e outras linguagens. Ressignificamos a escrita como ferramenta libertadora para narrar nossas vivências já que permanecer não é só ter acesso a bolsas, mas ser ouvido e reconhecido em nossas realidades.
Análise crítica da produção
A atuação do coletivo, composto majoritariamente por cotistas, LGBT+, negros, mulheres e mães, evidencia os desafios de grupos minorizados no espaço acadêmico, onde a colonialidade e a branquitude sustentam dinâmicas excludentes e desnuda desigualdades estruturais, questionando a própria noção de meritocracia. A academia, ao negligenciar interseccionalidades, impede a inclusão real, transformando a permanência em resistência e evidenciando a urgência de mudanças estruturais.
Considerações finais
Permanecer é resistir àquilo que está historicamente nas estruturas sociais. O coletivo busca uma visão afetuosa, de que vagas abertas não são apenas números de uma estatística, mas histórias e trajetórias de vida. A construção de um coletivo de discentes é, também, uma forma de permanecer. É um espaço de acolhimento e construção de uma saúde coletiva que dialogue com as diversas formas de existir valorizando, e não hierarquizando, as diferenças.
PARA UM ENSINO ETNOGRÁFICO E DECOLONIAL SOBRE A APS
Pôster Eletrônico
1 UPE/FIOCRUZ-PE
2 FIOCRUZ-PE
Período de Realização
Março/2025 a Dezembro/2026
Objeto da produção
Material didático para um ensino etnográfico e decolonial na APS, em formato de cartilha digital e infográfico
Objetivos
Objetivo Geral:
Contribuir para uma educação permanente decolonial, interseccional e etnográfico sobre a APS
Objetivos Específicos
Destacar a relevância da educação permanente da APS na atualidade
Conceituar marcadores sociais da saúde e o método etnográfico, desde uma perspectiva decolonial e interseccional
Descrição da produção
Seja nas orientações de pesquisa e em sala de aula, as dificuldades para a porta de entrada à saúde no Brasil, têm sido pouco refletidas a partir dos marcadores sociais da diferença e da etnografia. O intuito é discutir uma educação permanente da APS assentada na interseccionalidade dos marcadores sociais da saúde e em orientações metodológicas de pesquisa etnográficas que possibilitam compreender práticas e itinerários de cuidado, contribuindo para uma formação profissional na saúde
Resultados
Espera-se que este material didático contribua para uma educação permanente da APS que valorize um olhar interseccional e decolonial. A expectativa é questionar a prevalência da análise majoritariamente quantitativa sobre a APS, minimizando os impactos da intersecção entre marcadores sociais da saúde, estes visíveis ao incorporar orientações de metodologias qualitativas, como a etnográfica. Fortalecer também a relação entre a APS e o propósito desta nas práticas e nos itinerários de cuidado.
Análise crítica e impactos da produção
O Material didático parte da vivência coletiva enquanto docente no PPGSP/FIOCRUZ-PE. A construção coletiva aqui ocorre dentro do Laboratório de Pesquisa sobre Vulnerabilidades Sociais e das orientações de pesquisa em curso. Ao fim desse processo de construção do material didático, utilizará o mesmo na oferta da disciplina "Sociologia da Saúde" a ser oferecida na FIOCRUZ-PE em 2026.2.
Considerações finais
Por fim, esperamos contribuir para uma educação permanente da APS que traga os marcadores sociais da saúde e o olhar etnográfico enquanto ferramentas de apoio para a formação profissional e o desenvolvimento de pesquisas.
O TAMBOR DE IBEJI ECOA AFASTANDO A MORTE DAS TERRAS DO HOSPITAL FEDERAL DE BONSUCESSO/GHC
Pôster Eletrônico
1 HFB/GHC
Período de Realização
Meses de abril, maio e junho de 2025
Objeto da produção
Produção de jornal com tiragem mensal como ferramenta de educação antirracista e decolonial na saúde.
Objetivos
Promover educação decolonial e antirracista em saúde visando o letramento étnico racial e em questões de gênero, de classe e diversidade humana, tornando-se um veículo consolidado no contexto hospitalar como uma das estratégias da gestão para institucionalização da política de igualdade racial.
Descrição da produção
A Gerência de Participação Social e Diversidade escolhe temas e elabora o conteúdo (povos indígenas, racismo, maternidades, denúncia contra racismo e homofobia, doença falciforme, doação de sangue e cuidado com a pele negra). Em seguida, passa para o setor de Assessoria de Comunicação Social que faz a edição de arte, diagramação, revisão e impressão. Na última fase, é impressa uma versão para revisão dos dois setores, após a correção, é gerada a versão final que será impressa e distribuída.
Resultados
Mil e quinhentos exemplares foram distribuídos neste trimestre. E mais de mil e quinhentas pessoas foram atingidas pelo jornal. Os exemplares são disponibilizados em locais estratégicos como ambulatórios, salas de espera e murais, ampliando o número de pessoas impactadas. A estética é coerente com a proposta da diversidade, compondo o jornal com imagens de pessoas negras, indígenas e símbolos LGBTQIAPN+ o que gera identificação e boa aceitação dos/as usuários/as e trabalhadores/as.
Análise crítica e impactos da produção
O jornal tem se estabelecido como rotina no contexto institucional. A concentração do conteúdo das campanhas num único veículo é estratégico. O jornal vem convocar a população ao movimento da leitura, num compasso mais lento que de um “reels” e num tamanho maior que um folder. O som que Tambor de Ibeji emite é para todos os lados. Usuários/as e trabalhadores/as ao ler/ver, entendem que há uma cultura institucional que está na direção das maiorias histórica e politicamente minorizadas.
Considerações finais
No momento da distribuição a receptividade é visível. As pessoas gostam de ter em mãos algo tão bonito e interessante para ler. A receptividade aos temas também foi boa, tendo em vista que ouvimos depoimentos do tipo: “Esse assunto é importante! ”. Foi necessário aumentar a tiragem, devido ao aumento da demanda. E a previsão é de que no próximo ano, o intervalo de tiragem diminua, tornando-se quinzenal.
DECOLONIZANDO OS ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO RIO GRANDE DO SUL: EXPERIÊNCIA DO APOIO ESTRATÉGICO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA PNSIPN
Pôster Eletrônico
1 Ministério da Saúde
2 Fiocruz
3 Secretaria Estadual de Saúde RS
4 Secretaria Estadual de Saúde
Período de Realização
Junho de 2025
Objeto da experiência
Educação permanente em saúde no Rio Grande do Sul, visando descolonizar o cuidado e promover um olhar consciente sobre a diversidade étnico racial.
Objetivos
Fortalecer a implementação da PNSIPN por meio da Educação Permanente em Saúde, promovendo espaços de formação crítica sobre racismo, saúde e decolonialidade. Apontando impactos históricos e estruturais do racismo na saúde da população negra e fomentar reflexões sobre práticas antirracistas.
Descrição da experiência
A experiência integra as ações do Apoio Estratégico do Ministério da Saúde à implementação da PNSIPN no estado do Rio Grande do Sul. Analisando a oficina “Racismo, Estereótipos e Saúde”, para gestores e trabalhadores da saúde da SES RS. A atividade abordou o racismo como determinante social da saúde, por meio de uma perspectiva histórica, cultural e decolonial, provocando reflexões sobre estereótipos raciais presentes nas práticas institucionais e nos serviços do SUS.
Resultados
A oficina promoveu um espaço de escuta sensível e aprendizado mútuo entre os participantes, despertando percepções inéditas sobre os impactos do racismo institucional na gestão e na assistência à saúde. Diversos gestores relataram nunca ter vivenciado uma abordagem tão direta e crítica sobre o tema. Foi possível observar maior abertura para o debate racial e reconhecimento da importância de ações permanentes de formação em saúde com enfoque na equidade racial.
Aprendizado e análise crítica
A experiência revelou o quanto o racismo ainda é um tema negligenciado na formação em saúde. A abordagem decolonial evidenciou a potência da EPS como ferramenta para desnaturalizar práticas discriminatórias e construir sentidos compartilhados sobre equidade racial. Reconhecemos que o enfrentamento ao racismo institucional demanda continuidade, comprometimento político e metodologias participativas. A abordagem decolonial e a nomeação da branquitude são cruciais para a desconstrução do racismo.
Conclusões e/ou Recomendações
Recomenda-se que a abordagem antirracista seja estruturante nas estratégias de Educação Permanente em Saúde, articulada à implementação da PNSIPN em todos os níveis de gestão do SUS. É necessário garantir recursos, apoio técnico e metodologias que favoreçam o enfrentamento ao racismo estrutural e institucional. A experiência demonstrou que processos formativos com base decolonial ampliam o engajamento e o compromisso com a saúde da população negra.
DESAFIOS E ESTRATÉGIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA PNSIPN EM JUNDIAÍ: O PAPEL DO APOIO ESTRATÉGICO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.
Pôster Eletrônico
1 Ministério da Saúde
2 Prefeitura de Jundiaí/SP
Período de Realização
As articulações começaram em março de 2025, com atividade em 28/05 e acompanhamento atual.
Objeto da experiência
O objeto central foi o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, através do apoio estratégico do MS em Jundiaí.
Objetivos
Os objetivos foram discutir e fortalecer a PNSIPN em Jundiaí, abordando desafios como a ausência de ações no PMS e dificuldades relacionadas ao quesito raça/cor. Buscou-se planejar ações, enfrentar o racismo institucional, dar visibilidade e institucionalizar as iniciativas existentes.
Metodologia
A experiência começou com oficina em Brasília, em março de 2025, com participação de profissionais de Jundiaí. Seguiu com articulações online e culminou em encontro presencial em Jundiaí/SP, em maio, com palestra de Jéssyca Barcellos (MS) para profissionais de saúde e do movimento negro. Destacou-se a PNSIPN como política antirracista, a autodeclaração de raça/cor e ações para ampliar acesso e valorizar saberes populares.
Resultados
O encontro foi produtivo, com destaque para a necessidade de institucionalizar a PNSIPN no plano municipal. A gestão comprometeu-se a priorizar a pauta no planejamento 2026-2029, com apoio do MS. Pactuaram-se ações como criação de GT, oficinas, capacitação sobre autodeclaração, inclusão da política no plano, articulação com o movimento negro, espaços de acolhimento para profissionais negros, mapeamento populacional, análise de indicadores e resgate de projetos de letramento racial.
Análise Crítica
A análise apontou desafios na implementação da PNSIPN em Jundiaí, como a ausência da política no PMS, falhas na coleta de dados por raça/cor e resistência institucional ao tema. Faltam letramento e sensibilização racial, e o racismo estrutural se manifesta em vieses. Apesar dos compromissos, seguem os entraves: racismo institucional, coleta de dados e necessidade de equidade no SUS como princípio e não apenas igualdade.
Conclusões e/ou Recomendações
A atividade resultou em importantes encaminhamentos, o apoio do MS é crucial para fortalecer a PNSIPN. Apesar de ações já existentes, é urgente sua presença no PMS. Compromissos incluem criação do GT, capacitações e banners sobre o quesito raça/cor como estratégia. Destaca-se a articulação com o movimento negro e conselhos. O MS é essencial para dar visibilidade às ações e enfrentar os determinantes sociais. O MS seguirá no acompanhamento.
FORMAÇÃO MÉDICA COM ÊNFASE ÉTNICO-RACIAL: UNIVERSIDADE, POVOS TRADICIONAIS E ARTICULAÇÕES EXTENSIONISTAS.
Pôster Eletrônico
1 Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá/UNESA-IDOMED - Rio de Janeiro/RJ - Brasil
2 Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá/ UNESA-iDOMED - Rio de Janeiro/ RJ - Brasil
Período de Realização
A experiência ocorreu no primeiro semestre de 2025
Objeto da experiência
Disciplina de Saúde dos Povos Tradicionais que visa formar médicos com olhar antirracistas e anticoloniais.
Objetivos
Refletir sobre o racismo e as desigualdades causadas pela branquitude institucional na saúde, estimulando uma visão ética, cultural e política do papel do profissional na promoção da equidade.
Descrição da experiência
A disciplina Saúde dos Povos Tradicionais foi ofertada a estudantes de Medicina em 2025. As aulas combinaram exposições dialogadas, leituras e seminários sobre povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e ciganos. Um diferencial foi a articulação com uma comunidade quilombola, por meio de ação extensionista, que resultou na participação de uma liderança local em aula aberta sobre aspectos culturais, territoriais e de saúde da comunidade.
Resultados
A disciplina contribuiu para a formação crítica de estudantes de Medicina, ao ampliar a compreensão sobre contextos sociais, históricos e políticos que impactam a saúde dos povos tradicionais. Destaca-se a conscientização sobre o papel do médico como agente de transformação social, valorizando a escuta e os saberes tradicionais.
Aprendizado e análise crítica
A disciplina Saúde dos Povos Tradicionais destacou a importância de romper com a visão tecnicista hegemônica, dialogando com saberes tradicionais de povos marginalizados. O contato com práticas indígenas e quilombolas mostrou que saúde e doença são construções sociais, atravessadas por valores, crenças e relações de poder.
Conclusões e/ou Recomendações
É necessária a curricularização do debate sobre educação e saúde pública, abrangendo dimensões sociais, culturais, ambientais e espirituais, desafiando o modelo biomédico. O contato com práticas indígenas e quilombolas ampliou a compreensão de que saúde e doença são construções sociais. A formação médica deve incluir reflexão étnico-racial e saberes anticoloniais na perspectiva da saúde coletiva.
ALÉM DA DOR, A COR DA PERDA: O LUTO EM CRIANÇAS NEGRAS
Pôster Eletrônico
1 UFT
2 UFPA
Apresentação/Introdução
O conceito de luto, frequentemente associado ao processo doloroso de perda de um familiar, raramente aborda de forma teórica, as interfaces interseccionais que permeiam o luto. Apesar de, a vivência da perda na infância ser amplamente estudada, a interseccionalidade de fatores como raça, gênero e classe social permanecem pouco explorada.
Objetivos
Analisar a dimensão interseccional na expressão do luto em crianças negras no estado do Tocantins, por meio do uso da técnica projetiva do Desenho Estória e do Teste das Fábulas.
Metodologia
Realizou-se uma pesquisa de múltiplos estudos de caso fundamentado na pesquisa interseccional, na teoria psicanalítica winnicottiana e principalmente nas autoras negras Isildinha Nogueira e Regina Marques. Participaram do estudo, três crianças negras entre 8 e 11 anos, que vivenciaram a perda de familiares que exerciam função de cuidador, e foi realizado no estado do Tocantins, localizado na região Norte do Brasil. A coleta de dados incluiu entrevistas semiestruturadas com as responsáveis e a aplicação da técnica projetiva do Desenho-Estória com Tema e do Testes das Fábulas com as crianças.
Resultados
Para as crianças participantes da pesquisa, a morte de seus cuidadores, gerou uma ruptura abrupta em seus mundos conhecidos. Maria perdeu o tio que exercia a função de pai, Carolina presenciou a morte violenta de seu pai, e Pedro vivenciou perdas subsequentes de seu avô e de seu pai por adoecimento. A partir da escuta dessas crianças e suas mães, foi possível compreender que o ambiente, com contornos de uma estrutura racial de negação dos corpos e da cor da pele de pessoas negras, silenciosamente atuou como um obstáculo na elaboração do luto na infância dessas crianças, ampliando as dificuldades já inerentes à perda por falecimento.
Conclusões/Considerações
Por fim, na escuta de crianças negras enlutadas, como profissionais da psicologia, nosso dever ético-político é produzir um espaço potencial de brincar, criatividade e resistência contra o racismo e seus efeitos nos espaços de atendimento e nas instituições.
Realização: